Baixas temperaturas trarão consequências às lavouras gaúchas

 Baixas temperaturas trarão consequências às lavouras gaúchas

Frio prejudica o arroz e seca, a soja

Médias abaixo de 9 graus centígrados em plena floração aumentarão a quebra na safra de arroz. Seca afetará a soja em terras baixas
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As baixas temperaturas noturnas que coincidiram com o Carnaval e a semana posterior ao feriado interferiram no desempenho da produção de arroz no Rio Grande do Sul. Este será apenas um dos fatores que deve impactar o resultado da safra, cujo resultado pode ser até um milhão de toneladas inferior à temporada 2016/17, quando bateu em 8,75 milhões de toneladas. Sendo assim, ficando em torno de 7,75 milhões de toneladas, a colheita seria 150 mil/t inferior à verificada em 2015/16, ainda sob influência do fenômeno climático El Niño.

Mas, não foi apenas o frio que determinou esta estimativa de quebra acentuada. Além da redução de pouco mais de 25 mil hectares, houve um atraso considerável de até 45 dias, em 50% da área semeada, que totalizou 1,078 segundo o Irga. Isso equivale a 540 mil hectares, praticamente. Outro fator é a dificuldade de manejar esta área, que teve uma emergência desuniforme, coincidiu com o plantio da soja em terras baixas, maior presença de ervas daninhas resistentes a herbicida e menor uso de tecnologias por causa das condições econômicas dos agricultores.

A escolha da cultivar também deverá afetar a produção total. “No ano passado o somatório da superfície semeada com as variedades IRGA 424CL e IRGA 424RI, que têm alta produtividade, bateu em 54% do total, o que equivale a 600 mil dos 1,106 milhão de hectares colhidos. Nesta temporada, o uso ficou em torno de 40%, ou 430 mil hectares”, explica Rodrigo Schoenfeld, assessor da diretoria técnica do Irga.

Segundo ele, a diferença de rendimento das cultivares IRGA para as cultivares adotadas, em especial as argentinas INTA Puitá CL e INTA Guri CL, mas também a uruguaia INIA Olimar na Região da Campanha, variam em média entre 20 e 30 sacas a menos “sob um manejo perfeito”. “Como o manejo não foi perfeito, esta margem é ainda maior”, explica Schoenfeld.

A escolha destas variedades ocorreu por três motivos básicos: a busca de liquidez – têm alto rendimento de engenho -, o clima inicial menos favorável à brusone – os materiais argentinos são suscetíveis -, e a exigência contratual das indústrias financiadoras das lavouras. Para Schoenfeld, os 50% da lavoura que foram plantados fora da época ideal ainda dependem do comportamento do clima no final de fevereiro e março, mas já indicam quebra em pelo frio.

O certo é que a oscilação das temperaturas afeta não apenas com a esterilização da planta, mas quebra o grão já formado ainda na casca. Ou seja, a expectativa é de que o frio com até quatro noites de mínimas abaixo dos 8ºC em alguma cidades, em especial na Zona Sul e na Campanha, tragam perdas inesperadas. “Esse frio atípico pegou de 40% a 50% da lavoura gaúcha em flor”, reconhece Rodrigo Schoenfeld, do Irga. Há muitos registros de plantas com as pontas das folhas “sapecadas” pelo frio, de “panículas brancas” e grãos em formação que ficaram “queimados” e devem ficar chochos na Zona Sul, no Litoral e na Campanha.


IRREGULAR

Se o arroz enfrenta problemas com o frio, a soja nas áreas arrozeiras vem apresentando problemas por causa da estiagem em diversas áreas, em especial na Campanha, no Sul e no Centro do Rio Grande do Sul. “É uma lavoura irregular e desuniforme”, afirma o engenheiro agrônomo Rodrigo Schoenfeld, do Irga, que tem viajado por todo o estado acompanhando o projeto Soja 6000. As áreas semeadas no final de outubro estão bem, e devem alcançar boa média produtiva se houver chuvas regulares entre o final de fevereiro e ao longo de março.

A melhor consolidação das plantas semeadas em fevereiro, além de terem sido cultivadas com melhor nível tecnológico, em áreas de rotação com pastagens, ajudou a superar as limitações da estiagem. No entanto, em em lavouras da Campanha e do Litoral Norte se tornou comum ver a morte de plantas em reboleiras das lavouras. A Emater/RS fala em até 20% de redução de produtividade em algumas áreas.

Schoenfeld avalia que boa parte da soja semeada na segunda semana de novembro em terras de arroz cresceu desuniforme por falta de chuvas na emergência e estabelecimento inicial da lavoura. “Esta é uma soja que vai depender muito ainda das chuvas daqui para a frente”, avalia. Para ele, as chuvas, ainda que fracas, ocorridas entre os dias nove e 10 de fevereiro trouxeram um pequeno alívio diante de uma situação grave para diversas áreas. “Muita coisa foi salva, mas muita coisa também foi perdida porque esta chuva não chegou 10, 15 dias antes”.

Para ele, a partir do final de fevereiro começa um dilema entre os arrozeiros com relação ao clima. “Precisa de chuva para alcançar boa produtividade com a soja, mas necessita de dias secos para colher o arroz”, explica.

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