Mundo em expectativa para tender do Iraque

Licitação aguardada é de pelo menos 150 mil toneladas de arroz branco de alto padrão.

A aprovação do novo orçamento iraquiano fez o mercado mundial arrozeiro criar grande expectativa pela realização de um tender (concorrência internacional) para aquisição de arroz. A notícia decepcionou os industriais dos Estados Unidos, que aguardavam uma venda direta e particular. O Brasil não tem produto ou preços para concorrer, mas uma concorrência internacional poderia frear a queda dos preços globais e aumentar a pressão sobre os estoques na América do Sul.

Segundo um trader brasileiro ouvido por Planeta Arroz, “o momento para uma compra internacional de grandes proporções do Iraque não poderia ser pior para o Mercosul. Não temos nem volume nem preços para concorrer com a Ásia e os EUA. Em março/abril, seria um bom momento”, avisou.

O novo orçamento do país pérsico foi aprovado em 12 de novembro, e criou a possibilidade de que o Ministério do Comércio (MoT) anuncie licitações internacionais de arroz e trigo. De acordo com uma fonte governamental, a previsão orçamentária de 26 trilhões de dinares (US$ 22 bilhões) inclui provisões para licitações internacionais de grãos, após uma lacuna incomumente grande desde suas compras anteriores. Uma fonte do governo deu a entender que o governo muçulmano estava se preparando para anunciar pelo menos uma licitação de arroz.

O Iraque comprou o grão por meio de licitação internacional pela última vez em setembro de 2019, quando adquiriu 120 mil toneladas de arroz sul-americano (Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai). A última licitação de trigo foi em fevereiro de 2019, comprando 400 mil toneladas métricas dos Estados Unidos e Canadá. No entanto, a agitação política subsequente atrapalhou as vendas adicionais. Os protestos que começaram em outubro de 2019 levaram à renúncia do primeiro-ministro Adil Abdul-Madhi no início deste ano, o que mudou a composição política do Ministério do Comércio.

GLOBAL

Apesar das indicações de que a autoridade alimentaria do Iraque está inclinada a realizar uma licitação de origem global, há vários meses a indústria de arroz dos Estados Unidos espera que o país árabe efetive compras diretas por meio do Memorando de Entendimento dos dois países. Isso porque a indústria dos EUA ajudou o governo iraquiano a garantir US $ 400 milhões em apoio financeiro para a compra de alimentos no início deste ano, o que permitiria a aquisição direta. Mas, fontes do governo Trump relataram silêncio persistente do Iraque nas últimas semanas quanto ao interesse de negociação.

A burocracia do lado iraquiano e uma resistência causada por causa da maior preferência dos consumidores pelo arroz latino tem contribuído no sentido de retardar ou até inviabilizar a transação. A indústria dos EUA esperava que o governo iraquiano pudesse comprar arroz a granel, além e/ou em vez do arroz ensacado, que é o hábito iraquiano, por meio de uma venda direta.

“Confirmada nestes moldes, a venda de arroz dos EUA poderia beneficiar ainda mais as fábricas de arroz do Arkansas, que não têm estrutura para ensacamento”, informou um agente de negócios da América do Norte. O Ministério do Comércio do Iraque comprou arroz dos EUA pela última vez, por meio do acordo mútuo, em julho de 2019, somando 60 mil toneladas.
A possibilidade de os iraquianos entrarem comprando no mercado dos EUA estabilizou as cotações depois de um enfraquecimento do mercado de grãos longos beneficiados dos EUA na semana encerrada em 13 de novembro, com a avaliação da S&P Global Platts para arroz branco, com 4% quebrados em US$ 600,00/t FOB Lake Charles. No entanto, fontes importantes da indústria não tinham certeza se o Iraque faria essa compra e estavam cientes de que a aprovação do orçamento no pais do Golfo Pérsico também apontava para uma licitação de origem global.

CONESUL

Se o Iraque anunciar um tender de origem global, não está claro de onde eles comprarão, além dos EUA. Embora Ministério do Comércio do país árabe normalmente compre arroz sul-americano em licitações, a oferta do Mercosul ficará extremamente restrita até o início da colheita no primeiro trimestre de 2021, devido à forte demanda brasileira neste segundo semestre. Os agentes de negócios no ConeSul consideram que seria difícil fornecer mais de uma remessa de 30 mil toneladas métricas para pronta entrega. A mesma situação ocorre no Vietnã, que tem oferta restrita até março de 2021.

O arroz de preço competitivo de outras origens asiáticas provavelmente será oferecido em uma licitação de origem global. No entanto, o Iraque normalmente evita a compra de arroz asiático nessas licitações devido a problemas de qualidade. O governo árabe comprou arroz asiático pela última vez em uma licitação (sob um contrato que foi executado) em julho de 2016, quando adquiriu 80 mil toneladas de arroz indiano. Devido ao carregamento durante as monções, grande parte desse arroz foi danificado quando chegou ao Iraque. “Há uma desconfiança muito grande nestes mercados de grande valor agregado, como é o Iraque, o Peru, o Irã e o próprio Mercosul, para o arroz asiático longo fino, que costuma ser bem inferior ao padrão preferencial dos consumidores”, observa um trader internacional consultado por Planeta Arroz.