Arroz vai a Brasília
Presidente da UCR pediu ajuda ao Ministério da Agricultura.
A crise que castiga a lavoura de arroz foi debatida durante cerca de três horas na manhã de ontem, em audiência de produtores rurais, deputados e dirigentes de entidades que representam os agricultores com o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, em Brasília.
Apesar de considerar o encontro positivo por dar sequência ao diálogo iniciado na semana passada com a ministra Kátia Abreu, que esteve em Porto Alegre, o presidente da União Central dos Rizicultores (UCR), Pinto Kochenborger, segue preocupado.
“O problema agora é saber se nós teremos como acessar crédito para plantar a nova lavoura”, frisa Pinto. Um dos pedidos dos agricultores era a prorrogação do vencimento das parcelas de custeio da lavoura. O pedido foi aceito pelo Banco do Brasil e o vencimento das parcelas de julho e agosto ficou para novembro e dezembro.
Pinto teme que, após prorrogarem o pagamento da dívida, alguns produtores não tenham limite para um novo empréstimo. Nassar destacou que irá solicitar a facilitação para a tomada de financiamento da safra que está iniciando. Ele afirmou que o “Ministério da Agricultura não irá medir esforços. O que precisar fazer pelo arroz será feito”.
PREÇO MÍNIMO
Pinto afirma que a ideia dos produtores é sentar com a ministra Kátia Abreu ainda neste mês para discutir os critérios adotados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a fixação do preço mínimo do arroz.
Ele observa que a Conab aponta o custo variável para produzir uma saca do arroz em R$ 31,40, mas definiu o preço mínimo em R$ 29,67. “Estamos decepcionados com a Conab. Vieram a Cachoeira e passaram uma manhã toda discutindo o custo conosco para isso?”, critica Pinto.
A comissão de agricultura da Câmara dos Deputados aprovou o requerimento feito pelo deputado federal Luis Carlos Heinze, que propõe uma audiência pública com Kátia Abreu para a próxima quinta-feira, 9 de julho, para debater os critérios usados pela Conab.
Heinze enfatiza que a Conab não revisou pontos fundamentais para a produção do arroz e que contribuem com a elevação dos custos. Segundo o deputado, a elevação dos juros para a safra 2015/16, a manutenção dos sistemas de irrigação e os aumentos nos preços da energia elétrica e óleo diesel teriam de ser considerados. A portaria que define o preço mínimo do arroz para a safra ainda não foi publicada.
ATENÇÃO
O presidente do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Guinter Frantz, esteve na audiência em Brasília, acompanhado pelo diretor comercial Tiago Barata.
Eles foram acompanhados pelo presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, que também representou a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
IMPORTANTE
O Banco do Brasil financiou R$ 155 milhões em crédito rural aos agropecuaristas na safra passada em Cachoeira do Sul, dinheiro destinado ao custeio de lavouras e investimentos, além da comercialização de produtos.
Na agência do Centro, que trabalhou com R$ 80 milhões, foram destinados R$ 33 milhões para custeio. Para os produtores enquadrados no Pronaf, a agência destinou R$ 14 milhões.
O resto do recurso foi para investimento e comercialização da produção.
O banco não tem ainda um levantamento detalhado sobre quantos produtores foram atendidos, e nem a área financiada. Sobre o destino do dinheiro, 62% foi para o arroz, 25% para a soja e 13% foi investido na pecuária.
Hora de segurar o arroz
Segundo o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles, a mensagem que os arrozeiros queriam transmitir de que o setor não vive um bom momento foi elucidada na reunião de ontem em Brasília. Ele observa que o Ministério da Agricultura informou que está trabalhando junto aos bancos no sentido de facilitar as renegociações.
“Isto é algo momentâneo do mercado e precisamos diminuir a oferta para chegarmos a uma estabilidade e posterior aumento dos preços”, frisa Dornelles.
Ele destaca que o Ministério da Agricultura se comprometeu a empenhar-se para conseguir os alongamentos sobre a renegociação de 2013 “para dar mais serenidade ao mercado para que os produtores possam negociar melhor o produto”.
PARA SABER MAIS
Carta de Cachoeira
Os pedidos dos arrozeiros e o que já foi atendido:
* Prorrogar os vencimentos das contas por 90 dias, seja custeio, investimento, comercialização ou renegociação.
O custeio foi prorrogado.
* Carência de dois anos para pagar as dívidas. Os pagamentos devem ser anuais, limitados a 5% do faturamento bruto do produtor pela média dos últimos 10 anos.
* Exclusão do nome dos arrozeiros gaúchos dos órgãos de restrição de crédito.
* Liberação imediata de recursos controlados para a safra 2015/2016.
O recurso foi liberado quarta-feira.
* Reunião com a ministra Kátia Abreu.
Produtores conversaram com a ministra em Porto Alegre.
* Campanhas de incentivo ao aumento do consumo de arroz no Brasil.
* Incentivo à exportação de arroz.
* Liberação da comercialização de defensivos genéricos.
* Desconcentrar datas de vencimento do custeio agrícola para reduzir a oferta em um prazo curto.
* Redução da carga tributária de insumos, especialmente da energia elétrica, fertilizantes e óleo diesel.