A gangorra continua
Safra vai e safra vem, e a única previsão com alto índice de certeza que pode-se fazer é que a gangorra vai continuar. Em uma safra como a 1999/2000, com produção superior ao consumo, os preços pagos ao produtor são baixos – estão na parte inferior da gangorra -, ocasionando uma safra futura (2000/2001) com redução de área e, por conseqüência, uma produção inferior ao consumo. E com isso fazendo com que utilize-se os estoques de safras anteriores (geralmente estoques governamentais) para suprir a demanda. Esta é a safra da transição – a gangorra está na horizontal.
Na próxima safra (2001/2002), devido à pequena recuperação de preços na comercialização da safra anterior, e via de regra atingida por condições climáticas desfavoráveis, a produção será levemente inferior, mas não há estoques de passagem e os preços pagos ao produtor sobem. Os preços passam para a parte superior da gangorra. Os preços altos estimulam o plantio, até como forma de recuperar as perdas nas safras passadas, e reinicia-se o ciclo da gangorra. É exatamente isto que ocorre com a produção de arroz do Rio Grande: a cada quatro ou cinco safras fecha-se um ciclo de instabilidade, onde o produtor não consegue casar boa produtividade com preços compensadores. Volta-se ao velho chavão: não há política agrícola no Brasil. Diante deste quadro perenizado na agricultura brasileira, é previsível que a próxima safra de arroz do Mercosul sofrerá redução de áreas de plantio, aliada à produtividade inferior (a falta de renda impede a aplicabilidade da tecnologia adequada).
A Argentina reduzirá a área em torno de 30%, estimando sua produção em 600 mil toneladas. O Uruguai reduzirá menos, cerca de 15% da área, produzindo aproximadamente 750 mil toneladas. Aqui no Rio Grande do Sul projeta-se uma produção 20% menor, alcançando quatro milhões de toneladas. Quanto ao resto do Brasil, as previsões indicam que as áreas se manterão, o mesmo acontecendo com as produções.
Comparando a safra atual com a próxima, produziremos menos 1,5 milhão de toneladas. Quantia quase que idêntica aos estoques de passagens projetados para este ano. É a fase horizontal da gangorra. Enquanto não tivermos uma política agrícola que garanta estabilidade de produção e preços justos ao consumidor, fica o produtor rural neste vai-e-vem da gangorra.
"Continua a crescer a demanda de arroz mundial e o Brasil fazendo trapalhadas com pequenos excedentes, ao invés de estar se preparando para suprir a projetada falta deste cereal no cenário mundial."
Quem é?
Adalberto Jardim Silveira é um dos principais consultores em agronegócios do Rio Grande do Sul, diretor da Centro.