Lavoura de baixo impacto
Tecnologias mais limpas ajudam a preservar o meio ambiente gaúcho
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A lavoura de arroz, se conduzida corretamente, pode se tornar um exemplo no uso dos recursos naturais existentes e contribuir para a sustentabilidade das áreas cultivadas. Foi a partir dessa perspectiva que o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) criou o projeto Tecnologias Mais Limpas (T+L), que integra as ações do programa Arroz RS 2007-2010 e que trata a lavoura de arroz como uma parte integrante do meio ambiente.
As tecnologias mais limpas envolvem ações e atitudes na lavoura e na propriedade com o objetivo de produzir alimentos com o máximo de eficiência no uso de insumos, dos recursos naturais e energia com menor impacto ambiental, de acordo com a legislação vigente. Entre as recomendações está a época correta de semeadura e irrigação racional, aplicação de herbicidas nas doses recomendadas e na época correta e eficiência no uso de energia de máquinas e implementos.
A aplicação correta de defensivos agrícolas, armazenamento e destino dos resíduos gerados na propriedade, destinação de embalagens de defensivos agrícolas, uso adequado de equipamentos de proteção individual (EPI) e a obtenção do selo ambiental da lavoura de arroz também são ações que integram este conceito. “Com o projeto, o Irga busca compatibilizar as ações nas lavouras para que o produtor possa ter maior rentabilidade, mas para isso é essencial que os arrozeiros sigam as técnicas de manejo voltadas para a melhor eficiência das áreas”, afirma o consultor técnico do instituto, Cláudio Mundstock.
NOVA VISÃO
Esta nova visão, de acordo com Mundstock, substitui a dissociação da análise entre a lavoura e a conservação do meio ambiente. “Esse é um dos principais erros cometidos quando se discute a questão ambiental e a agricultura, como se a lavoura não fosse parte integrante e indissociável do meio. Nesse sentido, a atividade agrícola não é incompatível com os objetivos de preservação e melhoria dos ecossistemas”, avalia o consultor.
Ele explica que a lavoura, ao modificar o equilíbrio entre os organismos que co-habitam um nicho, não é prejudicial, ao longo do tempo, ao meio ambiente existente. “Apenas se cria um novo equilíbrio ecológico, decorrente da implantação da lavoura – o que é esperado -, pois se alteram as entradas e saídas de recursos físicos no sistema, com reflexos na biota existente. O pré-julgamento de que isso tem impacto negativo é preconceituoso, pois as consequências devem ser avaliadas na ótica conceitual de equilíbrio de ecossistema”, argumenta.
CONSUMO DE ÁGUA
Até 2010, o projeto prevê a redução do uso da água de 12 mil metros cúbicos para 8 a 10 mil metros cúbicos. Outra linha trabalhada é a eficiência dos recursos ambientais e os insumos colocados na lavoura, como adubo e calcário. Para Mundstock, a utilização de cultivares com maior capacidade de produção e das técnicas adequadas de cultivo, como época e densidade de semeadura e controle de plantas invasoras, permitem compatibilizar produtividade e rentabilidade com maior eficiência no uso de recursos ambientais.
A iniciativa também contempla alternativas para evitar a dispersão de resíduos de agroquímicos, de combustíveis e lubrificantes e de embalagens de produtos químicos, sementes e adubos. “O Irga incentiva a melhoria do manejo da irrigação como forma de evitar perdas de água, solo e nutrientes e reduzir a quantidade de água e energia usada”, explica. Segundo Mundstock, o instituto incentiva a regularização das lavouras e propriedades agrícolas para atender aos requisitos da legislação ambiental.
MANEJO ADEQUADO
Entre as principais ações do Irga voltadas para o estabelecimento de tecnologias mais limpas no processo de produção de arroz no estado, a pesquisadora Vera Mussoi Macedo destaca o desenvolvimento de cultivares produtivas e com resistência a doenças, o uso racional da água, a redução do consumo de energia e a preservação dos mananciais hídricos. Ela explica que com o uso da tecnologia é viável aumentar a produtividade e tornar a lavoura eficiente no uso dos recursos naturais.
