A produção de alimentos está no DNA dos gaúchos
Aos 41 anos de idade, o novo secretário da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul, Ernani Polo, tem pela frente um grande desafio: trabalhar de forma integrada para fortalecer a atividade agropecuária gaúcha em um momento de extrema dificuldade para as finanças do Estado.
Com uma história de vida intimamente ligada ao setor primário, Ernani Polo é também um dos mais jovens políticos gaúchos a comandar a pasta. Nascido em Ijuí e criado em Santo Augusto, é formado em Direito pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e possui formação como técnico em contabilidade, além de ser agricultor.
Polo iniciou sua carreira na política em 2000 como vereador mais votado da história de Santo Augusto. Em 2010 concorreu a deputado estadual pelo Partido Progressista e no ano seguinte assumiu cadeira no parlamento gaúcho. Em seu mandato priorizou o setor primário, com diversos projetos, além de presidir a comissão de agricultura, pecuária e cooperativismo da Assembleia, ocasião em que desenvolveu o projeto Radiografia da Agropecuária Gaúcha. Nas eleições de 2014 foi eleito deputado estadual com 57.427 votos, o 10º mais votado ao parlamento gaúcho.
Nesta entrevista exclusiva para a revista Planeta Arroz, Ernani Polo fala sobre seus planos para o setor, política agrícola, novos projetos e, sobretudo, a necessidade de se trabalhar para a solução dos principais gargalos que comprometem a competitividade da atividade agrícola no estado: “O agricultor vem fazendo a sua parte, investindo em tecnologia, buscando inovar e agregar valor à produção. No entanto, ainda temos alguns entraves fora da porteira, como infraestrutura, alta carga tributária e outros fatores que representam custos ao produtor”.
Planeta Arroz – Como surgiu o convite para a Secretaria da Agricultura?
Ernani Polo – Foi um processo natural, que teve início a partir da construção do governo. O Partido Progressista, que no primeiro turno participou das eleições com a senadora Ana Amélia Lemos, não chegou ao segundo turno, então decidiu apoiar a candidatura de José Ivo Sartori ao governo do estado. Com sua vitória começaram as tratativas para a formação do governo, com a possibilidade do nosso partido ocupar a Secretaria da Agricultura. Meu nome surgiu pelo vínculo e minha história com o setor primário. Minha vida está identificada com a atividade agropecuária. Em meu primeiro mandato como deputado estadual gaúcho presidi a comissão de agricultura pela relação com o setor.
Planeta Arroz – Fale um pouco sobre sua relação com a atividade agrícola.
Ernani Polo – Eu sou agricultor. Trabalhei nesta atividade desde o início da minha vida, inicialmente na produção de grãos, como soja, trigo e milho, e posteriormente na pecuária. Passei oito anos tirando leite, além de exercer a atividade de inseminador. Então, posso afirmar que tenho uma relação histórica com o campo. Minha família até hoje tem propriedade no município de Santo Augusto.
Planeta Arroz – Que avaliação o senhor faz sobre o atual momento vivido pelo setor agrícola no estado?
Ernani Polo – Temos acompanhado os setores agrícola e pecuário e observamos um crescimento significativo tanto qualidade quanto em quantidade. Percebemos que dentro da propriedade o agricultor vem fazendo a sua parte, investindo em tecnologia, buscando inovar e agregar valor à produção. No entanto, ainda temos alguns entraves, como as questões de infraestrutura, logística, energia elétrica e segurança no campo, que são nossos principais desafios, pois representam custos para o produtor. Neste aspecto, temos o desafio de trabalhar de forma integrada com outras secretarias, porque muitas vezes a solução dos problemas não está na alçada da Secretaria da Agricultura, mas são problemas que afetam os agricultores.
Planeta Arroz – E que ações estão sendo tomadas já neste início de governo?
Ernani Polo – Estamos trabalhando de maneira muito próxima com as secretarias de Transporte, Minas e Energia, Segurança e Meio Ambiente para atender estas questões. Outro foco do nosso trabalho diz respeito à sanidade animal. Precisamos melhorar o status sanitário de toda a pecuária do RS, que é fundamental para que possamos acessar novos mercados. Queremos também potencializar o processo de agroindustrialização, visando agregar valor aos produtos, porque isso gera empregos e contribui para melhorar a economia do estado. Temos um programa chamado Gestão de Água, Solos e Microbacias, que ainda está em fase de formatação. Este trabalho será coordenado pela Secretaria da Agricultura com o apoio de outras secretarias, órgãos de governo, entidades de pesquisa e universidades para que possamos potencializar o melhoramento do solo, o aumento da produtividade e a preservação do meio ambiente.
Planeta Arroz – Que orientação o senhor tem recebido do governador Sartori para atingir estes objetivos?
Ernani Polo – É manter sempre aberto o canal de diálogo com o setor produtivo. O grande objetivo de nossa gestão é não andar nem à frente nem atrás, mas ao lado do produtor, e de forma integrada junto às entidades com as quais mantemos um relacionamento muito próximo, como instituições de pesquisa, federações, sindicatos e cooperativas. Queremos cumprir nosso papel em sintonia com o agricultor que está lá na ponta, mas também com todos os setores da cadeia produtiva no estado. Além disso, mantemos um diálogo constante com o governador, que tem dado todo o apoio e atenção ao setor, pois temos no RS uma gama muito ampla de produção.
