El Niño: Dois estágios em uma só área

Faltando uma semana para a abertura oficial da colheita, lavouras sofrem situações adversas.

Principal região de arroz no Estado, a Fronteira Oeste vê, às vésperas de colher o arroz plantado no ano passado, pelo menos 25% dos 304 mil hectares plantados recém formando seus cachos do grão. A excessiva chuva de novembro deixou as plantações desparelhas em várias regiões do Estado e será um dos assuntos relevantes da 20ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã, de 25 a 27 deste mês.

Em uma mesma área da Fronteira, há planta que será colhida agora e, em outra parte, em fase de desenvolvimento, com previsão de colheita apenas para abril. E esses cerca de 76 mil hectares tardios vão precisar contar com a ajuda do clima para vingar. O agrônomo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na região, Gustavo Hernandes, explica que quanto mais tardia a semente é plantada, maior é o risco de a produtividade baixar. Até a colheita, observa o técnico, são necessárias temperaturas acima dos 20ºC e muita luminosidade solar para o cacho da planta se desenvolver, encher de grãos e inchar.

– Temos muitos produtores que plantaram parte em outubro e tiveram de interromper em novembro em razão dos quase 700 milímetros que caíram sobre a região. Só foi possível seguir a semeadura em dezembro. No arroz de outubro, a média é tirar 7,5 toneladas por hectare. No tardio, de 6,5 toneladas por hectare para baixo, se o tempo ajudar – expõe.

Arrozeiro em terras uruguaianenses há mais de 55 anos, Bertoldo Weise, 77 anos, está com 61 de seus 230 hectares de arroz plantados em período tardio.

– Plantei em outubro, choveu em novembro e o resto semeei no início de dezembro. O de outubro está lindo, iremos colher na semana que vem. O de dezembro está em formação dos cachos. Mas o calor excessivo está prejudicando. É uma fase que se precisa de luz e de sol, mas não sol tão forte. O cacho não fica parelho – diz o arrozeiro.

A colheita da fase tardia da lavoura será em abril. O produtor admite que poderá apresentar uma queda na produtividade do arroz plantado em dezembro, mas está otimista:

– Acho que ainda vai fazer tempo quente todo o março. Os preços estão baixos, mas, até maio, espero que dê uma reagida. Daí, já terei colhido tudo – completa o arrozeiro.

Ainda que haja previsão do Irga de perdas de 13% ante 8 milhões de toneladas colhidas ano passado e o indicativo da Companhia Nacional de Abastecimento seja de quebra de 8% da safra em relação a 2009, os preços, como historicamente acontece em abertura de colheita, devem cair em março.

– Isso sempre acontece, porém, devemos ter preços médios, mesmo nesta época, um pouco mais altos que em 2009. É importante ressaltar que o produtor deve vender o arroz de maneira escalonada. Assim, no segundo semestre, o mercado deve reagir e teremos bons preços – destaca o assessor de mercado do Irga, Tiago Barata.

Mesmo com o atraso na entrada da safra, Barata pondera que as cotações já estão baixando:

– A saca está, em média, em R$ 31. Mas os preços podem não cair tanto quanto em outros anos – pondera.

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