Preços do arroz acima dos R$ 27,00 no RS
Depois de bater na casa dos R$ 24,00 em maio, a saca de arroz no Rio Grande do Sul já beira os R$ 28,00 em algumas praças gaúchas. A tendência é de preços firmes nas próximas semanas. O Cepea indicou alta de 6,69% em junho, a recuperação mais expressiva do ano.
O mês de junho trouxe ótimas notícias ao setor arrozeiro não só pelos inúmeros mecanismos de comercialização aportados pelo governo federal, mas também pela reação do mercado. O indicador Cepea/Esalq/USP BM&F Bovespa, apontou uma recuperação de 6,69% nos preços em junho, saltando de R$ 25,14 para R$ 27,04 a cotação da saca de 50 quilos de arroz em casca, padrão referencial 58×10, colocada na indústria.
Nos três primeiros dias de julho, o mercado manteve-se em alta de 2,19%, com a saca de arroz cotada a R$ 27,63 na indústria nesta sexta-feira (3/7), o maior preço desde abril deste ano, recorde que deve ser quebrado logo no início da próxima semana. Em dólar, a saca de arroz de 50 quilos já valorizou 2,82% em julho, contando com a valorização do Real frente ao Dólar estadunidense. Nesta sexta-feira, uma saca de arroz de 50 quilos no RS equivalia a US$ 14,15.
CENÁRIO
O momento é de produtores fora do mercado e a manutenção das empresas de menor porte buscando matéria-prima. Os produtores, na semana passada, sinalizaram venda somente a partir dos R$ 28,50 nas regiões de Fronteira, Campanha e Depressão Central. O Litoral Norte continua com preços mais elevados, pelas características especiais de seu produto. Mesmo as grandes indústrias, prevendo alta maior, movimentam-se para adquirir produto depositado, garantindo seu abastecimento no patamar atual de preços.
Nesta situação, poucos negócios expressivos foram realizados nas duas últimas semanas com arroz em casca no RS. O arroz beneficiado também mostra-se com um mercado bastante trancado, com o varejo optando por trabalhar com compras da mão pra boca.
Durante o 24º Seminário da Cooplantio, em Gramado (RS), correu as primeiras notícias de exportações que micaram em razão da apreciação do Real frente ao dólar e da valorização interna do produto. Diante deste quadro, já existem informações de tratativas de importações, pela indústria gaúcha, considerando que o Mercosul oferta arroz na fronteira – principalmente em Jaguarão – ao preço médio de R$ 28,50.
O valor encarece, a partir da notícia divulgada esta semana de que o STJ ratificou a posição dos tribunais gaúchos de que as indústrias terão de pagar a taxa CDO de 32 centavos por 50 quilos sobre o arroz importado. O tributo é revertido para o caixa do IRGA, que investe prioritariamente em ações de pesquisa e repassa parte para outras entidades do setor.
Ainda assim, o valor de R$ 28,50 pode ser referencial nas próximas semanas, mas não propriamente um teto, que pode ser os R$ 30,25 dos contratos de opção (podendo se descontar as taxas). Os principais analistas de mercado do RS consideram que o patamar entre R$ 28,50 e R$ 30,00 é o mais indicado para os meses de julho e agosto.
Não podemos esquecer, no entanto, que ao final de julho, início de agosto começa a vencer o parcelamento de custeio e chegam os compromissos de compra de insumos e preparativos para a nova safra, o que pode provocar um aquecimento da oferta. A Federarroz e o Irga, recomendam que o produtor busque fazer média, sem reter drasticamente a oferta de forma a gerar uma pressão de oferta no futuro, como visto em alguns momentos nos últimos dois anos. O quadro de oferta e demanda bastante ajustado, soma para a valorização neste segundo semestre do ano.
OUTRAS VARIANTES
Com relação à nova safra, não só a disponibilidade de recursos preocupa o Rio Grande do Sul. As barragens estão com cerca de 20% do nível de água necessário para a irrigação da nova safra, a Lagoa dos Patos vive um momento de salinização jamais visto (com danos não só para a água, como à terra também). A situação preocupa, e muito, os produtores da região de Tavares, Mostardas e Tapes, entre outros.
A meteorologia prevê chuvas mais intensas somente na primavera, ou seja, muitos produtores plantarão apostando em chuvas futuras para irrigar a safra, aumentando o risco da safra. O endividamento, debatido na semana que passou pela Federarroz e deputados estaduais, federais e senadores, na Assembléia Gaúcha, é outra preocupação. Só entre os arrozeiros do Rio Grande do Sul a soma alcança astronômicos R$ 4 bilhões.
