Safra precoce

 Safra precoce

Santana: nova possibilidade de produção do arroz de terras altas

Com o preço baixo do milho, produtores do Mato Grosso voltam a apostar no arroz, desta vez na entressafra.

Em teste há dois anos, principalmente nos municípios de Sorriso e Primavera do Leste, a safrinha do arroz deve ser implementada por muitos produtores do Mato Grosso ainda neste ano. E as expectativas são muito boas.
Os recentes avanços na pesquisa agrícola viabilizaram a criação e o aperfeiçoamento de uma variedade de arroz que possibilita uma safra precoce (que pode ser iniciada logo após a cultura da soja no estado). “É ainda um fato novo, mas estamos animados. Acredito que, com o preço baixo do milho, os produtores vão optar pelo arroz”, estima o presidente do Sindicato da Indústria do Arroz do Estado de Mato Grosso (Sindarroz-MT), Joel Gonçalves Filho.
O ciclo normal no arroz é iniciado entre os meses de outubro e novembro, com colheita entre fevereiro e março. Apesar das expectativas boas em relação à novidade da safrinha, ainda não há estimativas sobre a quantidade de área que receberá a cultura neste primeiro semestre. “Vai depender de uma séria de fatores, como os preços da soja e do milho na safrinha, se vai chover cedo, se haverá disponibilidade de dinheiro para o plantio”, analisa o engenheiro agrônomo da Agro Norte Pesquisas e Sementes, Mairson Santana.
Mas o risco de que uma segunda safra de arroz no inverno (na entressafra) possa repetir um cenário muito parecido com o que já está acontecendo com o milho está descartado. “São duas realidades diferentes”, observa Santana. “O milho tem quem financia. É moeda de troca para compra de defensivos, no pagamento de dívidas, etc. Com o arroz não é assim, planta quem tem dinheiro e quem tem onde entregar”, compara.
Com base nessa dinâmica, Santana estima que o aumento de área nesta safra não deva ser grande. “Isso vai acabar com a entressafra? Não, o plantio seria nas primeiras datas de plantio de milho, ou seja, final de dezembro e primeira quinzena de janeiro”, informa.
Pelo menos na teoria, o potencial de uma safrinha de arroz no Mato Grosso é enorme, principalmente levando em conta os preços do milho (entre R$ 6,00 e R$ 8,00 a saca) e do arroz (a R$ 30,00 a saca) em algumas regiões do estado. Na prática, caso venha a ocorrer uma segunda safra cheia no MT (algo entre 600 mil a 800 mil toneladas), este volume se equipararia a toda importação do Mercosul e refletiria negativamente nos preços do produto.

CAMINHO
A transição da teoria para a realidade, no entanto, pode ser um caminho mais longo do que parece. De acordo com o presidente do Sindarroz-MT, a intenção é fazer a safrinha de arroz substituir o milho, mas isso não deverá acontecer de uma hora para outra. “Não vai ser 100%. Vai começar como um experimento, até porque o milho tem tradição. Mas pode se tornar uma alternativa viável”, observa Joel Gonçalves Filho.
Ainda segundo ele, a produção no estado tende mesmo a se estabilizar na faixa de 800 mil toneladas. “O objetivo da Agro Norte é aumentar a produção do MT, mas este esforço, na verdade, é para garantir a estabilidade, se não o arroz cai. Não temos nem secadora para atender a toda esta demanda, então me parece uma coisa meio pontual”, avalia.
Para o analista da Agência Safras & Mercado, Élcio Bento, a questão chave para se analisar o impacto que teria uma segunda safra de arroz no MT no mercado é a viabilidade econômica da cultura, sobretudo no que diz respeito à concorrência com outras regiões produtoras, como é o caso do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. “No ano passado eles tentaram, mas acho difícil, já que a soja e o milho são mais competitivos e têm maior liquidez no mercado internacional. Ainda há outras variáveis a serem levadas em conta, como a questão dos biocombustíveis, que tende a ganhar força nos próximos anos”, argumenta.

Maronese: competitividadeO Sul que se prepare
A produção anual de arroz no Mato Grosso gira em torno das 800 mil toneladas, das quais aproximadamente 250 mil são consumidas internamente. É o único produto 100% beneficiado dentro do estado. O excedente da produção é vendido para Rondônia, Acre, interior de São Paulo e estados da Região Nordeste.

O possível estrago decorrente de uma segunda safra de arroz no inverno no sistema de produção, a exemplo do que está acontecendo com o milho, no entanto, ainda não chega a ser uma ameaça real. Pelo menos esta é a opinião do engenheiro agrônomo da Agro Norte Mairson Santana. “Não tem esse potencial porque não há financiamento, não há armazéns, e o período de chuvas limita o plantio ao final de dezembro e à primeira quinzena de janeiro. É uma alternativa viável somente para aquele agricultor que plantar soja precoce no cedo, em outubro”, explica.
Conforme Santana, tudo vai depender da rentabilidade entre arroz, soja e milho. Se o arroz der mais lucro que a soja, a tendência será de aumento de área. Mas faz um alerta: “O Sul tem que ir se preparando para exportar mais, porque uma hora a produção de arroz do Centro-oeste irá voltar. Isto porque a monocultura da soja precisa de um sistema de rotação viável e o arroz é uma boa alternativa para mitigar os problemas de nematoides, soja louca, adensamento do solo e outros entraves que ajudam a reduzir a produtividade. É só lembrar que em todo o Centro-oeste foi plantado arroz somente nos primeiros dois anos de cultivo. Assim, temos muita área para plantar arroz, só tem que ser rentável na comparação com a soja e o milho”, destaca.

Mas para o vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Marco Aurélio Tavares, a retomada da produção de arroz em larga escala no MT a partir do advento da safrinha deve ser analisada de forma pragmática, levando em conta fatores de competitividade, como preço do produto. “Os atuais patamares de preço não estimulam um incremento de produção mais expressivo”, avalia.

Tavares lembra que, fora o Rio Grande do Sul, nenhuma outra região produtora registrou avanços em produtividade. “Pelo contrário, houve um recuo em termos de área plantada. Com base nas informações que dispomos sobre a produção do MT, sabemos que a meta de viabilidade em termos de área de cultivo gira em torno de 250 a 280 mil hectares em função da infraestrutura disponível para atender os atuais níveis de produção e também em razão das limitações ambientais”, observa.

Deixe um comentário

Postagens relacionadas

Receba nossa newsletter