Sal ameaça lavouras de arroz no RS
Nessa parte do estado são cultivados quase 200 mil hectares de arroz.
A estiagem, até então benéfica às plantações de arroz irrigado do Rio Grande do Sul, baixou em demasia o nível da maior lagoa brasileira e abriu os canais à entrada da água salgada do oceano Atlântico. O mais recente processo de salinização da Lagoa dos Patos começou há menos de um mês e já avançou por 70 quilômetros dos 265 quilômetros totais de comprimento.
As manchas de sal que temperam visivelmente a água doce da Lagoa tornou a concentração de cloreto de sódio insuportável para as plantas de arroz banhadas pela água canalizada de lá. Nessa parte do estado são cultivados quase 200 mil hectares de arroz, 40 mil desses hectares dependem da água da Lagoa dos Patos e pelo menos 10 mil já foram afetados pela salinização.
As lavouras do município de Mostarda, espremidas à leste da Lagoa dos Patos na estreita faixa de terra que a isola do mar, são as mais atingidas. Clóvis Terra Machado cultiva arroz em 600 hectares no extremo norte da região e ainda irriga o arroz com água sem sal, mas teme pelo avanço da salinização.
O também vice-presidente da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) explica que Mostarda tem 130 quilômetros de extensão banhados pela Lagoa, mais da metade deles foram atingidos pela salinização.
– Em outros anos a água salgada invadia cerca de 30 quilômetros Lagoa à dentro – recorda.
O fenômeno, provocado pelo desnivelamento entre a Lagoa e o mar e impulsionado pela incidência de fortes ventos na região, compromete ainda a captação de água da região. No caso do arroz, a irrigação da planta com água salgada prejudica a formação de cachos reduzindo consideravelmente a produtividade, que na região é de 6,5 mil sacas por hectare.
Segundo Francisco Schardong, presidente da comissão de arroz da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), é necessária a construção de barragens de contenção para evitar a contaminação dos canais que levam a água da Lagoa para as lavouras da região, prática que, de acordo com ele, é condenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A Farsul discute com a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) medidas para conter a água salinizada. Ainda de acordo com Schardong, a Farsul quer obter permissão de ataques e barragens de emergência.
– Mesmo com a contenção serão registradas perdas por mais de 100 produtores da região – calcula.
O presidente da comissão de arroz da Farsul relata que uma barragem já foi erguida em Mostarda para amenizar o problema, “mas o Ibama mandou abrir”.
O diretor- executivo do Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Rubens Silveira, explica que a área cultivada com arroz naquela região representa menos de 4% do total de 1,08 milhão de hectares semeados em todo o estado e, portanto, uma quebra não teria impacto significativo na safra gaúcha, estimada em mais de 7 milhões de toneladas.
– O prejuízo vai ficar mesmo concentrado nas mãos dos produtores atingidos – lamenta Silveira.