A lavoura de arroz pede socorro

Com preços de mercado R$ 3,30 abaixo do mínimo e R$ 6,50 menores que o custo de produção por saca, agrava-se a crise setorial. Produtores devem protestar
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Produzir alimentos no Brasil é quase uma epopéia. A falta de uma política agrícola definida, capaz de atender as demandas setoriais está provocando uma crise sem precedentes na comercialização do arroz no Rio Grande do Sul, estado que produzirá 61% da safra nacional 2010/11. “A situação é gravíssima”, reconhece Renato Rocha, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz). Ao longo de 2010, apesar de o governo federal garantir que havia recursos “à vontade” para mecanismos de comercialização do arroz caso o preço estivesse abaixo do mínimo, só foram disponibilizados leilões de PEP em novembro e agora, apesar das cotações estarem há 60 dias inferiores ao preço mínimo de R$ 25,80.

Hoje, os preços médios no RS para saca de arroz em casca de 50 quilos, com padrão 58×10, estão em torno de R$ 22,50, segundo a Federarroz. São R$ 3,30 abaixo do mínimo que a União, por lei, deveria garantir ao produtor, e R$ 6,50 aquém do custo que o arrozeiro gaúcho teve, em média, para produzir uma saca de arroz. A situação agrava-se porque de janeiro a abril muitos rizicultores têm de quitar os Empréstimos do Governo Federal (EGFs) alongados. “Se gastou R$ 29,00 para produzir e o máximo que recebe é R$ 22,50, o produtor precisará vender um volume muito maior para quitar o empréstimo, que tinha por objetivo carregar os estoques até que os preços fossem viáveis para comercialização. Muitos arrozeiros não têm como pagar diante da desvalorização de quase 30% sobre o custo de produção”, avisou Renato Rocha.

Há um ano, no dia 15 de janeiro de 2010, o indicador de preços do arroz Esalq/BVMF, cotava a saca de arroz a R$ 32,78. Hoje o valor esta R$ 10,00 menor, uma queda de 43,9%. “São R$ 200,00 a menos por tonelada”, cita José Carlos Gross, presidente da Associação de Arrozeiros de Camaquã (RS). “Fora estes preços, é preciso lembrar que com a Instrução Normativa 12 e as regras da indústria, o preço cai até 10% na entrega do arroz, com o desconto sobre umidade, defeitos, quebrados”, avisa Daire Coutinho, vice-presidente da Federarroz. “E para o próximo ano, AGFs, PEP, contratos de opção e outros mecanismos que vierem, serão baseados na IN 06, uma regra ainda mais rígida”, acrescenta Rocha.

Segundo ele, isso tudo estoura no bolso do produtor. “Os preços aos consumidores são os mesmos e, em alguns casos, até aumentaram. Para o produtor caiu quase 44% em um ano. Nesse caminho alguém está ganhando. E muito. Mas, o produtor está perdendo”, denuncia. O arroz está tão barato (quase 50% do valor do milho) que é dado de ração ao gado na campanha gaúcha. E o setor teme que essa desvalorização, que vem de alguns anos, leve a cadeia produtiva do arroz ao mesmo destino do trigo, produto em que o Brasil era auto-suficiente e hoje precisa importar mais de 50% para atender suas necessidades. “O Brasil desmontou a cadeia produtiva do trigo para atender suas “parcerias” internacionais. E o mesmo está acontecendo hoje com o arroz”, argumenta Renato Rocha.

PROTESTOS

Diversos são os movimentos independentes de produtores discutindo a realização de protestos contra a omissão do governo federal. “Na assembléia da Federarroz, realizada em 12/01, inúmeras foram às manifestações neste sentido. Mas, estamos desenvolvendo um plano de ação para debater com os governos, estadual e federal, para assegurar recursos e meios de comercialização, principalmente em razão de uma safra normal que se aproxima”, explicou Renato Rocha. Seis são os pontos, que prevêm PEP, AGFs, Contratos de Opções, Pepro, entre outros mecanismos para garantir o escoamento da safra e a remuneração justa ao produto. O cenário de comercialização deverá dominar as discussões de mais de 5 mil arrozeiros esperados na 21ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz, em Camaquã, que acontecerá de 24 a 26 de fevereiro. “O momento é dramático para a orizicultura. O produtor aposta, investe, corre risco climático, cambial, colhe um produto de qualidade e é penalizado por produzir alimentos com preços que sequer cobrem o custo”, afirma.

