A base de tudo
Cientistas do Instituto Internacional de Pesquisas de Arroz (Irri) e de instituições científicas em todo o mundo usam amostras de sementes de arroz armazenadas no banco de germoplasma da unidade nas Filipinas e distribuídas a outros centros para desenvolver cultivares comerciais adaptadas a diversas condições. Entre elas, extremos climáticos como secas e inundações que ameaçam colheitas nas principais regiões produtoras como Índia, China, Vietnã, Mianmar, Camboja, Indonésia e Malásia.
Uma grande inovação é destinada a beneficiar os agricultores que cultivam cerca de 20 milhões de hectares em toda a Ásia e têm risco de serem atingidos por inundações. Enquanto a maioria das plantas morre em poucos dias de submersão sob a água, uma nova cultivar tolerante a inundações foi desenvolvida. Ela é chamada de “arroz mergulhador”, pois tem a capacidade de resistir até duas semanas submersa (14 dias) e volta a se desenvolver normalmente. Este arroz é atualmente cultivado por cinco milhões de agricultores na Índia, Bangladesh, Nepal, Laos, Filipinas e Indonésia.
Os pesquisadores estão agora adaptando variedades para a África e investindo em características como produtividade e melhor qualidade de grão. Ruaraidh Sackville-Hamilton, pesquisador em melhoramento genético que administra o banco de germoplasma do Irri, considera que a conservação das cultivares tem um histórico comprovado de benefícios mundiais. “Com a coleção em segurança, podemos continuar a usá-la para desenvolver variedades superiores e melhor adaptadas às condições agronômicas que os rizicultores e pesquisadores demandam em todo o mundo, para que possam fazer frente aos desafios produtivos e se adaptar às mudanças nos gostos e preferências dos consumidores em todos os lugares”, disse ele.
Financiamento
Os US$ 1,4 milhão por ano garantidos pelo acordo serão pagos com o fundo de doações da Crop Trust, criado em 2004 para fornecer apoio financeiro sustentável e de longo prazo aos bancos de genes de alimentos e agricultura mais importantes do mundo. “Este é um momento marcante para o Irri e para o Crop Trust”, disse Åslaug Marie Haga, norueguesa que é diretora executiva da entidade financiadora.
“No momento em que muitos doadores têm demandas cada vez mais complexas em seus recursos, é importante que as coleções de sementes do mundo estejam seguras e protegidas e que os bancos de genes funcionem efetivamente”. Fornecer financiamento permanente para as coleções de culturas mais importantes do mundo está no centro da missão do Crop Trust, segundo a dirigente.
Para ela, “o anúncio valida 20 anos de trabalho e 50 anos de reflexão sobre como a comunidade internacional pode proteger cultivos usados para alimentação e agricultura. “Esperamos que o Irri seja o primeiro de vários bancos de genes globalmente significativos a receber apoio financeiro permanente do Crop Trust”, resume.
FIQUE DE OLHO
O banco de genes do Irri é um dos 11 bancos de genes do Grupo Consultivo Internacional de Pesquisas Agrícolas (CGIAR), uma parceria de pesquisa global dedicada à redução da pobreza, melhoria da segurança alimentar e nutricional e melhoria dos recursos naturais e serviços ecossistêmicos. Os bancos de genes do CGIAR conservam milhões de sementes, distribuindo mais de 100.000 amostras para pesquisadores e agricultores em todo o mundo anualmente.
“Por décadas, o melhoramento das culturas tem estado no centro do trabalho do CGIAR e os nossos bancos de genes têm sido essenciais para este processo”, afirmou Elwyn Grainger-Jones, diretora executiva da Organização do Sistema CGIAR. “O arroz é e continuará a ser uma cultura vital para o desenvolvimento rural, para melhorar o status econômico de milhões de pessoas e para estabelecer sistemas alimentares sustentáveis e resilientes”.
A primeira fase do financiamento do Crop Trust cobrirá as operações essenciais do banco genético do Irri de 2019 até 2023, incluindo conservação, regeneração e distribuição de suas coleções de sementes cultivadas e silvestres. Como parte do Acordo de Parceria de Longo Prazo, o Irri também fornecerá consultoria especializada a cinco bancos de germoplasma nacionais para ajudar nos seus esforços de conservação de culturas.
O pacto está previsto para continuar após 2023 com uma segunda fase de cinco anos, permitindo quaisquer revisões no plano de negócios do banco de genes e nos custos operacionais. O Irri é pioneiro em maneiras de melhorar a eficiência, incluindo o uso de robótica personalizada para automatizar os processos de classificação de sementes. O acordo será renovado a cada cinco anos.
Aquecimento global
Variedades: a genética a serviço da segurança alimentar
Os investimentos do Crop Trust na área de arroz têm uma causa de ser. Estudos indicam que a cultura seria uma das mais fortemente afetadas com mudanças no clima, em especial na Ásia, continente em que são produzidos e consumidos 90% deste cereal no mundo, afetando comunidades pobres. “A questão da mudança climática e seu impacto sobre o arroz é evidente”, dizem especialistas do Irri.
A fim de evitar catástrofes, incluindo queda no rendimento das colheitas, extremos climáticos mais mortais, perda de habitat e níveis do mar cada vez mais altos, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática disse que cortes profundos de emissões são necessários antes de 2030.
Em 8 de outubro o painel climático das Nações Unidas divulgou um relatório indicando que o mundo precisa reduzir seu limite de aquecimento global de 2°C para 1,5°C. Um de seus principais autores argumentou que os efeitos da mudança climática seriam exponencialmente mais dramáticos acima de 1,5°C. O pesquisador Ruaraidh Sackville-Hamilton, que administra o banco de germoplasma do instituto de arroz, enfatiza que “todos no sudeste asiático se beneficiarão disso, já que o acordo e o financiamento garantem que o arroz continue melhorando e se adaptado às necessidades nutricionais da crescente população”.