Pergunta sem resposta
O valor do arroz em 2005 é a pergunta que não quer calar.
Quanto vai valer o arroz a partir de março no Brasil? Esta é a principal pergunta feita pelo setor de produção desde o final de 2004. As perspectivas iniciais não são das melhores, mas há luz no fim do túnel. Para o consultor Aldo Lobo, da empresa Safras & Mercado, ninguém tem esta resposta, mas algumas tendências podem ser analisadas. Segundo ele, atualmente existem dois fatores-chave no mercado brasileiro de arroz. O primeiro fator é a existência de bastante arroz da safra velha (2003/04) estocado no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso, principalmente. “É verdade que trata-se de um arroz de baixa qualidade, mas ele está interferindo no mercado”, cita.
O segundo fator que pode refletir nos preços para a comercialização da safra 2004/2005 é o próprio desempenho das lavouras. “Já se fala em quebra de 10% a 15% em alguns municípios gaúchos por causa da seca e, por isso, pode haver alguma diferença no fechamento dos números finais da safra que venha a provocar algum impacto no mercado”, revela Lobo. Mesmo assim, ele ressalta que ainda não existem certezas em torno desses percentuais. “Teremos uma noção mais aproximada a partir da fase de pico da colheita”, revela.
Para ele, outros fatores ainda devem interferir no mercado. Mesmo sem muitos recursos, o Governo Federal será forçado a oferecer alguns mecanismos de comercialização para o arroz, a pressão contrária às importações deve aumentar (com ou sem salvaguardas) e há boa possibilidade do Brasil exportar maiores volumes de arroz, principalmente o de baixo rendimento que está sobrando nos armazéns e seria mais competitivo no mercado internacional. “Neste ponto, talvez os volumes tenham impacto muito superior aos resultados financeiros”, reconhece. Mesmo assim, Lobo arrisca dizer que com os dados disponíveis hoje, os preços do arroz no mercado brasileiro tendem a ficar mais próximos dos R$ 20,00 do que dos R$ 30,00 no primeiro semestre. “Um conjunto de fatores, como uma quebra maior do que o esperado na safra gaúcha e do Mercosul, estabelecimento de salvaguardas, recursos para mecanismos de comercialização, entre outros, podem interferir de maneira a que os preços voltem aos patamares iniciais da safra passada, mas é bem mais difícil”, reconhece.
Definições começam em março
O mercado brasileiro do arroz só deve começar a se definir a partir do final de fevereiro, quando começa a colheita de arroz do Rio Grande do Sul, responsável por quase a metade da produção nacional. Se não houver quebra, o estoque de passagem vai ajudar a pressionar os preços em 2005, mesmo sendo composto por arroz ruim. Agora, se houver quebra de produção, esse estoque pode ser usado para parboilização, o que ajudará a reduzir o preço por causa do aumento da oferta, valorizando o branco de qualidade superior. Sem contar que esse arroz de baixa qualidade que estará sobrando poderá ser exportado a preços bastante competitivos com um importante efeito “psicológico” sobre o mercado. Vai importar quanto em volume foi retirado do Brasil, e não exatamente os valores obtidos numa negociação.
EXPORTAÇÃO – O caminho das exportações faz parte do conjunto de medidas salvadoras para o mercado de arroz brasileiro em 2005. Difícil é alcançar competitividade com o dólar com cotação oscilando na faixa de R$ 2,60/2,70, como tem ocorrido neste início de ano. “O câmbio reduz as chances de exportação num primeiro momento, mas creio nos mercados nacional e internacional. Mas há uma chance do Brasil exportar bastante quebrado, parboilizado e obter um efeito ‘moral’ sobre o mercado de arroz”.
Fatores que podem interferir positivamente para o mercado de arroz
– Menor safra no Brasil e no Mercosul
– Redução dos estoques mundiais e da oferta internacional
– Impacto do maremoto da Ásia sobre a produção e estoques
– Processo administrativo exigindo salvaguardas sobre a importação de arroz, mesmo do Mercosul
– Previsão de queda na área plantada dos Estados Unidos
– Contratos de opção privado e público para comercialização
– Pedido de abertura de painel de arbitragem na OMC contra os subsídios dos EUA ao arroz
– Melhor estrutura organizacional e de logística para o Brasil exportar arroz
– Inclusão do arroz na pauta de negociações comerciais com a Argentina no episódio da Guerra das Geladeiras
– Incentivos do Governo Federal à exportação, com redução da burocracia alfandegária
– Retirada da isenção de PIS/Cofins sobre o arroz beneficiado importado do Mercosul
– Elevação da TEC para terceiros países
– Influência das decisões da Câmara Setorial Nacional da Cadeia Produtiva do Arroz
Fonte: Arrozpec/Federarroz/USDA/Planeta Arroz