À espera de um milagre
Arrozeiros fecham fronteiras e estradas em protesto contra crise.
O mercado brasileiro de arroz fechou o ano agrícola de 2004 contando os dias para que explodisse uma revolta contra o livre ingresso de arroz do Uruguai e da Argentina, que representa 95% das importações do Mercosul, no país. Duas colheitas far-tas repetidas, ingresso desproporcional e desnecessário dos excedentes do Uruguai e da Argentina, resíduos de importações de terceiros mercados e um estoque de passagem acima de 1,5 milhão de toneladas inflaram os argumentos baixistas do mercado que vinham engrossando desde maio de 2004.
O resultado foi uma queda de quase 50% nos preços praticados, de R$ 35,00 para R$ 18,00, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Mato Grosso, o saco de 60 quilos de arroz em casca caiu de R$ 34,00 para R$ 13,00 por problemas de classificação. Os dados são do site www.planetaarroz.com.br.
Com uma oferta muito acima da demanda brasileira, desequilíbrios nas relações comerciais com o Mercosul e uma atitude passiva do Governo Federal, que apresentou tímidos e extemporâneos mecanismos de comercialização, sobrou arroz no mercado. Os arrozeiros gaúchos levantaram bloqueios nas fronteiras, depois de 50 audiências públicas com os governos estadual e federal sem conseguir mecanismos de comercialização capazes de dar equilíbrio ao mercado.
Também não conseguiram medidas de salvaguardas para evitar o ingresso de arroz do Mercosul. Medidas compensatórias, que chegaram a ser sugeridas pelo presidente Lula em encontro no aeroporto de Porto Alegre com lideranças arrozeiras, não passaram do nível de sugestões. Os arrozeiros do Mato Grosso, de Santa Catarina e do Tocantins se somaram aos protestos, que devem chegar a Brasília.
“O que causa mais constran-gimento e revolta é o fato do presidente saber da dimensão do problema da agricultura e do arroz e ficar protelando e cancelando as audiências com quem produz. Enquanto isso, faz reunião com os sem-terra e o seu ministério e atende suas reivindicações”, reclama o vice-presidente da Farsul, Francisco Schardong. Com o Ministério da Agricultura com um corte orçamentário de 80% e o Governo Federal alegando não ter dinheiro, os produtores brasileiros permanecem na beira da estrada. À espera de um milagre.
Questão básica
Entre dezembro e maio, a Federarroz participou de quase 60 audiências com os poderes públicos estadual e federal em busca de três medidas: estabelecimento de restrições à entrada de arroz do Mercosul e terceiros países (salvaguardas, compensações ou estabelecimento de cotas), mecanismos de comercialização para retirar 1,5 milhão de toneladas do mercado brasileiro e incentivos à exportação. O Governo Federal acenou, na segunda quinzena de maio, com a possibilidade de comprar arroz para formar estoques reguladores. Produtores de Tocantins e Mato Grosso do Sul, que formam a lavoura mais cedo, anunciam que vão reduzir área.