Produzir arroz duas vezes é maior desafio da Zambézia

m estudo feito pelo Instituto de Investigação Agronómica no regadio de Mugonhane, no distrito de Namacurra, confirma a existência de um enorme potencial agrícola, nomeadamente terra rica em nutrientes e a existência de condições de irrigação que vão dar corpo ao plano de produzir arroz duas vezes por campanha.

Colher arroz duas vezes por época é o maior desafio da província da Zambézia na campanha agrícola 2009/10. Um estudo feito pelo Instituto de Investigação Agronómica no regadio de Mugonhane, no distrito de Namacurra, confirma a existência de um enorme potencial agrícola, nomeadamente terra rica em nutrientes e a existência de condições de irrigação que vão dar corpo ao plano de produzir arroz duas vezes por campanha.

No regadio de Mugonhane, trinta quilómetros para o interior do distrito de Namacurra, na Zambézia, foi instalado um campo de ensaio com diversas variedades de arroz. Olhando para a componente custo/benefício, num só hectare poderão ser colhidas três toneladas e meia, o que equivale a vinte mil meticais. O regadio de Mugonhane ocupa uma área de cinquenta hectares e acaba de ser reabilitado e equipado com duas electrobombas com o objectivo de incrementar os níveis de produção de três toneladas e meia por hectare.

Para isso será necessária melhor preparação da terra e adubagem. O Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, que trabalhou há dias em Namacurra, disse à nossa Reportagem que Mugonhane é um regadio piloto para o plano governamental de produção de arroz duas vezes por época.

De acordo com Soares Nhaca, o plano de produção de arroz duas por época já está em marcha e está igualmente a ganhar muita consistência rumo aos objectivos do Governo de produzir mais arroz e reduzir a dependência da importação deste cereal. O Governo Central atribuiu à província da Zambézia uma meta de produção de 170 mil toneladas de arroz. Dentro dos próximos dois anos e devido ao investimento que o Executivo está a fazer na aquisição da semente de qualidade, mecanização agrícola, tecnologia de tracção animal e formação de extensionistas, a província tem em perspectiva a produção de trezentas mil toneladas, o que corresponde à metade de produção nacional.

O ministro Soares Nhaca recordou que o período fixado pelo Governo para produzir arroz em quantidades para satisfazer as necessidades internas é de três anos, ou seja, 2008/2011. Explicou que a província da Zambézia tem assumido o seu papel não só na produção de arroz como também de outros cereais, como milho, para além da mandioca.

Apesar de factores adversos, como cheias e secas, a província da Zambézia produziu mais de 170 mil toneladas de arroz na safra agrícola passada. Há informações indicando que há muito arroz em poder dos produtores que não entrou nas estatísticas e estes continuam a reclamar a falta de mercado para a comercialização do seu arroz.

Entretanto, o regadio de Mugonhane tem 50 membros, dos quais 35 são mulheres. Com a reabilitação do regadio e a colocação de duas electrobombas o sistema de sequeiro foi substituído. Os associados têm 200 toneladas de arroz, mas se debatem com dificuldades de colocação do produto no mercado.

Dadas as perspectivas promissoras na produção do arroz, os associados de Mugonhane apresentaram três pedidos, nomeadamente um tractor e respectivas alfaias agrícolas, uma debulhadora e uma descascadora.

O mesmo aconselhou aos associados para a necessidade de rentabilização do regadio e uma melhor organização contabilística. Segundo o ministro, os pedidos apresentados pelos produtores associados, nomeadamente tractor, debulhadora e descascadora, só podem ter o aval do Governo se os associados tiverem algum dinheiro. No dizer de Soares Nhaca, o Governo deve avaliar o nível de apoio a prestar aos produtores, mas estes devem ter algum valor na sua conta.

O ministro de Agricultura afirmou perante os associados que o Governo está a prestar uma especial atenção à mecanização agrária, mas entende que esse apoio deve ser mais seguro de forma que os produtores iniciem a produção em moldes empresariais sem parar num curto espaço de tempo.

PERDAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA AGRAVAM A FOME

Uma quantidade significativa de comida produzida pelos sectores familiar e associativo no país é perdida após as colheitas, agravando deste modo a fome. Sem adiantar números sobre as perdas agrícolas por colheita, o Ministro de Agricultura, Soares Nhaca, afirmou quando abordado pela nossa Reportagem, que o Governo está extremamente preocupado com os desperdícios agrícolas e avançou como primeiras medidas a construção de celeiros melhorados e o reforço da extensão agrária para transferir as tecnologias de baixo custo ao sector produtivo de forma a reduzir essas perdas.

São causas principiais desses desperdícios colheitas numa altura em que os produtos ainda não atingiram a sua maturidade, exposição a chuvas intensas, secas, temperaturas extremas, contaminação por microrganismos e danos físicos que reduzem o valor dos produtos. Por outro lado, as colheitas também são afectadas pelo uso de utensílios agrícolas não apropriados, contaminação química, armazenamento e transporte.

