Desvalorização do arroz preocupa agricultores no Norte de SC

 Desvalorização do arroz preocupa agricultores no Norte de SC

Colheita começou em janeiro na Região Norte do Estado

Safra 2018 registra aumento da produtividade, mas esbarra no alto estoque do grão.

As cerca de mil famílias dos 12 municípios que compõem a cadeia produtiva do arroz no Norte de Santa Catarina encaram sentimentos opostos na safra de 2018. Por um lado, a produtividade é tida como excelente, mas na outra ponta a desvalorização no preço da saca preocupa. Mais de 70% do grão já foram colhidos nas lavouras desde 15 de janeiro e a estimativa é de que até o fim deste mês a quantidade colhida chegue a 170 mil toneladas no ano, superando as 167 mil de julho de 2017. Porém, o preço pago aos rizicultores por cada saca chega a ser quase um terço menor que o cotado no ano passado.

A explicação para a desvalorização é o fato de que a boa safra registrada em 2017 em conjunto com a nova colheita provocou acúmulo de estoque do grão. Com isso, há redução do preço pago pelos mercados às refinarias e também afeta diretamente no faturamento dos produtores. Em 2017, o valor por saca de 50 quilos variava de R$ 43 a R$ 45. Desta vez, a mesma quantidade de arroz em casca começou o ano vendida a R$ 33 e hoje chega a ser fornecida por R$ 31,50 na região.

De acordo com Hector Silvio Haverroth, gerente regional da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), com essa perspectiva, os produtores comemoram a alta de produtividade, mas já avaliam como certa a perda de faturamento. Já para os consumidores, a tendência é de queda do preço nas prateleiras.

— A produtividade está alta, mas o preço pago pela saca de arroz é péssimo para o agricultor, que pode ter queda de até 30% no faturamento. Então ele fica de mãos atadas, e o que se busca é que o governo federal trabalhe com o estoque regulador, ou seja, compre e retire esse volume do mercado para normalizar o preço. Essa é uma política pública, mas que é necessário haver dinheiro para ser feita e estamos na briga para que isso aconteça — afirma Hector.

Produtor afirma que não terá lucro

O agricultor Aquilino Menestrina, 87 anos, trabalha há cerca de 60 anos com a plantação de arroz no bairro Vila Nova, na zona Oeste da cidade. Antes, a família dele já atuava na área da rizicultura em Timbó. Ele possui oito hectares de plantação e começou a colheita ontem. De acordo com o produtor, a safra deste ano será melhor do que no ano passado, mas o preço está bem abaixo do esperado.

Aquilino confirma que vendeu a saca de arroz entre R$ 45 e R$ 49 em 2017 e agora o preço gira em torno de R$ 31. Segundo ele, durante cerca de cinco anos o valor se manteve bom, mas neste ano terá dificuldades. Isso fará com que a família Menestrina não tenha lucro com a safra.

— Temos que enfrentar isso de novo porque não temos como partir para outra coisa. Temos que continuar mesmo o preço estando fraco — diz.

Prejuízo de R$ 33 milhões é estimado para este ano

Enquanto não há solução, com um cálculo simples é possível ter uma ideia dos impactos financeiros do descompasso entre a produção e o estoque existente.

A safra de 2017, por exemplo, representou aproximadamente R$ 133,6 milhões em movimentação financeira dos produtores de arroz na região. Neste ano, se o quadro atual for mantido, o total deve ser de pouco mais de R$ 100 milhões.

No entanto, os números superam os resultados das safras anteriores, prejudicadas por condições climáticas adversas. A produção de arroz na região corresponde ainda a cerca de 25% do total produzido no Estado ? segundo maior produtor nacional do grão e que só no ano passado teve valor bruto de produção avaliado em R$ 1 bilhão.

São aproximadamente 22 mil hectares de cultivo nos municípios de Araquari, Barra Velha, Corupá, Garuva, Guaramirim, Itapoá, Jaraguá do Sul, Joinville, Massaranduba, São Francisco do Sul, São João do Itaperiú e Schroeder, todas cidades da região Norte.

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