Pesquisador investiga efeitos do fruto da erva-mate contra praga de arrozais

 Pesquisador investiga efeitos do fruto da erva-mate contra praga de arrozais

Brito: controle dos caramujos por extrato da erva-mate

Estudo analisa como o extrato do fruto verde da erva-mate pode ter ação pesticida contra moluscos que afetam plantações de arroz.

Fabiano Brito, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS, abordou na sua dissertação de mestrado uma possível solução para as maiores pestes de plantações de arroz. O pesquisador investigou em laboratório a eficiência do extrato de frutos da erva-mate como pesticida contra os caramujos-maçã. O caramujo da espécie Pomacea canaliculata é uma das 100 maiores pragas de plantações e uma das piores para a cultura de arroz. A pesquisa foi dividida entre o Laboratório de Fisiologia Animal da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e o Laboratório de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Hoje, o Brasil é o maior produtor de arroz fora da Ásia, e os estados do Sul produzem a maior quantidade do grão do país. Em uma análise realizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 2006 a 2016, o Rio Grande do Sul foi responsável por 65,35% da produção arrozeira do Brasil. E, de acordo com dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), os caramujos-maçã atingem cerca de 80 mil hectares das plantações gaúchas, o que corresponde a 8% do arroz cultivado.

Erva-mate para além do chimarrão

A erva-mate, ou Ilex paraguariensis, é uma planta nativa da América do Sul, muito utilizada como erva para o chimarrão, principalmente pelos gaúchos. Os frutos dela, como carregam um amargor forte para serem consumidos, são descartados pela indústria. O composto orgânico responsável pelo gosto ruim dos frutos, a saponina, é explorado na pesquisa de Brito devido a sua ação química contra as pragas.

“Este é o primeiro relatório que demonstra como o extrato do fruto verde da erva-mate tem ação inseticida para moluscos”, explica o pesquisador em seu trabalho. Ele conta que a ideia para a produção de um pesticida a partir da planta surgiu durante a graduação, instigado pelo trabalho que acompanhava durante o estágio. Realizou o trabalho de conclusão de curso sobre o extrato da erva-mate como agente químico; antes do mestrado, porém, ainda não havia começado a desenvolver a parte prática. Portanto, foi nessa etapa que os experimentos tiveram início. Os resultados obtidos até o momento sugerem que os extratos obtidos dos frutos verdes da erva-mate são efetivos no controle químico dos caramujos-maçã. Como esses frutos são considerados industrialmente inúteis, há abundância de matéria-prima para a fabricação do pesticida, criando um novo uso para um produto que seria descartado.

Teste com caramujos

Para o ensaio com os organismos vivos, Brito coletou os caramujos em área nativa na Lagoa dos Patos, em Viamão, e os aclimatou em laboratório. O processo de aclimatação consiste em preservar o animal em um aquário parecido com seu habitat natural. Na etapa da extração da erva-mate, foram utilizados dois procedimentos, ambos com o fruto seco: a decocção, que leva apenas água quente para tirar o elemento desejado, e o extrato de butanol, que conta com um produto químico para o processo de extração. Como os resultados se mostraram semelhantes, a primeira opção foi escolhida: é mais simples e gera menos custos. O estudo teve apoio da empresa de erva-mate Ximango, que cedeu seus resíduos industriais para os experimentos.

Como avaliação da eficiência do extrato, Brito verificou a toxicidade dele nos caramujos. O procedimento adotado consiste em contabilizar o número de animais mortos ao longo do experimento e relacionar com a quantidade do produto aplicado neles. O pesquisador explica ainda que é necessário aprofundar as pesquisas para medir se o extrato é nocivo para outros seres vivos, como pessoas e animais.

Hoje, no mercado, não existem muitas alternativas de pesticidas para controle de moluscos, principalmente quando se trata do caramujo-maçã. Em março de 2017, houve uma denúncia da utilização do fungicida Mertin 400 como agente químico em plantações de arroz no Rio Grande do Sul. O caso levou à proibição, pelo Ministério Público, do uso do produto, por ser extremamente danoso para o meio ambiente. A Justiça considera o fungicida tóxico pelo risco de contaminar o lençol freático da bacia hidrográfica do rio Jacuí, onde desaguam as lavouras nas quais era utilizado. Dentre as vantagens dos biopesticidas, aqueles produzidos a partir de extratos naturais, está o menor perigo de contaminação que eles oferecem, já que são mais ecológicos que os sintéticos. “As substâncias com potenciais moluscicidas orgânicos à base de extratos vegetais estão ganhando atenção mundial, porque são consideradas ecologicamente mais aceitáveis, já que não são agressivas ao meio ambiente”, explica o pesquisador no seu trabalho.

Atualmente, Brito desenvolve em sua tese de doutorado uma continuação dos estudos do mestrado. Essa terceira etapa do trabalho conta com a parceria da Embrapa Florestas de Colombo, no Paraná, empresa pública de pesquisa agropecuária. É ela que fornece o material de erva-mate para ser estudado. A tese será apresentada em março do ano que vem.

Artigo científico

BRITO, Fabiano Carvalho de; GOSMANN, Grace; OLIVEIRA, Guendalina Turcato. Extracts of athe unripe fruit of Ilex paraguariensis as a potential chemical control against the golden apple snail Pomacea canaliculata (Gastropoda, Ampullariidae). Natural Product Research, 2018.

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