Nó logístico e de transporte afeta embarques de arroz da Índia
Exportadores do maior exportador mundial estão priorizando cumprir os contratos antes de assinar novos negócios por falta de contêineres, navios e pela disparada dos custos.
Com uma alta de quase 50% nas vendas internacionais em 2020, a Índia experimenta uma situação complexa para atender toda a demanda. Embora novas oportunidades estejam se abrindo para os exportadores de arroz indianos, especialmente para grão não basmati, eles estão atualmente mais interessados em cumprir seus contratos do que buscar novos negócios devido a obstáculos logísticos.
“A logística de arroz surgiu como o maior desafio. Parece que está saindo do controle. Agora, estamos tentando o nosso melhor para cumprir os contratos assinados e prazos antes de perseguir novos negócios. Mesmo com a demanda ainda forte”, disse BV Krishna Rao, presidente da Associação de Exportadores de Arroz (TREA).
A visão dos exportadores está na esteira do aumento da demanda por arroz indiano no mercado global.
“As vendas de grão não basmati dobraram, pois a Tailândia e o Vietnã enfrentaram problemas de produção. Isso está afetando a logística, diante dos problemas com o avanço do covid-19 e de uma estrutura que não previa toda essa pressão”, observou Vijay Setia, ex-presidente da Associação de Exportadores de Arroz da Índia (AIREA), com sede em Delhi.
O ministro do Comércio e Indústria da União, Piyush Goyal, emitiu nota na quarta-feira dizendo que as exportações durante abril-janeiro deste ano fiscal foram de 9,46 milhões de toneladas (mt) em comparação com 5,05 milhões de todo o ano fiscal anterior (abril – março). As exportações renderam US $ 3,5 bilhões neste ano fiscal contra US $ 2,03 bilhões no anterior.
“A comercialização no mercado global é boa. O nosso arroz detém uma vantagem sobre seu principal concorrente, a Tailândia, em qualidade, e uma moeda forte também está mantendo o arroz do país do Sudeste Asiático caro ”, disse um funcionário de importação e exportação de uma empresa multinacional, que não quis ser identificado.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em sua última previsão, espera que a produção tailandesa recupere 12% durante o ano de comercialização de 2021-22 (agosto-julho), depois que a produção foi afetada nesta temporada, como também na anterior.
No entanto, o USDA projetou um consumo doméstico de 2% maior e outro crescimento de 2% na demanda de arroz quebrado para ração animal. Mas,espera que os embarques do segundo maior exportador global – que perdeu a posição para o Vietnã no ano passado – se recuperem gradualmente.
Mianmar
Os exportadores de arroz também podem ter oportunidades por meio dos distúrbios em Mianmar, após o golpe do exército no governo daquele país. O USDA prevê que as exportações deveriam ser fracas este mês, enquanto os preços domésticos aumentaram devido ao deslocamento dos serviços de transporte e bancários. As Filipinas e a Costa do Marfim compraram arroz de Mianmar em janeiro, além da China.
O funcionário de exportação e importação explicou que a Índia, o maior exportadora mundial do grão e segundo maior produtor, pode sentir o cheiro de oportunidades comerciais devido aos problemas de Mianmar. “Mas a China ficará com a maior parte da produção de Mianmar e a levará para o outro lado da fronteira”, acrescentou.
Krishna Rao, da TREA, informou que o Vietnã, tradicional terceiro maior exportador do mundo (que foi segundo no ano passado), está comprando cargas da Índia, enquanto o Sri Lanka e a Indonésia também se voltaram ao país hindu em busca de suprimentos. As Filipinas também devem recorrer à Índia para fornecimento de arroz.
“Isso aumentará a demanda, mas nosso desafio agora é encontrar maneiras de concluir o cumprimento de nossos contratos, principalmente com o aumento das taxas de frete e contêineres”, destacou ele.
Porto de Kakinada
Embora o ritmo das exportações de arroz indiano tenha aumentado depois que o governo de Andhra Pradesh permitiu o uso do porto de águas profundas de Kakinada, os exportadores estão "sem ver navios".
“Em determinado momento, estávamos com filas de navios esperando para atracar no porto de Kakinada. Agora, o cais está disponível, mas a falta de disponibilidade de navios e contêineres e o custo são um problema ”, disse Krishna Rao.
Como resultado, as despesas de frete aumentaram de US $ 20 para US $ 40 a tonelada para a Indonésia e Malásia, enquanto para destinos africanos subiram de US $ 45 para US $ 90 a tonelada.
“Aqueles que compraram com o produto a bordo não estão conseguindo os navios, enquanto quem vendeu com os custos embutidos, pagam taxas mais altas”, disse o presidente do TREA.
Durante o atual exercício fiscal, a Índia conseguiu tirar proveito da produção recorde do cereal e dos enormes estoques em seus depósitos para dobrar seus embarques.
Taxas competitivas
Além disso, esses desenvolvimentos ajudaram os exportadores indianos a oferecerem arroz a um preço muito competitivo no mercado global.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Bem-Estar dos Agricultores, a Índia produziu um recorde de 118,87 milhões de toneladas durante a temporada 2019-20 (julho-junho), enquanto durante a temporada atual a produção é estimada em um novo recorde de 120,32 milhões de toneladas.
Em abril do ano passado, a Food Corporation of India tinha 32,23 milhões de toneladas (Mt) de arroz branco em estoque, além de 25,23 Mt em casca, que pode render 16,98 Mt branco. Neste ano, a partir de 1º de março, a Corporação tinha 28,23 Mt beneficiado (branco e parbo) e 34,5 Mt em casca, que pode render 22,95 Mt quando beneficiado.
Isso fez com que a Índia oferecesse seu arroz cerca de US $ 100 por tonelada a menos do que as nações concorrentes, como Tailândia e Vietnã.
Atualmente, a Tailândia oferta arroz branco com 5% quebrados por $ 505-510, enquanto o Vietnã oferece o mesmo grau por $ 500-505. A Índia, por outro lado, está oferecendo seu padrão 5% de quebrados, parboilizado, por cerca de US $ 400 a tonelada.