Safra gaúcha cairá 12%,5 e arrozeiro ficará de novo sem pré-custeio

Setor mantém discurso do custo de produção equivalente ao preço atual buscando reduzir custos da energia e obter pré-custeio, mas governo joga linha de crédito para a conta e risco dos bancos.

O atraso nas operações de semeadura provocado pelas chuvas que ocorrem em intervalos de dois a três dias nas regiões produtoras, os dias nublados e o alto custo de produção deverão impactar negativamente na safra de arroz 2015/16 do Rio Grande do Sul. O diretor-técnico do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Maurício Fischer, apresentou um panorama negativo para a safra na reunião da Câmara Setorial, em Brasília, na última quarta-feira (2/12), segundo ele, 20% das lavouras não havia sido semeadas até a semana passada por causa do clima adverso.

Na explanação aos representantes da cadeia produtiva, Fischer afirmou que a área cultivada não deve ser superior a 1,04 milhão de hectares nessa temporada, mas além da diminuição de área haverá uma queda importante na produtividade por causa do impacto climático. “Trabalhamos com a perspectiva de uma redução de 12,5% na produção, de 8,7 milhões de toneladas obtidas no ciclo passado, para algo entre 7,6 e 7,7 milhões”, informa.

Ele reconhece que na temporada 2014/15 também houve atraso por causa do clima, mas assegura que o cenário adverso afetou regiões mais pontualmente, e não tão gravemente quanto o atual. “Houve perdas também, mas a situação de 2015 é muito mais grave por alcançar todas as regiões de produção e um período maior de chuvas e enchentes”, reconhece.

Embora a expectativa dos climatologistas seja de que o fenômeno climático El Niño, em uma das ocorrências mais fortes de sua história, deverá persistir até abril, Fischer assegura que o comportamento entre janeiro e março é que vai determinar se haverá alguma recuperação. Na última temporada, depois de estimar perdas expressivas, a cadeia produtiva viu uma recuperação espantosa por uma ótima luminosidade no verão.

Apesar do atraso no plantio, o Rio Grande do Sul colheu uma das suas três maiores safras. A tecnologia aplicada foi indicada como a responsável pela ótima resposta ao clima favorável. No entanto, os técnicos do Irga lembram que a área era pelo menos 7% maior do que a atual.

Para reduzir os custos de produção, os arrozeiros estão esperando que o Senado da República aprove a Medida Provisória 688, que isenta a agricultura irrigada da bandeira vermelha – que representa a maior tributação pela energia elétrica em períodos de baixa produção das hidrelétricas – e acrescenta R$ 2,00 por saca de arroz produzida. PRÉ-CUSTEIO O setor produtivo também vem mantendo contatos com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para assegurar a liberação de recursos de financiamento da comercialização, o chamado pré-custeio e recursos do Financiamento para Estocagem de Produtos Agropecuários Integrantes da Política Geral de Preços Mínimos (FEPM).

No entanto, com os cortes de orçamentos que afetou inclusive o custeio do seguro rural, a expectativa de sucesso é baixa. No MAPA a informação obtida por Planeta Arroz é de que a nova realidade brasileira e a escassez de recursos estabelecerá que as instituições financeiras conduzam as suas linhas de crédito.

Ou seja, pré-custeio só por conta e risco dos bancos e com as exigências e custos que eles determinarem. Situação igual ou pior à de que 2015, quando boa parte dos produtores não conseguiu “carregar” a colheita até o segundo semestre e, pressionado pelos compromissos foi obrigada a vender o arroz na “baixa”, logo após a safra. Com a abertura do processo de impeachment contra a presidente da República, a tendência é de concentração do governo no foco político.

Em Brasília não é descartada uma volta da ministra da Agricultura, Kátia Abreu, ao Senado, pois é considerada uma importante aliada da presidente. Isso não só geraria uma ruptura nas negociações já iniciadas, como exigiria toda uma retomada das negociações, uma vez que a atual equipe já tem conhecimento do cenário.

Sob essa nova realidade, no cenário econômico, os analistas já trabalham com uma expectativa de alta dos juros nos primeiros meses de 2016. Isso tudo influenciará os volumes e as condições do crédito a ser liberado – se for. Diante dessa situação, o arrozeiro que costumava tomar financiamento para “segurar” a safra e obter melhores preços no segundo semestre (embarrigar as contas, no linguajar de algumas regiões), ou vai ter que apresentar novas e consideráveis garantias aos bancos para acessar linhas de crédito, ou precisará encontrar outra fórmula.

4 Comentários

  • oi

  • Desculpa, fiz um comentário sem querer.

  • A safra gaúcha caíra somente 12.5 % ? cálculos matemáticos bem avançados e complexos devem ter sido usados para se chegar a este percentual, mesmo sem o término do plantio, não é mesmo ? pelo jeito já se consegue calcular o percentual de grãos estéreis em panículas de lavouras plantadas fora época ideal. Nada se compara a tecnologia utilizada pelos nossos órgãos de pesquisa e extensão rural em se tratando de projeções e estimativas. Rsss

  • Estimativa, pode ser 12,5 com margem de erro de 20%

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