Irri desenvolve o superarroz

 Irri desenvolve o superarroz

Zeigler: uma questão de resistência

Variedade será resistente às mudanças climáticas que atingem o planeta.

Cientistas do Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz (Irri, em inglês), com sede nas Filipinas, e da Academia Chinesa de Ciências Agrárias trabalham em avançadas pesquisas para o desenvolvimento de variedades de arroz capazes de ampliar a oferta mundial do produto no futuro com menor uso de defensivos e que também sejam resistentes às mudanças climáticas e outros estresses. O projeto Green Super Rice (GSR), ou Superarroz Verde, existe há 12 anos e atende a expectativa dos grandes países produtores e consumidores do cereal. Depois da crise mundial de alimentos em 2007 e 2008, o receio de escassez do cereal provocou uma mudança substancial das políticas de segurança econômica e alimentar, bem como do comércio mundial do arroz.

O presidente do Irri, Robert Zeigler, revela que as linhas de pesquisas avançam no sentido de gerar um leque de cultivares que ofereçam, entre outras vantagens, alta produtividade com menor uso de insumos, como fertilizantes, e que, principalmente, sejam resistentes às condições ambientais desfavoráveis, como inundações, seca, bactérias, ervas daninhas e alta salinidade da água. Todos estes são problemas que afetam a produção brasileira e, com a mudança climática prevista para os próximos anos, podem se tornar limitantes da cultura em todo o mundo. Em algumas regiões, como a China, a Índia e a África, a limitação por secas e inundações tornou-se constante.

“O cultivo de arroz consome 30% de toda a água empregada para fins agrícolas no mundo, sendo que na Ásia representa quase 80%. Isso impõe como prioridade a busca de variedades de menor dependência de irrigação”, diz Jauhar Ali, cientista da instituição, em entrevista à Agência EFE. O instituto internacional trabalha com a expectativa de um aumento de 40% na demanda mundial por arroz nos próximos 15 anos, enquanto de 15 a 20 milhões de hectares de cultivo sofrerão com a escassez de água. “Reduzir o volume de sementes, insumos e água sem perda de produtividade é a grande meta do projeto”, explica o pesquisador do Irri.

Em mais de uma década os cientistas envolvidos no projeto já cruzaram mais de 250 variedades de arroz, além de promoverem experiências com cultivares híbridas para obter plantas que tenham as características desejáveis dentro desta linha de pesquisa. “Já existem bons resultados com sementes melhoradas em experimentos realizados em 15 países da Ásia e da África, principalmente com relação à resistência aos terrenos secos, áreas inundadas, invasoras ou superfícies com alta salinidade”, revela Robert Zeigler. Uma curiosidade revelada pelos cientistas em alguns dos ramos desta pesquisa é que os mesmos genes relacionados na resistência à seca também favorecem a sobrevivência em áreas inundadas.

FIQUE DE OLHO

O desenvolvimento da pesquisa que busca a criação das variedades do superarroz verde, que envolve a comunidade científica internacional ligada à cultura, precisa vencer um desafio maior do que a complexa descoberta genética das características desejáveis das plantas. Um dos maiores obstáculos para produzir e levar as novas variedades de grãos pelos países que têm sua dieta baseada no cereal é a falta de dinheiro para financiar os projetos. Recentemente, a instituição recebeu US$ 18 milhões da Fundação Bill e Melinda Gates, criada pelo bilionário americano da Microsoft. Apesar de importantes, os recursos não são suficientes para levar o programa até o seu objetivo.

O milagre da evolução

O superarroz verde que está sendo desenvolvido pela comunidade científica será o substituto melhorado do Rice Milagro (milagre de arroz), denominação da variedade IR8, desenvolvida pelo Instituto Internacional de Pesquisas do Arroz (Irri) na década de 60, em consonância com a Revolução Verde. Na época, também havia a expectativa de uma crise mundial de alimentos que devastaria os países pobres da Ásia, África e América do Sul.

Essas variedades chegaram a multiplicar por 10 o rendimento por hectare nas lavouras, evitando que países da Ásia, como a Índia, sofressem colapsos de abastecimento.

O problema é que o IR8 – e as plantas que o sucederam -, obtido também pelo cruzamento de diferentes variedades arrozeiras e suas posteriores evoluções, exige um grande volume de água, fertilizantes e pesticidas para seu crescimento perfeito. Além disso, são variedades que não resistem bem aos fenômenos climáticos que vêm ocorrendo com maior frequência em todas as regiões produtoras do mundo. O cientista Jauhar Ali, do Irri, cita que a China, por exemplo, utiliza um terço da produção global de agrotóxicos e adubos e só tem 7% das terras cultivadas no planeta, o que causa uma grande poluição. “É insustentável”, alerta Ali.

Esta demanda por nutrientes para que as variedades modernas alcancem seu máximo potencial é exatamente um dos focos da pesquisa do Green Super Rice. Os cientistas entendem que o uso excessivo e indiscriminado de pesticidas afeta negativamente os ecossistemas, a saúde humana e o lucro do produtor, e a rápida redução do suprimento mundial de água, seja pelas mudanças climáticas ou a pressão do crescimento populacional e da poluição, também preocupa.

O programa não implica em modificações genéticas artificiais para um único tipo de planta, mas dezenas de cruzamentos de distintas espécies de arroz do mais completo banco de germoplasma do planeta, até chegar às plantas mais eficientes para as carências regionalizadas. O cientista Jauhar Ali destaca que o objetivo de sua equipe não é criar uma única variedade, mas adaptar as mais consumidas em cada zona do mundo às condições ambientais nas quais os grãos crescerão sem perda de qualidade e, ao mesmo tempo, com maior produtividade e sem a demanda de um volume tão grande de defensivos.

“É necessário adaptar estas características ao gosto de cada país ou região, porque, embora seja arroz, os produtos consumidos em cada um destes lugares são diferentes”, diz o pesquisador. Este é o caso de cultivares que nos experimentos realizados na Ásia e na África mostraram um crescimento mais rápido que as ervas daninhas, evitando, assim, a competição e o inço nas lavouras, mesmo sem uso de herbicidas.

QUESTÃO BÁSICA

Os bons resultados obtidos durante a fase experimental com o programa de desenvolvimento genético do superarroz encorajam os pesquisadores à pretensão de distribuir as sementes deste cereal entre, pelo menos, 20 milhões de pequenos agricultores. O prazo para que isso aconteça é de quatro a 10 anos. Segundo os cálculos do Irri, isso representará um aumento da produção mundial em cerca de 13 milhões de toneladas por safra e vai gerar para o setor o giro de US$ 2,6 bilhões adicionais.

Banco de germoplasma, nas Filipinas: fonte genética do superarroz

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