Arrozeiros paraguaios contestam acusações do Brasil

 Arrozeiros paraguaios contestam acusações do Brasil

Bergallo: mais respeito com a concorrência

Produtores não aceitam suspeitas sobre a qualidade do produto paraguaio e rejeitam acusações de uso de defensivos proibidos.

Há muitos anos radicado no Paraguai, o produtor de arroz Mário Milano Bergallo visitava familiares em Uruguaiana, em 16 de janeiro. quando ouviu uma entrevista numa emissora de Porto Alegre, de dirigentes arrozeiros gaúchos. E não gostou.

“Fiquei abismado com o que escutei”, afirma ele, que integra a Eladia S.A, um dos maiores grupos produtores do vizinho país. “Eu respeito a situação e o desespero do produtor brasileiro, eu mesmo deixei de produzir na Fronteira Oeste há muitos anos porque se tornou inviável, mas a qualidade e a sanidade do arroz que estamos produzindo no Paraguai é inatacável. Em primeiro lugar é preciso respeitar a concorrência”, argumenta.

Segundo Bergallo, o fato de o Paraguai ter acesso a diversos mercados mundiais de critérios muito rigorosos, aos quais o Brasil não acessa, já deveria ser razão suficiente para que os brasileiros entendessem essa realidade. “Temos acesso, por exemplo, à Europa, aos Estados Unidos, Iraque, México e ao Irã, ao qual só não exportamos por causa dos embargos internacionais”, assegura. O rizicultor considera que criticar o arroz paraguaio com os argumentos que estão sendo usados publicamente por lideranças brasileiras depõe contra o próprio produto nacional e pode afetar o consumo. “É um tiro no pé falar mal do arroz que se consome no Brasil, pois pode afetar todo mundo”, explica.

CUSTO BRASIL

Para Mário Milano Bergallo, o problema do setor arrozeiro brasileiro é, exclusivamente, decorrente do Custo Brasil, um custo elevado por uma legislação ultrapassada e excesso de impostos. Lembrou ainda do endividamento, do custo de arrendamento, entre outros fatores que afetam a produção gaúcha. Entende que não se pode atribuir estes problemas aos outros países sem que se faça uma análise do cenário interno.

“Eu não gostaria de expor isso tudo, mas quando nosso produto está sendo denegrido por falta de conhecimento ou pura deslealdade, é preciso que nos posicionemos. Não é só uma questão de defesa, mas de informação”, avisa.

Também destaca que uma lavoura que, além dos grandes custos ainda tem um preço de arrendamento entre 50 e 60 sacas por quadra, não tem como gerar renda ao produtor. “Senti isso na pele e fui embora procurar um jeito de produzir e ser competitivo”, afirma.

DEFENSIVOS PROIBIDOS

Os produtores paraguaios descartam as acusações feitas por entidades brasileiras de que usam defensivos proibidos no Brasil, mas seu arroz entra livremente para o consumo local. Nota emitida por entidades setoriais do país vizinho, em 2018, informa que a diferença está no fato de que no Paraguai é comum comprar defensivos genéricos – assim como os brasileiros fazem com remédios nas farmácias – e importar grandes volumes, o que lhes dá uma vantagem competitiva. “Mas, é o mesmo produto usado no Brasil”, assegura. Além disso, comenta que não é culpa do Paraguai o fato de o governo brasileiro proibir a compra de produtos genéricos e obrigar o agricultor local a pagar mais pela marca comercial.

Por outro lado, há regras rígidas no país vizinho. Um exemplo: uma empresa que tiver três cheques devolvidos, perde o registro e tem a conta bloqueada. As entidades paraguaias também enfatizam que há centenas de brasileiros trabalhando na orizicultura daquela nação, capital brasileiro empregado nas suas principais indústrias, consultores, gerentes e gestores nas lavouras, as sementes são todas importadas do Brasil.

Comemoram além da boa presença no mercado brasileiro, a exportação de mais de 250 mil toneladas de arroz para alguns dos mercados mais exigentes do mundo. Mas, deixam claro: “Não são 3% ou 4% do consumo brasileiro que determinam a pressão sobre os preços do arroz gaúcho, e isso todo arrozeiro sabe”.

O Paraguai não dá subsídios à orizicultura. “A diferença é que o governo pode não ajudar, mas também não atrapalha, e isso é uma grande vantagem”, acrescenta Mário Milano Bergallo. 

ENERGIA

Ele lembra que em 2022 os governos do Brasil e do Paraguai terão que rediscutir as taxas da importação – pelo Brasil – da energia elétrica de Itaipu. E medidas de revisão do Acordo do Mercosul que prejudiquem a economia paraguaia podem não ser muito bem-vindas.

“Não afirmo, mas numa avaliação hipotética, digamos que o Brasil crie sobretaxas ou medidas contra o arroz e outros produtos do Paraguai, o tema pode entrar na rediscussão dos valores da energia de Itaipu, em grande parte cedida pelos paraguaios ao Brasil por um valor de 20% das tarifas internacionais. Imagine o tamanho da reação do agronegócio paraguaio, da sociedade, e a pressão para que estas tarifas se elevem ao patamar internacional, e a repercussão disso no Custo Brasil”, finaliza.

3 Comentários

  • É só começar a mobilização para a correção das distorções deste tratado infame, já vem até brasileiro cultivador no Paraguai falar em retaliação através de aumento de tarifas de energia de Itaipu. Todos sabem caro cidadão Mário Milano, que o país vizinho, sempre possuiu a pecha de atravessador da América Sulina, as importações são praticamente livres de taxas, máquinas, insumos, defensivos ou o que quer seja tem livre entrada. Sem falar nas falsificações de eletrônicos , tênis, roupas e do famoso Whisky ‘legítimo ‘ paraguaio exportados. A questão referente aos defensivos usados nas lavouras arrozeiras, passam por algum tipo de controle por ocasião da importação por algum órgão confiável , em que os níveis de toxicidade, concentração de ingredientes ativos permitidos e regulamentados por entidades internacionais especializadas de credibilidade inconteste ????…….duvida-se até prova em contrario, venham então, os laudos fitossanitários acompanhando o arroz, (em vez de maconha no meio do arroz) para comprovação em nossos laboratórios. Isto já está mudando no governo atual, agora os produtores gaúchos tem ‘ouvidos’, esperamos condições de produção e equalização de diferenças monstruosamente assimétricas muito rapidamente!!

  • Entendo que na realidade a intensificacão da fiscalização fitosanitaria e sanitaria, é bom para ambos os lados, afinal, ‘quem não deve nao teme’ … simples assim. Quanto a tiro no pé e diminuição de consumo mais me parece discurso de quem se beneficia da importação, pois esta bem claro que estamos lutando pela melhor fiscalização oferecendo assim um produto de melhor qualidade e olhando por esse prisma temos sim melhor qualificação de produto e portanto incentivo ao consumo. Agora concordo com um ponto destacado … a quantidade importada do Paraguai é mais marketing negativo para pressionar o preço para baixa do que real influência no volume interno do País.

  • parabens pelos comentarios carlos e elton concordo plenamente

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