O setor lembra ainda as disparidades das relações com o Mercosul, onde insumos e máquinas mais baratos, e graças à isenção de taxas e impostos – das quais a cadeia brasileira não goza – chega ao Nordeste com preços até 100 dólares mais baixos por tonelada. “Nós somos pesadamente tributados e nossos concorrentes têm isenções e facilidades. Não é justo nem racional. Isso também exige medidas do governo”, avisa. Em 2010 o Brasil importou quase 1 milhão de toneladas do Uruguai, Argentina e Paraguai, o exato volume considerado excedente no momento. “Sem importações o mercado estaria equilibrado”, sentencia. Esta semana o governo federal promoverá mais um leilão de PEP para 57,5 mil toneladas de arroz do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. O mecanismo é considerado “melhor do que nada”, pelos arrozeiros, que viram negada pelo governo qualquer outra alternativa de programa para escoamento da produção. “Hoje o arroz é a única commodity com preços não remuneradores e em crise. Esperamos que o governo se dê conta disso antes que seja tarde demais”, desabafa Renato Rocha.

Perfil Socioeconômico da Lavoura de Arroz RS (safra 2010/2011):

Área plantada: 1,150 milhões/ha

Produção: 7,5 milhões de toneladas (estimado)

% sobre a produção Brasileira: 61%

Nº de Produtores: 18,5 mil

Municípios produtores: 143

Empregos gerados: 230 mil (direto + indireto)

ICMS gerado: 2,5% do PIB/RS

Renda atividade: em 21 anos 13 deram negativos

Custo de Produção: R$ 29,00 (50/kg)

Preço mínimo: R$ 25,80 (50/kg)

Preço recebido produtor: R$ 22,50 (50/kg)

Produção um hectare = alimenta 96 pessoas/ano

Custo alimentação diário por pessoa: R$ 0,16

12 Comentários

  • Somente uma medida tem que ser tomada: o cumprimento da lei do preço mínimo.
    Se você tem um empregado e paga menos que um salário mínimo você é punido e certamente esta trabalhando na ilegalidade, porque não se pune quem paga menos que o preço mínimo se o salario do produtor é seu produto?
    Leis iguais: salário mínimo = preço mínimo
    Porque devemos pagar para produzir e pagar os funcionários religiosamente o salário estipulado? Direitos iguais, meu salário é meu produto.

  • Muito boa as ações q a federarroz esta tomando e avisando agora quando estamos praticamente a um mes d iniciarmos uma nova colheita.espero q o irga ja q o novo presidente é arrozeiro e é ligado diretamente ao governo estadual e federal consiga medidas q garantam pelo menos o preço minimo do arrozde R$ 25,80 se não nossa metade sul q ja esta se arrastando com essas poliicas agricolas entrará numa crise sem presedentes!!

  • acho q o governo nao acordou ainda nos produtores estamos levando o pais nas costas e isso ninguem aguenta mais estamos todos quebrados . a fome zero é o governo q tem q resolver e nao nos. se nao melhorar p o produtor ,radicalmente talvez unissemos atraves dos gtgs do brasil e nao vender mos nada ate´q se normalize a situaçao .esse preço minimo esta muito baixo tmbem nao achao?

  • SO RESSALTANDO O COMENTARIO DO COLEGA DIEGO, A INDUSTRIA NAO INFLUENCIA NO PREÇO DO ARROZ, E SIM O MERCADO, COM ESSAS IMPORTAÇOES AINDA PIORA, O MELHOR PRA INDUSTRIA QUE TRABALHA COM PORCENTAGEM É QUE O ARROZ TIVESSE A 40,00!A INDUSTRIA TE QUE TRABALHAR EM PARCERIA COM O PRODUTOR E NAO CONTRA!ABRAÇOS!