Em períodos de crise as perdas contribuem para o aumento dos preços da comida ao reduzirem o volume de oferta no mercado nacional.

Os desperdícios agrícolas têm um impacto sobre a degradação ambiental e mudanças climáticas, uma vez que o solo arável, água, trabalho humano e recursos não renováveis como fertilizantes e energia são usados para produzir, processar e transportar comida que ninguém consome.

O ministro da Agricultura afirmou que o país está a registar progressos na produção da comida, mercê da implementação de uma série de estratégias mas continua haver fome em alguns pontos do país. A forma como as colheitas são feitas e o armazenamento em celeiros são os principais focos das perdas agrícolas. “É preocupante o grau de prejuízos que os produtores têm no período pós colheitas”, reconheceu Nhaca.

Organizações internacionais que trabalham na agricultura dizem que a situação de perdas agrícolas em África, incluindo Moçambique, é preocupante e podem ser reduzidas de forma drástica, através de investimentos adequados e formação dos produtores.

MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA UMA REALIDADE EM NICOADALA

O governo moçambicano decidiu dar meios aos que produzem comida no distrito de Nicoadala, na província da Zambézia. Se antes a mecanização agrícola era uma miragem essa visão ficou para trás com a entrega num só lote de três tractores aos produtores agrícolas que há muito precisavam destes meios para dar corpo aos projectos por si traçados, nomeadamente produzir comida não só para a sua subsistência como também com perspectivas comerciais, isto é, virada para o mercado. Um agricultor e duas associações receberam tractores e já dizem que no seu horizonte consta um plano de alargar as áreas de produção, diversificar as culturas e aumentar a produtividade.

O arroz é a principal cultura dadas as condições agro-ecológicas do distrito. António Frei pode se considerar um homem feliz. É um agricultor que vinha trabalhando há vários anos. Com dedicação, empenho e suor brotando do seu corpo e regando terra, produziu arroz e hortícolas para abastecer a cidade de Quelimane, principalmente centros internatos e hospitais, e uma parte para o mercado. Tem disponíveis vinte e cinco hectares, mas nunca chegou a explorar toda a terra para actividades agrícolas por falta de um tractor. Trabalham entre doze e dezasseis hectares.

Era quinta-feira, sol escaldante que picava nos olhos, mas essa adversidade natural não tirou a satisfação de um homem que recebeu uma máquina. Quase chorou de emoção. Recebeu do Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, um tractor “novinho em folha”. Os projectos para o futuro são trabalhar uma área de 16 hectares para produzir arroz e outros dez para milho, mandioca e hortícolas. Mas há um desafio enorme pela frente para o agricultor Frei: a rentabilização do tractor para devolver o dinheiro ao Estado.

Em Muziva, no mesmo distrito, duas associações produtoras também receberam um tractor. Trata-se da Associação de Mulheres Camponesas e dos Antigos Combatentes. Os projectos são os mesmos, aumentar a área de produção para produzir lucros. Para além do arroz, a cultura principal, os feijões e a batata-reno vão entrar nos 270 hectares. Antes de receber o tractor explorava 170 hectares.

O outro tractor fica com o Instituto de Investigação Agronómica para ensinar os produtores como produzir mais, usando novas técnicas agrícolas.

Estes tractores foram adquiridos pelo Governo no contexto do Plano de Acção de Produção de Alimentos e não fazem parte dos sete milhões. O distrito de Nicoadala tinha recebido outros tractores no âmbito dos sete milhões.

O Governo está a criar as condições materiais para relançar a produção de arroz naquele distrito. No contexto dos esforços internos para produção de arroz o distrito de Nicoadala foi lhe atribuído a meta de 39 mil toneladas do cereal.

TEWE II DEVE CORRIGIR ERROS TÉCNICOS

O ministério de Agricultura acaba de notificar o consultor do projecto de reabilitação do regadio de Tewe II para corrigir imediatamente os erros técnicos detectados pelo Governo. O regadio de Tewe II, que ocupa uma área de 227 hectares, apresenta muitos erros técnicos que podem criar sérios problemas no período de chuvas, nomeadamente a fuga das suas águas, entre outras anomalias.

O Ministro da Agricultura, Soares Nhaca, que trabalhou há dias no distrito de Mopeia, na Zambézia, visitou demoradamente o empreendimento e recebeu explicações sobre as anomalias verificadas. Assim, o ministro orientou a paralisação imediata das obras até que no mais curto espaço de tempo o consultor volte a fazer as devidas rectificações.

O projecto de reabilitação do regadio de Tewe II é financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento, num investimento avaliado em mais de dois milhões de dólares.

Mopeia é um distrito que se localiza no vale do Zambeze e potencial produtor de arroz. O regadio cujas obras de reabilitação foram interrompidas por causa dos erros técnicos estava a ser explorado metade da sua capacidade, havendo para já perspectivas para aumentar a área para 400 hectares.

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