MERCADO INTERNACIONAL
O mercado internacional segue a tendência de queda de preços. Em junho, exceto a Tailândia, que resolveu suspender os leilões de arroz e, assim, manteve as cotações nos níveis de maio, houve retração nos preços de todos os mercados. A boa notícia vem da Índia. Apesar de estar com seus estoques em quase 20 milhões de toneladas ante uma média histórica de 13 a 14 MT o governo do país avisou que só anunciará uma estratégia de exportação a partir do final de setembro, quando a nova safra já estiver consolidada. A prioridade do governo indiano é o mercado interno e, segundo apurado, os indicadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês) de que o país asiático exportaria 4 milhões de toneladas de arroz não-basmati, não deve se concretizar.
O analista internacional Patrício Méndez del Villar, que palestrou em Gramado (RS) esta semana, acredita que as exportações indianas podem ir de 500 mil a 2 milhões de toneladas, dependendo da estratégia que o país adotar. De qualquer maneira, segundo ele, é claro o posicionamento destes países de que não querem jogar produto no mercado pressionando os preços para baixo. Ainda assim, com dois dos principais exportadores mundiais aumentando consideravelmente seus estoques na Índia quase 50% – e com a principal safra asiática a caminho a partir de novembro/dezembro, o mercado internacional será sistematicamente pressionado por estes volumes armazenados.
É algo como a Conab fazer AGFs para enxugar o mercado no Brasil e resolver não vender o produto para manter os preços. O estoque de passagem, obviamente seria significativo e isso afetaria os preços internos para o próximo ano, de qualquer forma. Diante destes dados, espera-se que no cenário internacional as safras a partir de 2010 comecem a cair em produção e área plantada. Com preços altos em 2008 e o discurso da FAO de que faltaria arroz, pela queda dos estoques mundiais, houve incentivo de diversos países à produção. A resposta foi maior do que o mercado pode comportar e isso afeta o mercado internacional, que é de meros 30 milhões de toneladas. De qualquer foram, o Brasil deve exportar entre 500 e 600 mil toneladas base casca este ano, segundo os principais analistas. No mundo, a tendência é de redução de área para a próxima safra, tendência que alguns já defendem para o RS.
MERCADO GAÚCHO
No mercado gaúcho junho trouxe recuperação gradual às cotações e a oferta caiu significativamente. Preços médios de R$ 27,00 a R$ 27,50 na maioria das praças, com diferencial mantido no Litoral Norte, onde a saca de 50 quilos de arroz 64×4 alcança R$ 29,50 para as variedades nobres. O Irga 422 e similares, é cotado a R$ 27,00. Em todo o Rio Grande do Sul, no entanto, a semana foi de produtores pedindo R$ 28,50 pelo produto para as indústrias que buscam forçar a compra de matéria-prima. As grandes indústrias, que estavam fora do mercado, aumentaram a pressão sobre o arroz depositado, principalmente na região de Pelotas (RS), tentando formalizar seus estoques com preços ainda abaixo dos patamares esperados para os próximos meses. Com relação a 2008, as cotações atuais ainda ficam 5% abaixo.
OUTROS ESTADOS
Em Santa Catarina, com oferta mais ajustada e indústria demandante, os preços seguem pouco superiores aos gaúchos. No Sul catarinense a média de preços é de R$ 28,00 com forte tendência de alta para as próximas semanas. Nota-se que a falta de uma entidade de produtores neste estado impede ações mais efetivas junto ao governo federal, como benefícios obtidos pelos gaúchos no alongamento de custeio, entre outros. A comercialização segue lenta e com muito produto depositado na indústria. No atacado, preços médios de R$ 38,00 a R$ 40,00 para o fardo de arroz.
No Mato Grosso a semana foi de expectativa e acompanhamento dos preços no Sul. Este momento estancou a queda e manteve cotações acima dos R$ 30,00 para a saca do primavera/cambará, em sacas de 60 quilos em casca (50% de inteiros acima). A comercialização segue travada, mas a indústria apresentou-se um pouco mais agressiva esta semana, sondando indicativos de preços e volumes junto aos produtores e sinalizando com compras num futuro de curto prazo.
BENEFICIADO
A saca de 60 quilos do arroz agulhinha, tipo 1, beneficiado, posto em São Paulo, está cotada em média a R$ 69,00, com ICMS incluso, variando da mínima de R$ 65,70 até R$ 72,50. O tipo 2 alcança até R$ 63,00. Já o fardo de 30 quilos de arroz beneficiado, do tipo 1, alcança valores entre R$ 37,50 a R$ 39,80. O parboilizado, tipo 1, é cotado entre R$ 39,00 e R$ 44,00, com média de R$ 41,00.
CORRETORA
A Corretora Mercado registrou a alta dos preços, com referencial de R$ 27,00 para o arroz gaúcho em casca, saca de 50 quilos e padrão para tipo 1. O beneficiado, em 60 quilos, é cotado em R$ 54,00, valorizando R$ 2,00 esta semana. Nos subprodutos, queda com o canjicão manteve cotação de R$ 28,00, a quirera desvalorizou R$ 1,00, caindo para R$ 21,00 a saca, e o farelo de arroz se manteve em R$ 260,00 a tonelada.