Tradicional PF resiste ao aumento no preço dos alimentos em Florianópolis

 Tradicional PF resiste ao aumento no preço dos alimentos em Florianópolis

PF custa, em média, R$ 12 no centro da cidade

Os preços dos pratos feitos giram em torno de R$ 12. O valor depende muito do tipo da carne.

No Bar do Gaúcho, que fica no coração de Florianópolis, logo atrás do antigo Terminal Central, as mesinhas estavam cheias nesta quinta-feira. Com razão. Um pratão fundo com arroz, feijão, macarrão, salada e carne, que o cliente pode escolher entre bisteca, frango grelhado ou costela, custa R$ 10. Mesmo com a aparência de movimento, a sócia do restaurante, Caroline Zabiela, 21 anos, diz que a clientela diminuiu pelo menos 50% de um ano para cá, com a crise econômica. Antes, havia fila para comer. Para piorar, nos últimos três meses, os alimentos como feijão, batata e tomate — sem contar o preço da carne de gado, que há temos está alta — aumentaram muito, e colocar as contas e o lucro na ponta do lápis ficou muito mais difícil.

— O prato não mudou de tamanho e nem de preço. Tem que ter arroz, feijão, carne e uma salada. Estamos cortando despesas de nossa vida pessoal para não perder a clientela, que pode se afastar ainda mais se aumentarmos o valor do PF— explica Caroline.

A realidade é compartilhada com quase todos os comerciantes da região. Os preços dos pratos feitos giram em torno de R$ 12. O valor depende muito do tipo da carne. De um prato com arroz, feijão, salada e frango por R$ 9, chega a R$ 22,99, se a escolha for uma carne de primeira. Com bife acebolado, a maioria colocou o preço de R$ 12, R$ 14, R$ 16 ou R$ 17. Muitos lugares capricham: colocam o feijão numa cumbuca separada e salada num outro pratinho. Também há opção com tainha. Podem ser encontrados PFs com peixe por R$11, R$ 12 e R$ 14, na região do Largo da Alfândega.

O comerciante Olegário João Souza, 64, há 30 anos tem a lanchonete e restaurante Pink, e confirma que este é o período mais delicado que já passou na vida. Ele oferta o PF por R$ 11 e a marmita por R$ 11,50. Tem frango a milanesa, assado e carne de panela.

— A gente está aguentando. Não dá para mudar o preço, então o retorno para a gente é bem menor. Mas tem que trabalhar — chega à conclusão.

No começo do ano, a Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert) fez uma pesquisa em várias capitais do Brasil e identificou uma média de R$ 28,94 por PF em Floripa. Claro, se chegou a este valor somando os pratos mais populares até os pratos executivos mais caros .

Marmitinha

Numa cidade onde foram perdidos quase 1,2 mil empregos em um único mês, em maio, nem o prato cheio e com valor justo é o suficiente para segurar a clientela. O casal Tais Lorena de Jesus Brito, 20, e João Carlos de Amorim Lemos, 31, precisaram ir ao Centro e mesmo achando que os preços dos PFs estavam bons, optaram em comer um lanche, que custava R$ 4,50. João está à procura de um emprego e ela trabalha como auxiliar de cozinha.

— Os preços não são ruins. Mas ainda fica mais em conta fazer comida em casa. Não está fácil. A gente come pouco fora — conta Tais.

Foto: Felipe Carneiro / Agencia RBS

Os comerciantes chegaram a esta mesma conclusão: o pessoal está levando a marmitinha ao trabalho. Mesmo com o feijão subindo quase 30% e a batata 50%, comer em casa ainda é mais em conta.

— Com a crise, menos pessoas estão comendo fora. Estão trazendo a marmita ao trabalho e cozinhando em casa. Tem muita gente também trocando o prato pelo salgado — observou o dono do Super Sucos, Cristiano Gomes, 36.

No restaurante dele, os preços dos PFs vão de R$ 15 a R$ 17 e variam conforme o tipo de carne. Na promoção, o suco está incluso.

Cesta básica que mais sobe

Na quarta-feira, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou os valores da cesta básica do mês de junho em Floripa e o resultado foi aquele que os comerciantes já estavam sentindo no bolso: um aumento de mais de 10% — o maior do país.

— O feijão e o arroz aumentaram muito, mas a nossa maior preocupação foi com a batata. Precisa ter uma batata no prato, não tem jeito. Mas não temos como repassar ao cliente este valor — contou o gerente do restaurante Grelhados da Ilha, Nilton Brandtner, 53.

E a batata levou justamente o troféu de mais cara em junho: aumentou 49,94%. O feijão aparece em seguida, com 29,72%. O tomate aumentou 14,41%, a carne bovina 4,28% e a farinha de trigo 4,14%. Já o preço do arroz não variou entre maio e junho, mas continua pesando no bolso.

— Tá muito caro. Um saco de 30 quilos de feijão, que pagávamos antes R$ 30, chegou a R$ 120. O tomate custava R$ 20 uma caixa de 20 quilos, e chegamos a pagar R$ 80 —complementa Caroline, sócia do Bar do Gaúcho.

Custo de vida também está alto

A cesta básica sobe e o custo de vida em Floripa também. A Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) divulgou nesta semana a pesquisa realizada pelo Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas (Esag) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que verificou um aumento de 4,87% em seis meses no custo de vida. Em junho, o Índice de Custo de Vida na Capital chegou a 0,30%. A alta mais significativa foi justo no ramo alimentício: 0,25% neste mês.

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