Um olho no céu e outro na lavoura

Previsão de El Niño deixa produtores de arroz em alerta no RS e SC
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O inverno, que teve início no dia 21 de junho, deverá registrar precipitações acima da média no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A chuva em excesso é decorrência do fenômeno El Niño, que provoca um aumento da temperatura das águas do Oceano Pacífico. Caso o fenômeno se prolongue além do inverno, poderá haver problemas para quem irá preparar o plantio das culturas de verão, como a do arroz e a da soja.

O El Niño não era sentido no estado desde os anos de 2009 e 2010, quando alternou períodos de temperaturas amenas com as de extremo frio. As previsões para este inverno já estão deixando o setor arrozeiro em alerta, já que o excesso de chuvas prejudica a semeadura do arroz, reduzindo a produtividade e aumentando ainda mais os custos de produção, que atualmente estão desestimulando produtores a seguirem na atividade.

Entretanto, conforme o agrometeorologista da Somar Meteorologia (SP), Marco Antônio dos Santos, o fenômeno não deverá ser tão intenso neste ano. “Tudo indica que o El Niño não terá aquela configuração clássica. Estamos prevendo um inverno chuvoso, muito parecido com o de 2014. As precipitações deverão ocorrer com maior intensidade entre o final de julho e começo de setembro. Com o início da primavera, as temperaturas deverão permanecer mais baixas e as chuvas migram para o Sudeste. Portanto, deveremos enfrentar as mesmas dificuldades do ano passado”, prevê.

Santos estima que esta configuração climática possa dificultar um pouco o início do plantio da lavoura irrigada de arroz no RS. “A recomendação é antecipar o preparo do solo para melhor aproveitar as janelas de tempo bom para o plantio. Quanto mais rápido o produtor deixar a área preparada, melhor”, considera.

Para o pesquisador em agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS), Silvio Steinmetz, as consequências do El Niño para a lavoura de arroz irrigado no RS vão depender muito das características do evento, principalmente em relação à quantidade e distribuição das chuvas, da disponibilidade de radiação solar e da ocorrência de temperaturas máximas e mínimas durante as fases críticas da planta.

De acordo com Steinmetz, o lado positivo do El Niño, se forem confirmados os prognósticos de chuva acima da média, é que os reservatórios de água estarão na sua capacidade plena, não faltando água para a irrigação das lavouras durante os meses de maior demanda, ou seja, no verão. “Por outro lado, se as chuvas forem muito frequentes durante o período de preparo da área e semeadura poderá ocorrer atraso na semeadura”, estima.

Este atraso, segundo ele, poderá acarretar decréscimos de produtividade, especialmente se forem ultrapassados os períodos de semeadura recomendados pelo Zoneamento Agrícola (http://www.agricultura.gov.br). “Em geral, semeaduras feitas além do período recomendado têm menor potencial de produtividade”, observa Steinmetz. “Outras dificuldades poderão ocorrer durante o ciclo da cultura, já que as variáveis que mais afetam a produtividade são a disponibilidade de radiação solar e a ocorrência de baixas temperaturas durante as fases críticas da planta. Em geral, em dias chuvosos e/ou nublados, comuns em anos de El Niño, os níveis de radiação solar são mais baixos, podendo afetar a produtividade”, complementa.

FIQUE ATENTO
O pesquisador em agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado, Silvio Steinmetz, dá algumas dicas sobre o que os produtores podem fazer para amenizar os impactos negativos do El Niño

– Recomenda-se que os produtores acompanhem as informações geradas pelos boletins do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul (Copaaergs) no site http://www.agrometeorologia.rs.gov.br.

– Consultar os serviços de previsão de tempo e clima para o planejamento, manejo e execução das operações agrícolas em www.agrometeorologia.rs.gov.br, www.inmet.gov.br, www.cpmet.ufpel.tche.br, www.cemet.rs.gov.br e www.cptec/inpe.br.

– Consultar a assistência técnica de Emater, Irga, cooperativas e outras entidades para o planejamento e implantação das lavouras de primavera.

– Seguir o zoneamento agrícola e observar a indicação de cultivares e épocas de semeadura por município (http://www.agricultura.gov.br), semeando primeiro cultivares de ciclo tardio, seguidas das de ciclo médio e precoce e, por último, das de ciclo muito precoce.

-Evitar semeadura em áreas sujeitas a inundação.

– Para as semeaduras do cedo, entre o mês de setembro até meados de outubro, quando a temperatura do solo é baixa, atentar para que a profundidade de semeadura não seja superior a dois centímetros a fim de evitar redução no estande de plantas e a consequente desuniformidade no estabelecimento inicial da cultura.

– Tendo em vista a ocorrência de El Niño, com alta probabilidade de chuvas acima da normal durante a primavera, atentar para drenagem após o estabelecimento da lavoura para evitar prejuízos no estabelecimento inicial caso ocorra excesso de chuva.

– Iniciar a irrigação definitiva quando as plantas estiverem no estágio de três a quatro folhas, fazendo a aplicação da adubação nitrogenada em cobertura, preferencialmente em solo seco, antes da entrada de água.

– Evitar o uso de altas doses de nitrogênio na segunda adubação de cobertura em função da possível diminuição da luminosidade, que reduz a resposta da adubação nitrogenada.

– Monitorar a lavoura devido ao possível aumento de incidências de doenças em função das condições meteorológicas.

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