Quebra de R$ 50 milhões na safra
Mesmo com as cheias, ele acredita que no Vale do Araranguá, serão colhidos, em média, 148 sacos por hectare.
Como dizem alguns produtores de arroz, “saber mesmo a quebra na safra só depois da colheita”. O período da ‘cortação’ ainda não começou na maioria das lavouras do Estado, mas já há estimativas de perda. Em se tratando de todas as regiões catarinenses, a previsão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro de 2008, após a enchente no Norte, era de uma colheita 8% menor.
Mas a realidade deve ser pior que a projeção, já que os dados foram divulgados antes da enxurrada no Sul. No início da semana, a Epagri de Araranguá fechou a previsão de perdas na rizicultura do município e de Maracajá: 20%. As lavouras com mais perdas fatalmente serão as localizadas próximas ao rio Araranguá e que ficaram encobertas pela água por vários dias. Em cifras, o prejuízo estimado para a rizicultura da Amrec e Amesc não é pouco. As estimativas dão conta de que, depois da colheita, R$ 50 milhões deixem de entrar na economia da região.
Conforme dados do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa), se a redução for mesmo de 8%, a safra catarinense desse ano será de 1,04 milhão de toneladas, colhidas em 152,5 mil hectares. O Sul do Estado, contabilizando a Amurel, Amrec e Amesc, é a região com a maior área plantada, correspondendo a 70% da produção estadual.
As lavouras localizadas nas regiões de Criciúma e Araranguá produzem em média, 500 mil toneladas do grão por safra, quantia que deve ser em média, 15% menor nessa colheita, significando 1,5 milhão de sacos de 50 quilos a menos.
Plantações ficaram encobertas pela água
Segundo René Kleveston, engenheiro agrônomo da Epagri de Araranguá, mesmo no extremo Sul, uma das regiões mais afetadas pelas cheias, há locais em que as águas não devem acarretar em problemas para a rizicultura. O principal motivo é que em algumas lavouras, o arroz não estava na fase da floração, quando o tempo é mais vital ainda para o rendimento da lavoura. Além disso, várias áreas ficaram encobertas por um curto período de tempo, ou nem chegaram a ser atingidas. No entanto, há locais em que a perda estimada pode chegar a 50%, como em lavouras de Nova Veneza.
Quanto aos preços, os analistas de mercado afirmam que será uma “caixinha de surpresa”, apesar da crise internacional invariavelmente afetá-los. Segundo Luiz Marcelino Vieira, economista e analista de mercado do Epagri/Cepa, o preço médio de R$ 33 a saca de 50 quilos em Santa Catarina não deve subir muito durante a entressafra, e no máximo, chegar próximo aos R$ 40.
– A expectativa inicial era que o preço subisse mais, mas com os problemas no mercado mundial, os preços não devem subir muito – afirma. Nesse contexto, menos produção não corresponderá necessariamente a uma elevação no preço.
Colheita já começou em Meleiro
A colheita já começou na Fazenda Tangará, localizada em Morro do Bodoque, entre Meleiro e Nova Veneza. Na segunda-feira, os sócios Otávio Feldmann e Sival Peruchi colheram as primeiras sacas, e provavelmente, são os primeiros rizicultores do Sul do País a tirarem o arroz da roça. Eles são uma exceção à regra que afirma que a colheita começa na segunda quinzena de fevereiro.
Ao contrário de algumas lavouras a de Feldmann e Peruchi não foram afetadas pelas cheias, já que o arroz já estava na fase final de maturação e ficou pouco tempo com água além da conta.
– Onde plantamos temos problemas com a seca, e não com enchente – conta o rizicultor e técnico agrícola Feldemann.
Na Fazenda Tangará, são cultivados 200 hectares e na Fazenda União, localizada em São Bonifácio, Nova Veneza, os sócios plantam mais 110 hectares.
Mesmo com as cheias, ele acredita que no Vale do Araranguá, serão colhidos, em média, 148 sacos por hectare. E as águas que permaneceram encobrindo algumas lavouras por um certo tempo, apesar de causarem prejuízos imediatos, contribuirão para a renovação do solo.
– Guardadas as devidas proporções, se de tempos em tempos houver uma enchente, no período de intervalo entre uma cheia e outra, o solo é revigorado e a produtividade aumenta, recuperando o prejuízo – explica Feldmann.
Mesmo com as intempéries, o produtor afirma que a qualidade dos grãos catarinenses é inegável e fruto de constantes inovações tecnológicas e melhoramento das sementes, entre as melhores do País.