Mato Grosso corrige a rota
Segundo maior produtor perde posto e 60% da área .
O Mato Grosso vive uma de suas piores crises desde o momento em que se tornou um dos maiores produtores orizícolas do Brasil. Na safra 2005/2006 o estado está reduzindo em 60% sua área plantada, de 776,7 mil hectares para 310,8 mil hectares, segundo a Conab. Isso representa redução de 1.178.600 toneladas produzidas diante da safra anterior, de 2.043.200 toneladas para apenas 864,6 mil toneladas (- 57%), a maior queda registrada no Brasil. Apesar da crise, baixos preços de mercado, proble-mas de qualidade com o arroz Cirad, que predominava na região, e opções de outras culturas mais rentáveis, há quem veja nisso tudo um cenário favorável para o futuro.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação no Estado do Mato Grosso (Siamt), Marco Antonio Lorga, afirma que não há risco ao abastecimento da indústria mato-grossense em 2006 e acrescenta que este período difícil permitirá à orizicultura do Centro-oeste dar um salto de qualidade. “É um período de transição, no qual o setor abandona cultivares que o consumidor não quer e busca qualidade. Isso fará diferença no futuro. É um ajuste na rota”, afirma. Para descartar o risco de abastecimento, Lorga informa que a safra do estado mais o estoque de passagem somam 1,9 milhão de toneladas. O Mato Grosso tem uma capacidade industrial instalada de beneficiamento para 1,75 milhão de toneladas por ano.
FIQUE DE OLHO
Aumentou um terço a área plantada com a cultivar Primavera no Mato Grosso. De acordo com a Associação de Produtores de Arroz (APA), 80% da área plantada é de arroz longo fino e o restante ficará dividido entre cultivares como Cirad 141, que ultimamente não passa da classificação de longo.
Safra menor
Mais equilíbrio
A redução da safra no Mato Grosso permitirá um equilíbrio maior entre a oferta e a demanda. Isso é o que afirma o industrial Carlos Badotti. Para o empresário, o Mato Grosso deixando de ser o segundo maior produtor nacional perde em status, mas tem maiores chances de obter preços equilibrados. “Claro que o ideal é de que os dois estados tivessem reduzido bastante a sua área plantada, mas a nossa oferta está compatível com a nossa capacidade até o final do ano. Não vai ter sobra, até porque isso não é bom para ninguém”, lembrou o empresário. Badotti lembra também que o preço do arroz verde no posto de Cuiabá, na segunda quinzena de fevereiro, chegou a R$ 20,50 a saca, e isso é um reflexo da melhora do preço ao produtor. Destaca ainda que o consumidor não deve se preocupar com aumentos abusivos do produto.
Francisco Manzano também descarta o desabastecimento e lembra que internamente o Mato Grosso não consome 1,2 milhão de toneladas. “Temos sobra de arroz”. E ainda destaca que a maior oferta de arroz Primavera é uma garantia de maior qualidade ao consumidor. Jorge Luiz Piegas Bertolazi, da SLC Alimentos, afirma que “os boatos para estimular os preços podem existir, mas o que determinará a alta ou baixa é a lei da oferta e procura, aliada aos preços praticados no Mercosul”.
O presidente do Siamt, Marco Lorga, faz uma última ressalva sobre a questão: “É necessário adquirir maturidade como fluxo de abastecimento da cadeia produtiva. E, desta forma, o arroz beneficiado no Mato Grosso não perderá espaço na concorrência com outros estados”, frisou.