Diferencial de peso
Arroz do Litoral Norte gaúcho recebe denominação de origem
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A boa notícia já havia sido antecipada na edição de número 25 da Planeta Arroz, em fevereiro de 2008. A confirmação veio mais de dois anos depois, no dia 24 de agosto de 2010, quando o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) concedeu à Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte (Aproarroz) a primeira denominação de origem (DO) concedida a um cereal brasileiro: o Arroz do Litoral Norte Gaúcho.
A denominação de origem é uma modalidade de indicação geográfica (IG) do alimento que apresenta características exclusivas (aspecto, sabor, consistência) em decorrência do seu local de origem, como o clima e topografia. O certificado foi entregue ao presidente da Aproarroz, Clóvis Terra Machado dos Santos, no dia 1º de setembro de 2010, na Expointer, em Esteio (RS).
Na prática, a distinção é concedida para produtos que tenham características vinculadas especificamente ao meio ambiente em que são produzidos. O registro de indicação geográfica conquistado pelos produtores da região agrega valor e imprime uma marca de qualidade ao cereal. Há marcas de reconhecimento mundial, como o presunto italiano de Parma, o queijo roquefort e o champagne francês. A indicação geográfica significa um ganho de qualidade no produto, permitindo maior competitividade nos mercados interno e externo.
Segundo o presidente da Aproarroz, Clóvis Terra Machado, o trabalho começou há quatro anos, com o pedido ao Inpi e pesquisas para comprovar as particularidades do arroz. “É a primeira DO concedida no Brasil para o arroz. Agora vamos configurar um outro trabalho para rastrear a produção”, planeja.
PECULIARIDADE
A principal peculiaridade do arroz produzido na região do Litoral Norte gaúcho é a maior porcentagem de grãos inteiros e a baixa taxa de gessamento, que confere maior translucidez e cor branca mais intensa ao grão. Isso é possível pela influência dos ventos, da temperatura e da umidade que predominam na área. O vento constante e a quantidade de água na região, pela proximidade com a Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico, proporcionam clima e temperaturas estáveis, ideais para o cultivo do arroz.
Fique de olho
A região produtora de Arroz do Litoral Norte compreende 12 municípios situados no Litoral Norte do Rio Grande do Sul: Porto Alegre, Viamão, Santo Antonio da Patrulha, Capivari do Sul, Osório, Imbé, Balneário Pinhal, Tramandaí, Palmares do Sul, Mostardas, Tavares e São José do Norte. Estes municípios, cuja história de 150 anos foi iniciada pelos imigrantes alemães, têm juntos 1.474 produtores, os quais somam 130 mil hectares cultivados com arroz que, em 2009/10, produziram 600 mil toneladas.
O mercado já diferencia o arroz do Litoral Norte
Conforme a técnica da Superintendência Federal de Agricultura no Estado do Rio Grande do Sul, Ana Lúcia Stepan, o arroz do Litoral Norte gaúcho já é reconhecido e valorizado pelos atacadistas e beneficiadores de todo o país como produto de melhor qualidade e maior rendimento. “Mas estas características ainda não são conhecidas pelo grande público. Com o registro da denominação de origem a expectativa é de que o consumidor perceba essas vantagens e consolide a demanda pelo produto de qualidade garantida”, afirma.
A primeira produção de arroz com o certificado será comercializada a partir da colheita da próxima safra, prevista para fevereiro de 2011. A expectativa da Aproarroz é que o produto tenha valorização de 20% em relação ao preço atual. “No momento que você tem uma grife, ganha adicional de qualidade. Vamos trabalhar com marketing, divulgar bastante para abrir portas”, afirma Clóvis Terra Machado.
Na visão do dirigente, a certificação estabelece uma nova configuração geopolítica dos municípios da região. “O primeiro passo já foi dado com a obtenção da DO. Daqui para frente o trabalho é de longo prazo, pois precisamos externalizar esse novo conceito a todos os produtores envolvidos, bem como ao poder público (prefeitos, vereadores, secretarias de Educação e Saúde, etc), buscando a construção de políticas públicas específicas voltadas aos municípios que compõem esta região”, informa.
O presidente do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, diz que o fato é marcante não só para o Brasil, mas para a América Latina. “O futuro do mercado passará pela valorização do produto, e esta é uma etapa que comprova o diferencial”, observa.
O Brasil possui hoje sete regiões registradas com indicação de procedência. São elas: Pinto Bandeira, para vinho tinto, branco e espumante; Região do Cerrado Mineiro (MG), para café; Vale dos Vinhedos (RS), para vinho tinto, branco e espumante; Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (RS), para carne bovina e derivados; Paraty (RJ), para cachaça e aguardente composta azulada; Vale do Submédio São Francisco (BA/PE), para manga e uvas de mesa; e Vale dos Sinos (RS), para couro acabado.
"O futuro do mercado passará pela valorização do produto, e esta é uma etapa que comprova o diferencial”.
Maurício Fischer, presidente do Irga