RS: investimentos em irrigação travam na energia

Um ano e meio após o lançamento do programa estadual para ampliar a área irrigada de grãos no Estado, o Mais Água, Mais Renda, apenas 127 mil hectares podem ser cultivados sem preocupação com o regime de chuvas. São 27 mil hectares a mais do que os 100 mil hectares da safra 2011/2012, quando as perdas por causa da forte estiagem representaram 50% da produção gaúcha de grãos.

A dificuldade de levar energia elétrica a áreas de lavouras tem limitado o uso da irrigação na produção agrícola do Rio Grande do Sul. Um ano e meio após o lançamento do programa estadual para ampliar a área irrigada de grãos no Estado, o “Mais Água, Mais Renda”, apenas 127 mil hectares podem ser cultivados sem preocupação com o regime de chuvas, ou 27 mil hectares mais que os 100 mil hectares da safra 2011/2012, quando as perdas por causa da forte estiagem representaram 50% da produção gaúcha de grãos. O Estado cultiva com soja e milho um total de 6 milhões de hectares.

A Federação de Agricultura (Farsul) diz que o avanço de 27% nas lavouras irrigadas no período não pode ser considerado pequeno, ainda que insuficiente para minimizar perdas nas lavouras, mas a Secretaria da Agricultura reconhece que o ritmo está abaixo do ideal. As indústrias e revendas de equipamentos de irrigação estimam que 20% dos projetos não saem do papel ou atrasam por falta de energia no campo. O produtor de soja Eduardo Condorelli, de Bagé, na região da Campanha, entrou em contato com a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) há cerca de dois meses para saber se haveria possibilidade de aumentar a carga de energia consumida para então fazer o investimento.

Ouviu em resposta que a rede de distribuição precisaria ser substituída e que isso ainda não estava no plano de investimentos da empresa. Sem perspectiva, decidiu abandonar os planos temporariamente. Em São Luís Gonzaga, no noroeste do Rio Grande do Sul, o produtor de grãos Jocemar Mattioni poderá ter de esperar por mais uma safra para ver o investimento de R$ 800 mil, contratado em setembro de 2013, resultar em maior produtividade e risco mais baixo contra estiagem.

Ele está construindo um reservatório de água enquanto espera a entrega do pivô, em março. No entanto, ainda não sabe quando poderá ligar o equipamento. A fazenda é atendida por uma cooperativa, a Cermissões, que contrata energia da Rio Grande Energia (RGE), da CPFL. Foi pedida a ligação junto à Cermissões no ano passado, mas dizem que em maio vão se posicionar. Não tem energia disponível. Os gargalos estão em toda a cadeia de fornecimento de energia. O Rio Grande do Sul tem capacidade instalada de geração de energia de cerca de 10 mil megawatts, mas há casos de usinas que não estão em operação, como a térmica de Uruguaiana.

Na prática, o Estado não produz mais do que 30% da energia que consome e depende fortemente do Sistema Integrado Nacional (SIN). Ainda que a dependência não seja um problema em si, já que a geração é interligada em todo o País, durante os picos de calor do verão o fornecimento beira o limite no Estado. No último mês de dezembro, quando foi feita a parada de manutenção da usina térmica de Candiota III, que tem capacidade de 350 megawatts, o fornecimento ficou instável, especialmente na Metade Sul do Estado, comprometendo a inundação das lavouras de arroz, cultura que no Estado é praticamente 100% irrigada.

Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Logística do Rio Grande do Sul (Seinfra), tanto os problemas de oscilação na rede registrados em dezembro quanto as limitações para novos investimentos devem ser resolvidos com o início das operações do “linhão”, transmissão que, no final de março, ligará Salto Santiago, no Paraná, até Nova Santa Rita, na Grande Porto Alegre. Com o aumento de energia para o Estado, as concessionárias passarão a fazer investimentos de distribuição. Quem não tem distribuição hoje passará a ter com o “linhão”.

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