O supertransgênico contra o gorgulho
Praga é um dos principais problemas enfrentados pela lavoura de arroz no sul do Brasil
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A Embrapa Clima Temperado, sediada em Pelotas, no Rio Grande do Sul, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão desenvolvendo uma transformação genética da variedade de arroz BRS 7 Taim visando resistência ao gorgulho-aquático (Oryzophagus oryzae). Esse inseto, cujas larvas são conhecidas por bicheira-da-raiz, é a principal praga da cultura do arroz irrigado no Rio Grande do Sul. Causa perdas anuais de produção estimadas entre 10% e 30%, segundo explicou o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, José Francisco da Silva Martins.
Segundo ele, o controle do inseto tem sido feito fundamentalmente através da aplicação de inseticidas químicos, cuja má aplicação e distribuição podem gerar populações do inseto resistentes a tais produtos. Lembra também que os inseticidas são tóxicos ao homem e quando aplicados de modo irracional podem causam desequilíbrio ambiental. "Aí está a importância do desenvolvimento de plantas transgênicas de arroz irrigado resistentes ao inseto, que evitem ou minimizem a necessidade de aplicação de inseticidas químicos e atendam aos pré-requisitos de segurança alimentar e ambiental. São requisitos importantes para aumentar a competitividade da lavoura arrozeira", frisa o pesquisador.
Martins destaca que o objetivo do projeto é obter e avaliar plantas transgênicas de arroz irrigado, da cultivar BRS 7 Taim, com níveis variados de uma proteína (lectina-quitinase) proveniente de plantas de urtiga, seja em nível sistêmico ou ao nível das raízes, tornando o arroz resistente ao ataque das larvas. No trabalho conjunto, cabe à UFRJ a transformação de plantas e à Embrapa Clima Temperado a análise das cultivares obtidas do ponto de vista de resistência ao inseto e a incorporação desta característica a novas linhagens, dentro do programa de melhoramento genético já existente.
Questão básica
Como o transgênico vai agir contra o gorgulho?
Embora o modo de ação das lectinas no desenvolvimento de larvas de insetos não seja conhecido, é considerada a possibilidade de que seu efeito destruidor atinja a membrana que protege o intestino dos insetos contra o efeito abrasivo de partículas alimentares. A proteína poderá vir a alterar as propriedades físicas da membrana e impedir a sua formação, provocando, em algum dos estágios de desenvolvimento do inseto, a sua morte ou efeitos degenerativos à sua progênie.
Pesquisa pode direcionar a ação do gene para a raiz
Segundo o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Clima Temperado, José Francisco da Silva Martins, a identificação de elementos reguladores específicos de um determinado tecido pode resultar em importantes aplicações biotecno-lógicas. Isso poderá permitir a expressão de genes codificando características economicamente importantes. Existem genes capazes de provocar determinadas proteínas somente nas raízes da planta do arroz, onde o inseto ataca, ocasionando maior concentração de toxinas.