Plantando com o inimigo

 Plantando com o inimigo

Clairton Petry segurando uma planta com enrolamento e Taciano Pellegrin, da Camnpal, com uma planta saudável

Enrolamento do arroz é uma ameaça iminente.

Um novo inimigo está ganhando território sobre a lavoura de arroz da região da depressão central, a mais antiga área de cultivo do Rio Grande do Sul. A doença surgiu na safra 2001/2002 em pequenas áreas nos municípios de Dona Francisca e Agudo, causando o enrolamento das folhas e morte da planta ainda na sua fase inicial de germinação. Na safra 2004/2005, os mesmos sintomas foram registrados em lavouras de Santo Antônio das Missões, Uruguaiana, São Borja e Santa Maria. A doença na região é conhecida como enrolamento. Na Colômbia é chamada de entorchamiento, que em bom português quer dizer entor-tamento. 

Segundo o pesquisador Marcus Almança, engenheiro-agrônomo mestrando em Fitotecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a doença é causada pelo vírus rice stripe necrosis virus (RSNV), que é transmitido pelo microorganismo Polymyxa graminis, bastante semelhante a um fungo. Almança está pesquisando alternativas para combater o avanço desse vírus, mas enfrenta como principal obstáculo a falta de informações sobre o assunto, mesmo na literatura internacional. Os sintomas característicos desse novo inimigo estão nas folhas, que se apresentam enroladas no formato de ziguezague, com estrias amarelas e necrose que provoca a morte das plantas. 

O agrônomo do Irga Clairton Petry informa que na safra 2004/2005, cerca de seis hectares de lavoura tiveram que ser replantados em Agudo em função do ataque do RSNV. Petry observa que nas lavouras cultivadas no sistema pré-germinado não há registros da doença. Ainda não existe um levantamento de quanto o enrolamento já prejudicou as lavouras de arroz, mas acredita-se que as áreas atingidas podem perder em média 10% da produtividade. 

Questão básica
Enquanto a ciência não descobre fórmulas eficientes para combater o enrolamento, a orientação é evitar a disseminação dessa doença. Estudos indicam que o vetor do vírus apresenta estruturas de fácil propagação por meio do solo e de água. As recomendações básicas para prevenir são: 

1) Evitar o uso de maquinários em áreas contaminadas e, posteriormente, nas lavouras livres da doença.

2) Não utilizar sementes produzidas em lavouras com ocorrência de enrolamento.

3) Evitar a circulação da água de lavouras contaminadas para aquelas em que não há sintomas do vírus.

 

Em estudos

É na cidade gaúcha de Dona Francisca, onde a doença surgiu no Brasil, que estão sendo realizados os primeiros estudos sobre esse vírus. Além de analisar as lavouras atingidas, os pesquisadores estão usando informações de estudos científicos desenvolvidos na Colômbia, primeiro país onde ocorreu essa doença na América do Sul. O pesquisador Marcus Almança é o coordenador dos experimentos com adubação de base e de cobertura, aplicação de bioformulados à base de Trichoderma sp. e a utilização de um método de tratamento de sementes com fungicida (vitavax+thiram). 

Segundo Almança, a realização da adubação de base conforme o recomendado no Projeto 10 e uso de doses elevadas de nitrogênio nas áreas atingidas aumentam o perfilhamento das plantas afetadas pela virose, mas sem evitar o prejuízo. O mesmo efeito também é obtido com o tratamento à base de bioformulados. “O tratamento de sementes com fungicida não garante o aumento de rendimento nem redução na incidência da doença”, relata Almança. 

O agrônomo Clairton Petry classifica de intrigantes os efeitos do rice stripe necrosis virus (RSNV). “Em áreas onde as plantas foram arrancadas por causa da doença e houve o replantio, a lavoura se estabeleceu e desenvolveu normalmente”, observa Petry. 

 

Pesquisa

Há dois anos, o Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), a Cooperativa Agrícola Mista Nova Palma (Camnpal) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) estão buscando com experimentos nas lavouras de Dona Francisca encontrar formas de controle e convivência com a doença. 

Ainda não são conhecidas variedades de arroz resistentes a essa doença, e a adequação da época de semeadura é uma ação que pode contribuir futuramente para controlar a ocorrência do vírus RSNV. 

 

Adubação

O agrônomo Marcus Almança alerta sobre os riscos de altas dosagens de adubo no combate ao enrolamento das plantas de arroz. Segundo ele, excesso de adubação provavelmente não reduz a incidência da doença, mas compensa parcialmente as perdas. “Em algumas situações, esses elevados níveis de adubação podem favorecer o aumento de doenças, como brusone e queima-das-bainhas”.

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