Como um tango

Drama, perdas e esperança
se mesclam no roteiro
da produção e da comercialização do
arroz argentino
.

Poderia servir de roteiro para um tango o misto de drama, perdas, determinação para dar a volta por cima e esperança de dias melhores que formam o cenário das últimas safras e comercialização do arroz argentino. Com o maior estoque de passagem do trio de parceiros do Mercosul depois de não conseguir preços para escoar toda a sua produção em 2015/16, a Argentina arrancou na temporada comercial 2016/17, conseguindo colocar bons volumes em leilões de compra no Oriente Médio – alguns em parceria com o Uruguai – e disputar mercados nas Américas do Sul e Central e África. Além disso, experimenta a retomada dos embarques a partir do porto de Concepción del Uruguay, em Entre Rios. Além da origem entrerriana, o cereal embarcado parte das províncias de Corrientes, Formosa e Chaco.

A dor ensina a gemer. É frente às dificuldades que se busca soluções com ainda mais vigor. E assim, paulatinamente, o grão castelhano começa a avançar também sobre a demanda brasileira. Tradicionalmente, os produtores argentinos buscam a comercialização no segundo semestre com o Brasil, quando os preços são mais compensadores e há um aquecimento da demanda. No final de 2015 e início de 2016 precisaram buscar negócios em outros mercados, quase a preço de custo, para garantir o enxugamento dos altos estoques de passagem. Desde julho, porém, as cotações internacionais, especialmente do Brasil, passaram a tornar os negócios mais atrativos, gerando a expectativa de aquecimento nos embarques.

Mesmo assim, Jorge Vara, ministro da Produção de Corrientes, província que responde por 50% da produção argentina de arroz, afirmou no início de agosto que, embora melhor do que na temporada de 2015, a comercialização do cereal correntino ainda está 20% abaixo da média normal por causa dos preços internacionais e da relação cambial da Argentina com o exterior. Mesmo com subsídios do governo nacional para transportar arroz ao Panamá e à Nicarágua, para valorizar portos internos, a rentabilidade dos negócios aos agricultores é baixa. Mas o investimento é válido porque enxuga a oferta interna e ajuda no esforço de escoamento em busca de renda.

Há também os custos de logística desfavoráveis ao produtor nestas operações, o que faz os governos provincial e da nação buscarem meios de apoiar as vendas. Além de pagar parte do frete para movimentar as hidrovias internas e facilitar o embarque do grão, o governo correntino estuda subsidiar em 20% os custos de irrigação como incentivo ao setor. A Argentina reduziu cerca de 10% de sua área cultivada na temporada 2015/16, e se não houver uma reação poderá diminuir ainda mais 5%, para aproximadamente 200 mil hectares. Nesta temporada a produção bateu em 1,4 milhão de hectares, segundo o Ministério de Agroindústria da Argentina (Minagri), com redução de 10,1% sobre a temporada anterior.

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