Macedo informa que atualmente, com o conjunto de práticas de manejo da água, do solo e das plantas recomendadas pelo Irga, os arrozeiros conseguem produzir de 8 a 10 mil quilos por hectare com 8 mil metros cúbicos de água. Nas décadas de 70 e 80 se produzia, em média, 4 mil quilos/hectare com 15 mil metros cúbicos. "Estas práticas são simples e não consistem em nada que o produtor de arroz não possa fazer”, afirma. “O arrozeiro deve ter consciência de que usando a tecnologia ele está auxiliando na preservação ambiental”, complementa.
Outro aspecto ambiental da lavoura de arroz está relacionado ao aquecimento global. O Irga conduz, desde a safra 2002/03, em parceria com a Faculdade de Agronomia da UFRGS e Embrapa Meio Ambiente, um estudo, na Estação Experimental, em Cachoeirinha, para quantificar as emissões do gás metano. Este elemento absorve radiação e é um dos componentes do efeito estufa. As áreas de várzeas podem gerar o metano. “Realizar o manejo da cultura com menor produção deste gás é uma das metas do Irga”, diz Macedo.
Os resultados desse trabalho mostram que o sistema de cultivo mínimo (onde há menor mobilização do solo e a cobertura vegetal é dessecada antes da semeadura) emite uma quantidade menor de metano que o sistema de cultivo convencional. Vale destacar que mais de 60% da área de lavoura do RS é implantada no sistema de semeadura direta. “O Irga continua buscando tecnologias para a produção mais limpa, com manejo racional da lavoura de arroz, tornando a atividade viável economicamente”, reforça a pesquisadora.
Vera Mussoi: o arrozeiro deve ter consciência ambiental
SELO AMBIENTAL
O selo foi criado na safra 2008/09 pelo Irga, como uma forma de reconhecimento às propriedades rurais que se adequarem à legislação ambiental e aos preceitos de tecnologias mais limpas. A iniciativa visa ainda reconhecer os esforços dos produtores rurais distinguindo e valorizando o arroz produzido.
Para obter o selo, os produtores devem ser inscritos no Irga, possuir licença de operação (LO) junto à Fepam e adotar medidas tendentes ao cumprimento do termo de compromisso ambiental (TCA).
Também é necessário possuir outorga de uso da água emitida pelo Departamento de Recursos Hídricos (DRH), quando necessário, adotar o manejo da lavoura usando as tecnologias mais limpas e nesta safra adotarem as práticas de manejo do Projeto 10, conforme itens especificados no regulamento.
Na página do Irga na internet (www.irga.rs.gov.br), clicando no link Selo Ambiental, constam as condições para os produtores se inscreverem.
Confira também no site do Irga a cartilha “Tecnologias mais limpas na lavoura de Arroz e na propriedade”, disponível no formato digital no link Publicações.
PRÁTICAS OBRIGATÓRIAS
– Adequação da área de semeadura;
– Uso de sementes de boa qualidade;
– Uso racional da água de irrigação;
– Redução do consumo de energia.
PRÁTICAS RECOMENDADAS
– Uso de cultivares com elevado potencial produtivo;
– Uso de cultivares resistentes a doenças;
– Semeadura na época recomendada (até 10 de novembro);
– Densidade de semeadura menor ou igual a 100 quilos/hectare;
– Adubação com base em análises do solo e potencial de resposta da cultivar.
PRÁTICAS NÃO RECOMENDADAS
– Drenagem da lâmina de água no sistema de cultivo de arroz pré-germinado;
– Manutenção da água na lavoura no mínimo até 30 dias após a aplicação de defensivos agrícolas em qualquer sistema de cultivo (a manutenção da lâmina de irrigação tem como objetivo evitar a contaminação dos mananciais hídricos ou fontes de água, baseada nos dados da pesquisa que mostram que há resíduos de defensivos agrícolas até 30 dias após a publicação. Se houver drenagem, os resíduos vão contaminar as fontes de água e causar impacto ambiental);
– Uso de defensivos agrícolas não recomendados para a cultura do arroz.
Fonte: “Tecnologias mais limpas na lavoura de arroz e na propriedade”/Irga