Economia do Ceará cresce 8,9%
Desempenho foi influenciado pela indústria (9,21%) e serviços (8,47%). Agropecuária preocupa.
A economia do Ceará cresceu 8,92% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período do ano passado. É o maior índice nesta comparação desde 2003. A taxa é considerada "muito positiva" por conta da base de referência. Nos três primeiros meses de 2009, a expansão foi de 3,07%, frente a 2008. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) foi divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), órgão ligado à Secretaria de Planejamento (Seplag).
O recente percentual refere-se ao PIB a preço de mercado, ou seja, a riqueza gerada pelo Estado contabilizada com a inclusão dos impostos líquidos dos subsídios. Já a expansão da economia mensurada pelo valor adicionado a preços básicos foi de 8,18%, sem incidência dos impostos. No acumulado dos últimos 12 meses, a economia cresceu, em valor adicionado, 4,5% e o PIB, 4,4%.
A titular da pasta, Desirée Mota, disse que os dados devem-se aos investimentos do governo e da iniciativa privada no Estado. Ela citou os parques eólicos, a infraestrutura para o turismo, a siderúrgica, a redução e isenção de alíquotas de ICMS para setores estratégicos e maior eficiência na arrecadação. Além disso, em âmbito nacional, houve controle dos principais indicadores macroeco-nômicos, como a inflação e manutenção da taxa Selic, proporcionando melhores condições às empresas e ao crédito. Ela chamou atenção ainda para o fato de a economia cearense ser voltada para o consumo interno, o que deu força à expansão do comércio e serviços, aliado ao crescimento real do salário mínimo e do emprego formal.
Indústria é motor
Os setores que influenciaram positivamente os resultados do trimestre foram a indústria geral (que cresceu 9,21%) e os serviços (8,47%). A agropecuária apresentou um pequeno recuo de 1,59%. Dos quatro segmentos que compõem a indústria, somente a extrativa mineral apresentou variação negativa de 21,26%.
As maiores variações positivas foram verificadas na construção civil (17,33%), eletricidade, gás e água (8,70%) e indústria de transformação (8,10%). A secretária ressaltou que a construção civil é responsável por grande parte da geração de emprego formal do Estado. "Este segmento, que desde 2004 vem crescendo, se beneficiou com as medidas anticrise, que foram direcionadas ao setor de habitação, bem como pelas obras públicas, decorrentes de programas dos governos federal e estadual", afirmou. "A ampliação de crédito, salários com ganhos reais, foram outros fatores que estão favorecendo a construção civil". O resultado da agropecuária (queda de 1,59% no primeiro trimestre) foi consequência da quebra da safra de grãos e de queda na produção animal. Segundo a diretora do Ipece, Eveline Barbosa, a taxa só não foi menor em virtude da produção positiva da castanha de caju (47,39%), mandioca (38,29%) e feijão (0,31%). A ocorrência de chuvas irregulares, caídas nas zonas produtoras, foi a principal causa para o resultado negativo da agropecuária. As quedas mais significativas de grãos foram verificadas na produção de milho (-48,22%) e arroz (-25,91%). O milho, feijão e arroz responderam por mais de 90% do total de grãos do Ceará. O setor de serviços (8,47%) foi o segundo maior crescimento da economia cearense, no 1º trimestre. Os destaques foram o comércio, transportes e alojamento e alimentação. No setor (16,04%), tiveram ênfase as vendas varejistas. Mota lembra entre as contribuições para este resultado as isenções e reduções de impostos, sobretudo em produtos como medicamentos, gêneros alimentícios, bebidas quentes, material escolar, higiene pessoal e da agricultura familiar, além do parcelamento, por 90 dias, para o pagamento do ICMS.
O que eles pensam
Resultados são considerados surpreendentes
A indústria do Ceará não esperava uma expansão deste tamanho, 9,21%. Nem mesmo para a economia como um todo. Sabíamos que o setor ia crescer bem, mas não nesse patamar. Alguns analistas estão pensando em uma bolha na construção civil, mas não temos nenhuma configuração da bolha. É crescimento por causa dos investimentos feitos no Estado. Se eles forem concretizados, com o Metrofor, Centro de Feiras, é possível crescer acima de 8%.
Pedro Jorge Vianna
Coordenador da Unidade de Economia do Indi/Fiec
O PIB da construção civil em 17% é muito bom. É um número além da expectativa. Isso representa dinheiro na praça. É crédito, a principal alavanca da economia. O mercado adquiriu confiança com as novas regras do financiamento imobiliário, com o crescimento da renda do trabalhador. O cenário foi criando uma pressão maior. Mas não acredito que essa expansão seja uma repetição constante. Deve se manter perto de 10%. Também não configura bolha na construção civil. É crescimento.
Roberto Sérgio
Presidente do Sinduscon-CE