  • Diego Silva, porque R$ 25,80, se o minimo esta desatualizado e sim o custo como a federarroz tem cálculo de R$ 29,00 no minimo uns 15% a mais do custo

  • Olhem, caros colegas, esta lenga lenga é tão antiga quanto a lavoura de arroz no estado. Acreditei no governo,nos idos de 80, acabei quebrado, e por um triz, graças a inteligência de meu avô não passei fome…….
    Para mim a soluçãoé simples:

    O governo deve determinar a área a ser plantada para atender as necessidades da nação. Eicha que esta faltando espaço………..continua……

  • continuando:
    para a área necessária financiar 100%, estabelecendo uma área para cada orizicultor.
    se o orizicultor quiser plantar mais, que seja por sua conta e risco !!!!!
    para a área financiada, assegurar comercialização financiada em 12 meses, EGF em tres quatro parcelas é coisa para os ricos ganharem dinheiro.
    O que falei aciman

  • ufa……….ainda continuando………acabo de descrever o sistema norte americano de assistência ao produtor…………lá funciona…………
    Um grande abraço a todos……………mas para mim ARROZ só no PRATO…………

  • Acorde Seu Osmar, estamos no Brazzil!!!
    Ao colega Fabrício Rodrigues se a industria quer trabalhar junto com o produtor porque não convida o produtor pras reuniões de definição de preço e de formação de TABELAS?
    Concordo que o mercado determina preços, engraçado é quase todas industrias pagarem o mesmo, todos custos são iguais?

  • CARO FABRICIO RODRIGUES , COMO SABE O ARROZ DE JANEIRO DE 2010 PARA JANEIRO DE 2011 PERDEU MAIS DE 40 % DE SEU VALOR , MAS O PREÇO AO CONSUMIDOR PERMANECE QUASE IGUAL OU SEJA A INDUSTRIA E O VAREJO ESTÃO ENRIQUECENDO AS CUSTAS DO PRODUTOR , BASTA QUE A UNS ANOS ATRAS AS INDUSTRIAS ESTAVAM TODAS PASSANDO POR DIFICULDADES E DEPOIS QUE SE ORGANIZARAM AMPLIARAM SUAS INSTALAÇÕES PARA RECEBER ARROZ A DEPÓSITO , INVENTARAM UMA TABELA PARA QUEBRAR O PRESTADOR DE SERVIÇO E SE REUNEM TODA SEMANA PARA MANIPULAR O PREÇO DO ARROZ AO PRODUTOR.

  • O setor arrozeiro desde há muito vem sendo sacrificado por uma política social clientelista dos governos federais. O arroz tem que chegar à mesa do brasileiro a preços achatados , ainda que o produtor perca e, perdendo a cada ano , permanece refém do Governo Federal que, periodicamente, arranja renegociações das dívidas, prorrogações de vencimentos das obrigações, etc. Não há respeito ao preço mínimo, muito menos atenção ao preço do custo do produto. É tão grave o quadro que o arroz não figura nos noticiários do agronegócio, como os demais grãos produzidos no Brasil (milho, trigo, soja , etc). As causas dessa quase tragédia todos nós conhecemos , mas somos impotentes para combatè-las radicalmente, preferindo tratá-las sempre de pires na mão em direção ao Planalto. O represamento, as importações , os países produtores emergentes e outros fatores fazem com os preços sofram achatamento, de forma a comprometer a capacidade de liquidez do produtor. As lderanças , certamente, estão a buscar novos mercados e outras alternativas, solução que não chegará a tempo de salvar o produtor que já agoniza. Impõe-se uma postura enérgica face ao Governo Federal , com o respaldo e chancela do Governador Tarso, para que pague ao produtor a diferença que se verifica entre o preço do custo da saca de arroz seco com casca (R$ 29,00) e o preço de mercado (R$ 22,00), praticado no segundo semestre do 2010. SDS José Pedro Machado Lopes- advo. de produtores de Quaraí.

  • Continuo achando que um aumento na capacidade de armazenagem na mão dos produtores seria uma grande saida para melhorar os preços. Imagina a industria ter que ficar buscando arroz nas propriedades para poder beneficiar. Não tem fundamento os produtores passarem por todo sacrificio para produzir e depois entregar tudo para aindustria e ficar chorando preço. O financiamento para armazenagem se paga muitas vezes somente com o valor do frete gasto no trasnporte de arroz verde sem contar na , IMPUREZA, UMIDADE, RENDIMENTO E TIPO.

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