Argentina: pacote de Macri afetará o agronegócio

Sobre o arroz as retenções serão de 4 dólares por tonelada.

A aplicação de retenções (imposto sobre exportação) vai afetar drasticamente a rentabilidade de algumas cadeias produtivas da Argentina. A desvalorização do peso prejudica setores com custos dolarizados e voltados ao mercado interno, como produtores de aves e suínos. Os mercados estão mais tranquilos, mas ainda é cedo para avaliar se o pacote dará certo. O déficit zero é um caminho necessário. Mas o setor agropecuário imaginava um ajuste fiscal e o reequilíbrio da balança comercial mais pelo lado da recuperação e do crescimento da atividade econômica, com crescimento das exportações e da receita com impostos, não pelo caminho da contração da atividade exportadora e de medidas que já se provaram ineficazes, como as retenções. De um lado, a competitividade do agronegócio melhora com a desvalorização. De outro, voltam as retenções.

O resultado disso vai depender de cada segmento, da estrutura de custos, da posição de cada empresa em termos de financiamento tomado em dólares. A produção de aves, leite e suínos tem alta exposição a custos em dólar. Só que as receitas estão em outra frequência. Os produtores quase não têm capacidade exportadora e suas vendas são para o mercado interno, em pesos, então vão ser afetados. Há outros segmentos beneficiados, principalmente produtores de grãos. A mesma medida que gerou “tratoraços” no campo contra Cristina Kirchner, em 2008, agora desperta reação bem mais contida do agronegócio argentino. A aplicação de retenções móveis, em 2008, foi a gota que fez o copo transbordar. Havia uma série de medidas contra o agronegócio. O kirchnerismo retinha todo o lucro dos agricultores. Agora, as retenções não podem passar de 4 pesos por dólar. São altas, mas fixas.

E o valor real vai baixando ao longo do tempo por causa da inflação. Fica mais amigável. Além disso, o agronegócio, de modo geral, apoia a atual política agropecuária do governo, que se mostra como aliado. Há uma melhoria na infraestrutura, embora lenta, e tentativa de inserção no mundo por meio de acordos comerciais. É o contrário do que ocorria no governo anterior. Desde a saída de Cristina Kirchner, as exportações de carnes dobraram. As retenções devem gerar uma perda de US$ 2,6 bilhões no agronegócio. A principal preocupação dos empresários agora é com as taxas de juros. A taxa básica subiu para 60% ao ano. Elas são frutos do risco-país, mas estão incompatíveis com a atividade privada. Há um plantio da safra de grãos pela frente e o crédito com essas taxas fica insustentável.

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