BR IRGA 409: 40 anos da revolução na orizicultura gaúcha

 BR IRGA 409: 40 anos da revolução na orizicultura gaúcha

Paulo Sérgio Carmona: um dos pais do BR-IRGA 409, nos anos 1980, na Estação do Arroz

Cultivar estabeleceu os conceitos de “variedade moderna” pós-Revolução Verde e de “variedade nobre” pela qualidade de grãos e rendimento de engenho.

Na semana em que acontece o XI Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e cerca de 800 pesquisadores de todo o Brasil se reúnem para debater o futuro da pesquisa e da qualidade da orizicultura nacional, a cultivar que estabeleceu o conceito de variedade moderna e, mais tarde, de variedade nobre, comemora quatro décadas desde seu lançamento: a BR-IRGA 409.

Lançada em 1979 graças à ação coordenada entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em sua unidade de Clima Temperado, e o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), com sua equipe de melhoramento genético estabelecida na Estação Experimental do Arroz (EEA) em Cachoeirinha (RS), a BR-IRGA 409 é plantada até hoje em aproximadamente 30 mil hectares no Rio Grande do Sul por exigência das indústrias, que pagam um valor diferenciado (prêmio) pela matéria prima. Ela chega a valer 12% a mais do que as cultivares comuns.

O grande destaque do grupo que a desenvolveu foi o pesquisador Paulo Sérgio Carmona, que também trabalhou como líder de equipe e melhorista, ou consultor, em quase 20 variedades ao longo de quase 50 anos, entre elas outros ícones, como o BR–IRGA 410, IRGA 417 e IRGA 422CL.

A BR-IRGA 409 foi a primeira cultivar moderna de arroz desenvolvida no Brasil a partir da Revolução Verde iniciada em 1968 pelo Instituto Internacional de Pesquisas em Arroz (Irri), nas Filipinas, com a variedade IR8.

Em pouco tempo, os genes associados à alta produtividade da IR8 e seu porte baixo foram transferidos a outras variedades e adaptadas às diferentes regiões do mundo onde o arroz é cultivado.

Na América Latina, as variedades mais emblemáticas derivadas da IR8 foram: CICA 4, lançada na Colômbia em 1971 pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) e a BR-IRGA 409, lançada pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e Embrapa no ano de 1979. A variedade foi adaptada às condições do Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do Brasil, ainda hoje.

“A BR IRGA 409, com genes da IR 8, não foi a primeira planta de porte baixo no arroz, mas a que teve maior impacto e uma aceitação muito grande no Rio Grande do Sul em função do seu potencial produtivo e das suas características. Esta variedade preencheu uma lacuna na lavoura e atendeu a demanda de produtividade associada à qualidade”, lembra o engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) à época, Paulo Sérgio Carmona, já aposentado.

Segundo ele, até aquele momento, o maior problema nas plantas altas estava, principalmente, na dificuldade de eficiência da aplicação dos fertilizantes. “Além do porte baixo, as folhas da IR8 são eretas e têm alta capacidade de afilhamento. A novidade fazia parte do Programa de Melhoramento do Arroz, presente em diferentes países, o que desencadeou a Revolução Verde na Ásia Tropical refletindo em outros lugares, como o Brasil”, descreveu em entrevista em 2018.

De 1983 até 1985, o ritmo de crescimento da área com a BR-IRGA 409 foi muito rápido e, em pouco tempo, praticamente todas as lavouras gaúchas e um bom volume de áreas no Brasil e no Mercosul utilizavam a BR-IRGA 409 e, posteriormente, a BR-IRGA 410, nas décadas de 1980 e 1990.

EM NÚMEROS

Somente no Rio Grande do Sul já foram semeados mais de seis milhões de hectares com essa cultivar desde então, produzindo cerca de 42 milhões de toneladas de um grão com classe “premium”. Com um valor atual de aproximadamente R$ 1 mil por tonelada, com seu alto percentual de grãos inteiros e rendimento de engenho, este material já injetou na economia gaúcha cerca de R$ 42 bilhões. Um argumento mais do que suficiente para derrubar comentários que dizem que o Irga custa muito caro para a lavoura.

FIQUE DE OLHO

Em 2010 um grupo multidisciplinar de pesquisadores do Irga, Embrapa e UFSM conduziu experimentos para identificar a evolução das produtividades e do rendimento das variedades de arroz irrigado desde o lançamento da BR-IRGA 409. O resultado mostrou que até então, a média produtiva da cultivar era superior a média do conjunto das demais avaliadas e sua qualidade de grãos estava entre as três que se destacavam muito acima da média das demais.

AGULHINHA

A mais longeva das cultivares gaúchas continua, ainda que em menor área face aos avanços de sistemas de defesa – como o CL – com seu mercado cativo e ainda hoje é a principal representante da consolidação da marca de grão agulhinha, de alto rendimento de engenho, translúcido, baixo percentual de defeitos, de ótimo cozimento e de alta qualidade do arroz gaúcho.

LEGADO

Além da cultivar referencial – e tantas outras – Paulo Sérgio Carmona legou para a orizicultura os três filhos engenheiros agrônomos e pesquisadores: Luciano, Felipe, Rafael e a neta, Gabriela, herdeiros do DNA arrozeiro. Mas, há mais netos com potencial de pesquisadores vindo por aí.

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