Preços mundiais dos grãos retomam tendência altista

A ordem para os 75 países membros da organização é buscar alternativas que driblem a carência provocada pela elevação dos preços dos alimentos principalmente dos grãos – trigo, milho, soja e arroz.

A ameaça de que mais pessoas passem fome no mundo em decorrência da alta dos preços dos alimentos fez o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) reagir. A ordem para os 75 países membros da organização é buscar alternativas que driblem a carência provocada pela elevação dos preços dos alimentos principalmente dos grãos – trigo, milho, soja e arroz. As recomendações se baseiam nas orientações do grupo que analisa Segurança Alimentar Mundial (CFS em inglês).

O objetivo é fazer com que cada país apresente sua proposta para contornar os efeitos das altas dos preços. Diferentemente da escalada interrompida em 2008 pelo aprofundamento da crise financeira global irradiada dos EUA, a atual onda altista ganhou envergadura mais por problemas na oferta do que pelo aquecimento da demanda – ainda que no caso da soja as crescentes importações da China sejam vitais para o movimento. Mas a responsabilidade pela elevação da pressão dos alimentos sobre os índices inflacionários em diversas regiões, inclusive no Brasil, recaiu mesmo sobre os problemas climáticos que prejudicaram a produção de trigo da Rússia e de outros países europeus.

Esses problemas alavancaram as cotações do cereal e puxaram também o milho, alternativa usual ao trigo em rações, principalmente na Europa. Mas há fatores em comum entre as escaladas do biênio 2007-2008 e de agora. As projeções de longo prazo de expansão do consumo de alimentos em países emergentes colaboram para uma mudança permanente de patamar dos preços das commodities. Esse cenário ajudou a levar as apostas de fundos de investimentos nesses ativos a níveis recordes em 2008, e o apetite voltou a crescer com as adversidades na Rússia, maximizando as curvas ascendentes. A preocupação da FAO, entretanto, é que outros exportadores vejam na redução da oferta global a oportunidade de segurar as vendas para forçar novas valorizações. Ainda que não oficial, a estratégia começa a ser percebida nos mercados de soja e milho de Brasil e Argentina, por exemplo, até porque os reflexos da La Niña na América do Sul poderão amplificar os problemas da oferta.

De acordo com a FAO, os mais atingidos pela alta dos preços são os países importadores de trigo, onde o produto é a base da alimentação. Com isso, os mais afetados devem ser os países do Oriente Médio e Norte da África – no caso o Egito que é o maior importador do mundo -, além de áreas específicas na Ásia e na América do Sul. O impacto do aumento dos preços internacionais do trigo para os consumidores dependerá das políticas em vigor nos diferentes países, segundo a FAO.

Por enquanto, nos países da América Latina, os preços do trigo permanecem estáveis. Mas nos países da região da América Central, os preços do milho, que é a base da alimentação, sofreram aumentos. Desde julho o preço do trigo subiu, em média, 55% enquanto o valor do milho aumentou 53% neste mesmo período. Os preços da soja acumulam alta de 23% desde agosto deste ano. O arroz aumentou 25% nos últimos 4 meses. A alta dos preços foi provocada por uma série de fatores, como seca em algumas regiões, e chuva em outras.

Em um relatório intitulado “Perspectivas de Colheitas e a Situação Alimentar” a FAO afirma que os preços dos cereais têm subido desde o início de julho, sobretudo o do trigo, embora o custo destes alimentos de primeira necessidade siga um terço abaixo dos valores mais altos registrados em 2008. Esse aumento nos preços dos cereais se deve a uma redução no cultivo em consequência da seca nos países da CEI e da decisão da Rússia de suspender suas exportações, anunciada no dia 5 de agosto e que deve vigorar até o final do ano.

Segundo a FAO, a produção de grãos este ano deve cair em 1% em comparação a 2009. A estimativa é de produção de 2,239 bilhões de toneladas de grãos. O relatório da companhia analisou a importação de cereais de 77 países apontados como mais pobres, de baixa renda e registros de déficits negativos. Segundo estimativas da FAO, há 30 países no mundo que necessitam de ajuda internacional por conta da redução de sua produção agrícola. Destes, 21 ficam na África, oito na Ásia e só um na região da América Latina e Caribe: o Haiti, onde, segundo a organização, os níveis de insegurança alimentícia seguem sendo mais altos do que antes do terremoto.

Com informações de Valor Online, Exame e Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica

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