Seca estimula a Austrália a importar arroz ou arriscar prateleiras vazias
Prateleiras estão vazias de arroz em um supermercado em Sydney
Prevê-se que a safra 2019-2020 nacional seja de 57.000 toneladas, a segunda menor produção já registrada .
Nesta temporada, como quase 90% dos produtores de arroz australianos, Rob Massina decidiu pular o plantio de grãos em sua terra perto da pequena cidade de Jerilderie, cerca de quatro horas ao norte de Melbourne.
Para o presidente da Associação dos Ricicultores da Austrália, alocações baixas de água e anos de seca severa significaram que as condições estavam muito secas para semear a colheita em sua propriedade no extremo sul da Bacia Murray-Darling.
"Muitas cidades nesta parte do mundo foram construídas com arroz", disse Massina. "É um modo de vida para o sul de Riverina e atualmente tem seus desafios", disse ele, referindo-se ao nome da região local.
O plantio e a produção australianos de arroz caíram mais de 90% desde a temporada 2017-18. Prevê-se que sua safra 2019-2020 nacional seja de 57.000 toneladas, a segunda menor produção já registrada e a mais baixa desde 2007-08, de acordo com um relatório de junho da empresa de previsões meteorológicas Abares.
Embora a Austrália sempre tenha dependido das importações de certas variedades que não podem ser cultivadas localmente, como a Basmati, seus supermercados podem ficar totalmente sem suprimentos locais até o final de 2020, de acordo com Rob Gordon, executivo-chefe da SunRice, que compra cerca de 98 % da produção nacional e abastece os mercados local e de exportação. A empresa tem um apetite global por cerca de 1,4 milhão de toneladas por ano, o que significa que a produção australiana está atendendo apenas uma fatia dessa demanda.
"Já estamos suplementando da Tailândia e do Camboja", disse Gordon, para arroz perfumado e de grãos longos. "Quando começarmos a ficar sem suprimento doméstico de nossas outras variedades, começaremos a abrir cadeias de suprimentos de outras partes do mundo. Estamos trazendo arroz do Uruguai no momento", disse ele por telefone.
O arroz representa apenas um pequeno fragmento da indústria agrícola da Austrália, e o país é um pequeno participante do comércio global. No entanto, o encolhimento do suprimento de arroz cultivado localmente foi colocado em foco no início deste ano, quando a compra de pânico da Covid-19 viu os compradores tirarem as prateleiras de tudo, desde arroz, farinha e macarrão.
O governo assegurou aos moradores que seu suprimento de alimentos é seguro – o país de 25 milhões produz alimentos suficientes para 75 milhões e importa apenas 11% dos alimentos e bebidas em valor – mas o arroz continua sendo uma lacuna na produção doméstica.
Isso pode criar problemas em meio ao protecionismo global de alimentos, já que os governos começam a reduzir as exportações para aumentar o suprimento doméstico, disse Gordon.
"Acredito firmemente no comércio internacional, mas é claro que durante a Covid, vimos em abril as fronteiras vietnamitas fechadas às exportações de arroz e elas são o terceiro maior exportador de arroz do mundo. Vimos a Índia não fechar suas fronteiras, mas com um Com o bloqueio de sua população, eles não conseguiram exportar grandes volumes de arroz e são o maior exportador. E vimos o Camboja e Mianmar seguirem a liderança do Vietnã ", afirmou Gordon. "Isso apenas coloca mais riscos lá".
Gordon e Massina citam as políticas governamentais de alocação de água na Bacia Murray-Darling como uma questão-chave para a segurança futura da produção, com o arroz geralmente menos lucrativo do que outras culturas e, portanto, com menor probabilidade de ser plantado.
Quando a água fica disponível, a primeira prioridade em sua fazenda de empresas mistas deve ser o gado, disse Massina. Para outros produtores, amêndoas e outros produtos hortícolas têm prioridade sobre o arroz. "O que a política da água parece estar fazendo é favorecer a água com apenas o retorno mais alto, que é amêndoa no momento", disse Gordon.
