Foco nos pequenos e médios
Papel das cooperativas é fundamental para atenuar o gargalo logístico
causado pelo déficit de armazenagem no estado
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A falta de armazéns é um problema estrutural com profundos reflexos na renda dos agricultores. Como a capacidade estática é insuficiente para receber a produção anualmente colhida, a alternativa adotada para amenizar o problema acaba sendo a exportação dos produtos imediatamente após a colheita. Ou seja, o agricultor se vê obrigado a vender sua produção em plena safra, momento em que os preços se encontram achatados devido à grande oferta.
Neste aspecto, as cooperativas, ao longo das últimas décadas, têm desempenhado um papel fundamental para atenuar o gargalo logístico causado pelo déficit de armazenagem no estado. “Com isso, mesmo aqueles pequenos e médios produtores que não dispõem de recursos para construir um silo ou um armazém em sua propriedade podem, através da cooperativa, dispor de sua produção conforme suas conveniências, comercializando com melhores preços e condições logísticas”, diz o gerente nacional de armazenagem de grãos da Armco Staco, Carlos Beutler.
Para o presidente da Federação das Cooperativas de Arroz do RS (Fearroz), André Barreto, o trabalho desempenhado pelas cooperativas é fundamental em todas as etapas do pós-colheita: secagem, classificação, beneficiamento e armazenagem. “Mesmo para quem dispõe de estrutura própria para a armazenagem do grão, estas são etapas que muitas vezes o produtor não domina e a cooperativa está apta a oferecer tecnologia e mão de obra especializada. Em muitos casos, o ganho em termos de rendimento é enorme se comparado ao trabalho do produtor que não está devidamente preparado”, assegura o dirigente. Conforme Barreto, as cooperativas deste segmento no RS, com sua atuação voltada ao pequeno e médio produtor de arroz, têm capacidade para armazenar 8.372.603 toneladas do cereal, sendo 7.757.042 toneladas em granel e 615.561 no sistema convencional.
O vice-presidente da Cooperativa Tritícola Sepeense Ltda (Cotrisel), Giancarlo Müller Pozzobon, chama a atenção para o fato de que as cooperativas também estão investindo na ampliação de sua capacidade estática de acordo com o crescimento da produção de seus associados. “A Cotrisel, por exemplo, duplicou sua capacidade de armazenagem em pouco mais de 10 anos”, pontua.
A Cotrisel atende a Região Central do RS, incluindo os municípios de São Sepé, Restinga Seca, Formigueiro, Vila Nova do Sul e São Pedro do Sul, além de produtores de municípios vizinhos, como Agudo, Dona Francisca e São Gabriel. De acordo com Pozzobon, a cooperativa tem capacidade estática para armazenar 40 mil toneladas de soja e 100 mil toneladas de arroz. “Atualmente, movimentamos por ano em torno de 4 milhões de sacas, ou seja, 200 mil toneladas. Ainda assim temos um déficit de 50 mil toneladas. Basicamente, armazenamos todo o arroz, enquanto a soja, até em função dos contratos fechados, é enviada para o Porto de Rio Grande. Todo o arroz é beneficiado. Dificilmente comercializamos algum volume em casca”, afirma o dirigente.
Pozzobon acrescenta que embora a cooperativa conte com 4 mil associados entre pequenos, médios e grandes produtores, o trabalho é focado no pequeno produtor. “Os grandes, que contam com armazenagem própria, trazem o produto seco para comercialização, apenas armazenam quando têm excedentes. Já os pequenos trazem para armazenar, secar e comercializar”, diz.
Soluções simples e de baixo custo
Estima-se que no Rio Grande do Sul, cerca de 3.500 orizicultores, entre pequenos e médios, ainda não possuem estruturas de armazenagem próprias, especialmente na Depressão Central. Esta carência, na avaliação do pesquisador do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Carlos Alberto Fagundes, faz com que o produtor, principalmente aquele que arrenda, tenha que delegar as etapas do pós-colheita a terceiros, como cerealistas, trades e cooperativas, o que acaba encarecendo a operação. “No caso do arroz, os custos com secagem e armazenagem podem chegar a 33% da produção total”, calcula.
Para esta importante parcela de produtores que não dispõem de recursos para investir em uma estrutura de armazenagem de médio ou grande porte, o Irga desenvolveu um projeto que possibilita de forma prática a construção de silos com custos mais baixos, no tamanho da necessidade de cada produtor. “O projeto Secagem e Armazenagem Sustentável de Grãos na Propriedade Rural permite que o produtor, tendo o Irga como responsável técnico, construa seu próprio silo metálico com capacidade entre 500 e 15 mil sacas, que pode ser pago com a renda obtida pela armazenagem própria”, informa.
Através de um dos núcleos de assistência técnica do Irga, o produtor pode elaborar o projeto técnico, contratar a mão de obra e acessar pelo menos duas linhas de crédito para investir em armazenagem própria: o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns, com taxa de 3,5% ao ano, e o Pronaf Mais Alimentos, com juros de até 2% ao ano. “Já existem muitas pequenas empresas no estado que executam a obra de acordo com o projeto”, ressalta Fagundes.
Ele faz um cálculo comparativo para exemplificar a viabilidade econômica do projeto: “Considerando um volume de 5 mil sacas, tendo como valor de referência R$ 33,60 o preço da saca, o custo de armazenamento com terceiros, ou fora da propriedade, que inclui a taxa de secagem e frete, entre outras, acaba saindo por R$ 42.504,00. Já na propriedade com estrutura própria o armazenamento fica em R$ 25.138,40. Ou seja, a economia é de R$ 17.365,60, valor superior a uma prestação”, compara.
O projeto, conforme o pesquisador do Irga, teve início no ano de 2000, mas foi aperfeiçoado a partir de 2013. “Já temos várias unidades instaladas e em funcionamento nos municípios de Dona Francisca, Agudo e Faxinal, por exemplo, e o número de consultas nos núcleos de assistência técnica do Irga tem aumentado”, comemora.
Outra solução simples e de baixo custo para a secagem e armazenagem de grãos em pequenas propriedades vem sendo incentivada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RS): o silo de alvenaria. Este modelo de estrutura pode armazenar até 3 mil sacas e os custos de construção variam de R$ 5 mil a pouco mais de R$ 20 mil, conforme a capacidade de armazenamento.
Por ser mais barato do que os outros tipos, este silo pode ser construído com mão de obra familiar e materiais de baixo custo, como cimento, areia, brita, malha de ferro e tijolos maciços. Na parte interna utiliza-se madeira para a construção de um estrado revestido por uma tela de arame galvanizado, que impede que os grãos entrem em contato com o solo e permite que o ar gerado pelo ventilador circule dentro da estrutura. O custo para secagem, por saca, varia de R$ 0,10 a R$ 0,20.