Piauí terá inverno fraco em 2009

As chuvas foram fracas e pararam em abril e o feijão, o milho e o arroz plantados foram queimados pelo sol e a falta de água.

O lavrador José Ferreira dos Santos, de 68 anos, caminha dois quilômetros todos os dias ao meio-dia, enfrentando o sol forte e temperatura média de 36 graus, para almoçar e trazer um jantar, que era na sexta-feira, um prato de feijão com um ovo cozido, na casa de seu sobrinho, no povoado Formosa, na zona rural de Teresina.

Ele conta que está dependendo da alimentação que recebe na casa do sobrinho, que cuida do dinheiro de sua aposentadoria, porque neste ano sua lavoura, onde plantava milho, feijão e arroz em uma área de pouco mais de um hectare, fracassou por causa da seca.

– As chuvas foram fracas e pararam em abril e o feijão, o milho e o arroz que eu tinha plantado foram queimados pelo sol. O que eu colhi não deu para nada. Nos outros anos eu tinha arroz, feijão e milho para passar até dezembro e janeiro, mas agora nem isso – relata José Ferreira dos Santos, que não ficaria com toda produção porque planta em um terreno arrendado.

– Pago uma quarta do que eu colho – afirma Santos. Isso significa que se consegue colher cereais suficientes para encher três sacos de 60 quilos, um é entregue ao arrendatário, o dono do terreno.

O diretor da Federação dos Agricultores do Estado do Piauí (Fetag), Manoel Simão Reinaldo, afirmou que a situação de José Ferreira dos Santos, de vítima da seca, é também vivida por cerca de 200 mil piauienses por causa da estiagem que se estende há sete meses.

O governador Wellington Dias (PT) decretou situação de emergência em 160 municípios do semi-árido, onde a falta d´água é mais dramática, mas o governo federal homologou até agora a situação de emergência por causa da seca em 61 municípios piauienses. O Piauí possui 224 municípios.

Perdas na lavoura chegam a 70%

Reinaldo afirma que em dez municípios – João Costa, Coronel José Dias, Lagoa do Barro, Barra D´Alcântara, Nova Santa Rita, Morro Cabeça no Tempo, Curimatá, Júlio Lopes e Cristalândia e Bela Vista – não chove há sete meses.

No município de São Raimundo Nonato, em pleno sertão, há seis meses não caem chuvas significativas e o que se vê são grupos de mulheres, homens e crianças com tambores ou baldes de plástico nas cabeças ou em comboios de jumento, carregando barris de água conseguidos em cacimbas abertas no meio de barreiras e em grandes áreas sem vegetação ou cercadas por árvores secas.

As mulheres e crianças chegam por volta das 6h nos poços para aproveitar a melhor água e enfrentar o caminho de volta para casa com o sol mais brando, o que é difícil neste período.

– Em alguns municípios, as pessoas caminham até 12 quilômetros para encontrar água – declarou Manoel Simão Reinaldo.

O secretário de Defesa Civil do Piauí, Fernando Monteiro, disse que o governo do Estado está enviando carros-pipas para os municípios mais atingidos pela seca e o Exército vai atuar a distribuição de água.

– A seca ocorre no semi-árido. O que temos é de conviver sem que cause sofrimento à população – falou o governador Wellington Dias.

Ele quer que o sistema de distribuição de água por carros-pipas seja permanente para que abasteça as cisternas que algumas famílias têm na frente de suas casas.

Os prejuízos com a agricultura de subsistência ficaram em torno de 70% . O secretário de Desenvolvimento Rural Élcio Martins, afirmou que apesar da seca, o Piauí bater recorde de produção agrícola este ano com 1,5 milhão de toneladas de graus, mas puxado pelas colheitas de soja, que teve uma produção superior dos 700 mil toneladas, milho e arroz, cultivados nos Cerrados, dominados pela agricultura mecanizada e agricultores.

Ontem pela manhã, 20 meteorologistas de todo o Nordeste se reuniram em Teresina para discutir a previsão do clima nos próximos três meses e concluíram que ocorrerão chuvas em dezembro deste ano, janeiro e fevereiro de 2009, mas com maiores chances de ficarem abaixo do normal, apesar da análise dos campos atmosféricos e oceânicos globais mostrarem condição de neutralidade no oceano Pacífico tropical.

– Não temos nenhuma precisão de anormalidades como os fenômenos El Nino ou La Nina (de esfriamento das águas do Pacífico). No trimestre dezembro, janeiro e fevereiro de 2008-2009 as maiores probabilidades são de chuvas normais na maioria da região Nordeste e com chances do total pluviométrico ficar entre normal ou abaixo do normal do sul do Piauí e na Bahia como um todo. As chuvas não deverão ser homogêneas em toda a região –
afirmou o coordenador do Grupo de Cptec e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Christopher Cunningham.

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