Vai encolher

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Apesar da queda na produção do MT, setor credita em um novo ciclo para a cultura
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A queda na produção de arroz do Mato Grosso poderá ser ainda maior do que os índices estimados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção do cereal passa por um momento crítico no estado, que já foi o segundo maior produtor brasileiro, chegando a produzir mais de dois milhões de toneladas, e atualmente está em terceiro lugar. 

Para a safra 2009/2010 a produção estimada pela Conab, de acordo com o levantamento divulgado em fevereiro, será de 742,7 mil toneladas (7,6% a menos do que o volume colhido na safra anterior) e a área plantada deverá ficar em 246,9 mil hectares (uma redução de 12% em relação ao mesmo período). Produtores e entidades ligadas à cadeia produtiva acreditam que a queda poderá ser mais acentuada. 

O produtor e diretor da AgroNorte Pesquisas e Sementes, Ângelo Maronezzi, estima que a retração da área cultivada com a cultura no estado poderá chegar a 20%. O argumento tem como base a preferência dos agricultores pela soja, cuja liquidez foi bem maior em 2009. “O arroz, além dos preços baixos, enfrentou muitos problemas na comercialização”, avalia. Outro indicativo dessa retração, conforme Maronezzi, é o baixo volume nas vendas de sementes da variedade Cambará AN, registrado em 2009. 

A variedade desenvolvida pela empresa para o cultivo em áreas velhas e que melhor se adapta à rotação de culturas é atualmente a mais utilizada pelos produtores mato-grossenses devido ao seu alto rendimento, ótima tolerância à seca e boa resposta ao uso de tecnologia. “É o que está motivando os produtores a prosseguirem com a cultura no estado”, avalia o engenheiro agrônomo da AgroNorte, Mairson Santana. 

Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento do Arroz do Mato Grosso (Sindarroz-MT), Joel Gonçalves Filho, a produção no estado vai ficar em 600 mil toneladas e deverá se manter nessa faixa nos próximos quatro anos. “Mas isso não quer dizer que o arroz esteja com os dias contados em Mato Grosso”, garante. “Pelo contrário, o que se espera a partir de agora, com a descoberta de novas variedades adaptadas às terras velhas e degradadas, é uma nova arrancada da cultura no Centro-oeste. 

Maronezzi, por sua vez, também acredita em um novo ciclo para a cultura do arroz de terras altas. Ele aponta a redução dos estoques mundiais de arroz e os baixos preços da soja no mercado internacional como fatores de estímulo à retomada da atividade no MT: “Com a introdução de novos materiais genéticos, a quebra da produção mundial e os baixos preços da soja em Chicago, o arroz poderá voltar a ocupar um lugar de destaque na balança comercial do estado”, prevê o dirigente. 

ALTERNATIVA RENTÁVEL

Para muitos produtores do Centro-oeste o arroz permanece sendo uma alternativa econômica rentável, principalmente como rotação de cultura. É o caso de Luiz Tadeu Tatim, gaúcho radicado no MT há mais de duas décadas. Proprietário da Fazenda Querência, em Campos de Júlio, cultiva soja, arroz, milho safrinha e girassol em uma área de três mil hectares. “Na safra 2008/2009 plantei 930 hectares com arroz. Em 2009/2010 a área destinada à cultura ficou em 670 hectares. Para 2010/2011 estou projetando algo em torno de 600 hectares”, informa.
Essa redução de área, de acordo com o produtor, se deve ao sistema de rotação de cultura e não de mercado. “Tenho armazenadora e secadora. Seco e armazeno em torno de seis mil quilos de soja por dia. O arroz é mais demorado, são cerca de 1.500 quilos por dia. Com isso consigo armazenar e secar cerca de 60% da produção”, explica.
Nesta safra, Tatim começou a plantar o arroz em 23 de novembro de 2009. Deverá colher a partir de 16 ou 17 de março. “Nesse período, todo mundo já estará colhendo. Então vai haver muita oferta de arroz no mercado e o preço pode cair. Assim, quem tiver como armazenar poderá negociar melhor o produto”, calcula.
Para Mairson Santana, da AgroNorte, a estrutura para armazenagem e secagem do arroz é uma questão complicada porque o cereal precisa competir com a soja e o milho que remuneram melhor. “E este ano, porém, com a queda da soja a estratégia de alguns produtores é priorizar o arroz, cujo preço subiu. Mas acredito que essa tendência de valorização do grão vai ocorrer a partir do segundo semestre”, estima.

A PESQUISA NÃO PARA 

A AgroNorte Pesquisas e Sementes lançará ainda este ano mais duas variedades de arroz para incrementar o plantio em terras velhas e degradadas. Uma delas será híbrida e outra convencional. “Para 2011, mais duas variedades convencionais irão para o mercado”, anuncia o diretor da empresa, Ângelo Maronezzi. 

Segundo ele, uma das variedades que melhor se adaptou ao solo mato-grossense nos últimos anos foi a Cambará AN, plantada em mais de 60% de toda a área destinada para o arroz. “Tivemos outras variedades, como Primavera e Cirad, lançadas pela AgroNorte e Embrapa, que também deram certo em nosso estado. As pesquisas não param e nos próximos anos teremos novos materiais disponíveis no mercado, sempre melhorando os índices de produtividade”, informa. 

Maronezzi afirma que pelo menos quatro variedades são adaptadas à situação de terra velha e degradada. Entre elas está a Cambará AN, cultivada também em outros estados, como Minas Gerais, Tocantins, Rondônia, Piauí, Goiás e Maranhão. 

Para o diretor da AgroNorte, o problema do arroz não está nos materiais novos, mas no mercado, que teria achatado os preços para o produtor nos últimos anos. “Hoje o preço mínimo ofertado pela Conab é de R$ 28,00/saca, valor que não remunera adequadamente o produtor. Quando os preços melhorarem, o que esperamos que ocorra por causa dos baixos estoques mundiais, a cultura se tornará mais atrativa e muitos sojicultores irão migrar para o arroz, estima o dirigente. 

Já na atual safra, com a baixa cotação do mercado internacional, muitos optaram pela safrinha de arroz, em vez do milho. 

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