Planeta Arroz – Qual a sua percepção da lavoura orizícola gaúcha?
Ernani Polo – O arroz é o cereal mais consumido no mundo, e no RS o potencial de produção é extremamente grande e positivo. Temos acompanhado a evolução do setor e o Irga vem fazendo um grande trabalho em busca, através da pesquisa, da difusão de tecnologias e da assistência ao produtor. Trata-se de uma cultura que vem experimentando um crescimento fantástico de produtividade e de qualidade ao longo das últimas safras. Este é um processo que envolve o desenvolvimento de novas cultivares, novas tecnologias, onde o agricultor também tem sido muito eficiente. Um exemplo são os níveis de produtividade obtidos pelas lavouras gaúchas, que estão entre os maiores do mundo. É uma lavoura que trabalha com a sustentabilidade, o que é fundamental. Sua importância não se restringe apenas ao ponto de vista econômico, mas também ao social, já que são muitas famílias envolvidas com esta atividade. Então, o arroz cumpre um papel importante no contexto econômico e social do estado.
Planeta Arroz – O senhor concorda que o produtor de arroz vem sendo muito penalizado também no que diz respeito à questão tributária?
Ernani Polo – A alta carga tributária em cima da produção de alimentos é um problema que todos os setores da produção enfrentam. Além disso, temos um alto custo de produção se comparado a de outros países. Isso envolve desde a aquisição de produtos químicos, como fertilizantes e outros insumos para a lavoura, até a compra de máquinas agrícolas. E isso tira a nossa competitividade. Sabemos que o nosso produtor é competente, mas em muitos momentos ele não é competitivo justamente por estes fatores. E a carga tributária é um peso significativo. Este é um processo que precisa ser trabalhado. O Estado vive um momento de dificuldade do ponto de vista econômico, então, temos que discutir essas questões, porque a alta carga tributária, somada aos elevados custos de produção, realmente dificulta a vida e até a permanência dos produtores na atividade. Esta é uma situação em que temos de buscar soluções dentro de nossas possibilidades tanto para equacionar estes problemas quanto para potencializar os setores da produção no RS.
Planeta Arroz – A ampliação das exportações e a conquista de novos mercados para o arroz do RS estão entre as prioridades do governo?
Ernani Polo – Sem dúvida. A exportação é um desafio permanente, mas temos que superar ainda alguns entraves com acordos bilaterais e outras questões que ainda inibem o aumento das vendas externas e a conquista de novos mercados para o arroz produzido no RS. Para a nossa secretaria, este é um desafio não apenas do arroz, mas de vários produtos onde temos produção excedente ao nosso consumo. E precisamos buscar destinação para este volume excedente. No momento em que pudermos ampliar nossos mercados, temos a convicção que isso dará uma melhor perspectiva ao produtor. Para isso, estamos trabalhando de forma integrada com a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e com o Irga, através de seus presidentes Henrique Dornelles e Guinter Frantz, respectivamente, buscando soluções para as exportações do nosso arroz.
Planeta Arroz – E como fica a situação da Cesa neste processo?
Ernani Polo – Estamos buscando a ampliação e a qualificação do terminal da Cesa, no Porto de Rio Grande, para melhorar as condições deste espaço importante para o escoamento da nossa produção. Temos trabalhado junto com a Federarroz e com o próprio Irga para que possamos criar as melhores condições possíveis para a armazenagem e o escoamento do arroz, além de outros produtos, através daquele terminal. As parcerias público-privadas são alternativas que estamos estudando, sobretudo em um momento em que não temos a capacidade de bancar um investimento tão alto. Esta é, sem dúvida, uma de nossas prioridades.
Planeta Arroz – Qual a sua posição em relação à taxa CDO?
Ernani Polo – Temos plena consciência que a taxa CDO recolhe valores superiores do que o próprio Irga posteriormente tem para investimentos, mas por outro lado sabemos das dificuldades financeiras do Estado. Vamos trabalhar buscando equacionar esta situação com o máximo de retorno para o Irga, até porque, a taxa CDO foi criada com essa finalidade e ao longo dos anos e dos governos esses valores não foram todos repassados ao instituto, ou seja, os recursos foram ficando no caixa único. Nosso esforço dentro das possibilidades que dispomos, e isso já vem sendo trabalhado e conversado internamente, é fazer com que estes recursos voltem para o setor para serem investidos em pesquisa. Temos plena consciência de que esses valores são fundamentais para que o produtor possa continuar investindo na lavoura, seja através de novas cultivares ou de novas tecnologias desenvolvidas pelo Irga. Não queremos criar uma falsa expectativa daquilo que não podemos cumprir, mas o esforço é no sentido de que possamos ao máximo possível fazer com que estes recursos sejam reinvestidos no setor.
Planeta Arroz – O senhor gostaria de fazer alguma consideração final?
Ernani Polo – Gostaria de reiterar nosso compromisso e nossa parceria com o produtor gaúcho. Sabemos que o potencial agrícola do RS é fantástico. Temos clima, temos solo e, principalmente, um material humano extraordinário. Creio que o dom e a vocação para produzir alimentos estão no DNA da nossa gente, basta ver que há gaúchos espalhados por todo o Brasil. Nossa missão e nosso desafio são potencializar ao máximo essa vocação natural contribuindo de todas as formas para o crescimento da agricultura do estado.