Safra dos sonhos: preços remuneradores e alta produção

 Safra dos sonhos: preços remuneradores e alta produção

Colheita avança no Sul e produtividade é ótima para a soja e para o arroz

Avanço da colheita tende a manter cotações entre estáveis e leve retração a partir desta semana.

Nem nos melhores sonhos os arrozeiros gaúchos imaginariam, há pouco mais de um ano, que chegariam a uma safra colhendo média superior a 8 mil quilos por hectare e preços acima de R$ 80,00. A colheita 2020/21 está realizando esse sonho de preços remuneradores e alta produção, mas o tempo cobrou um preço altíssimo para muitos produtores. Com o Rio Grande do Sul superando os 60% de área colhida esta semana – e muitos arrozeiros já colhendo soja em terras de arroz – existe uma expectativa de que as cotações a partir desta semana assumam um cenário entre estabilidade e leve queda.

É um cenário absolutamente natural para a época, a confirmar-se um aumento da oferta. Aspectos importantes, porém, devem ser considerados. Em primeiro lugar o auxílio emergencial que vai de R$ 150,00 a R$ 350,00 e deve alcançar mais de 32 milhões de pessoas. Isso pode aumentar o consumo e elevar a demanda do arroz industrializado, passando a pressão mais para o lado da indústria que precisará buscar matéria-prima. Parte do auxílio social, definitivamente, será direcionado para aquisição de alimentos.

Num segundo momento, já mais direcionado à garantia de estabilidade, algumas das maiores indústrias do Rio Grande do Sul anunciaram que o valor de liquidação das cédulas de produto rural (CPRs) se dará em valores entre R$ 84,00 (Irga 424 e similares, 58×10), R$ 85,00 a R$ 86,00 (Guri, etc…) e R$ 88,00 para variedades nobres. Não é um padrão, mas uma referência de grandes indústrias estabelecidas na Fronteira Oeste e Zona Sul. O valor varia entre R$ 35,00 e R$ 40,00 acima das CPRs liquidada em 2020.

O Mercosul terá safra maior, exceto no Paraguai, onde há previsão de queda produtiva em até 30% e, para piorar, maior concentração de grãos quebrados por conta da falta de água para a irrigação, plantio fora da melhor época e atraso na colheita. A Argentina beira 65% de área colhida até agora, nos seus 198,1 mil hectares, o Uruguai chegou perto de 40% em seus 143 mil hectares – com altíssimas produtividades – e o Paraguai alcança pouco mais de 60%, mas a área é uma incógnita (entre 145 mil e 160 mil hectares dizem os produtores) e a expectativa é de uma produção de 850 a 900 mil toneladas. Ainda assim, a referência de US$ 510,00 por tonelada para o seu arroz branco, frente aos US$ 590,00 da Argentina, US$ 620,00 do Uruguai e US$ 630,00 do Rio Grande do Sul o torna muito competitivo.

Voltando aos preços locais, a estabilidade dos valores em torno de R$ 85,00 será testada com mais força à medida em que o RS supere os 50% para os 100% de colheita. É tendência natural. Nestes patamares, a saca de arroz em casca, 58×10, 50 quilos, negociada à vista, tem valor real – inflação corrigida – 11,8% maior do que o seu recorde de preços alcançado em 2009. Apenas corrigidos pela inflação, os preços deveriam estar em torno de R$ 76,00.

Também é importante lembrar que há exatamente um ano o preço médio no Rio Grande do Sul era de R$ 50,50 por saca, ou seja, os valores atuais são 68,3% maiores.

Em fevereiro de 2020, ninguém arriscaria falar em uma alta acima de R$ 65,00, mesmo no teto de preços do ano. Corrigindo a inflação, teríamos 6,22%, ou seja, a média das cotações do arroz deveriam estar em R$ 53,64 por este critério. Hoje está 58,5% acima deste patamar.

Vale observar que parcela mínima de produtores, estima-se que não mais do que 8% no RS e 6% em Santa Catarina, conseguiu negociar o grão acima dos R$ 100,00 no pico de preços do ano passado.

Este não é o parâmetro para a média em 2021, mas novamente para teto.
A diferença é que se no ano passado se manejava estoques baixos, nesta temporada as disponibilidades do Mercosul estão zeradas – em alguns lugares são consideradas até negativas. Não no Brasil, onde a certeza sobre os estoques é apenas de que são bem menores do que no passado recente. Aqui, cogita-se que praticamente 100% estão sobre rodas, no varejo, na casa do consumidor (onde não é computado) e na indústria.

É evidente que a indústria consumiu boa parte da “gordura” do estoque também pelo alongamento do ciclo da cultura, que atrasou a colheita no Rio Grande do Sul e da falta de interesse de venda do agricultor. Da safra passada, com o rizicultor, mesmo, restaram apenas frações mínimas em função de movimentos contábeis.

O aumento da pressão de colheita tende a transferir um pouco mais de arroz à indústria, seja por venda ou a depósito, categoria que tem sido preferencial, ou, ainda pela CPR´s. Neste caso, a boa notícia é de que algumas grandes indústrias já anunciaram tabelas de liquidação dos empréstimos a R$ 84,00 líquidos ao arrozeiro, por saca. Ou seja, este valor deve ser o piso das CPR´s que estavam entre R$ 48,00 e R$ 60,00 em março/abril de 2020.

Na última semana as cotações enfraqueceram na Fronteira Oeste e na Zona Sul com a saída das tradings do mercado. Lotes fechados para as exportações à Costa Rica, Nicarágua e Venezuela, as tradings se retiraram e apenas indústrias com baixíssimos estoques e que realmente precisam comprar seguem com aquisições de pequenos volumes. Com isso, cotações que chegaram a R$ 88,00 na semana anterior, caíram para média de R$ 84/85 em Uruguaiana e Alegrete.

Já no Litoral Sul, cotações que chegaram a R$ 92,00 com a disputa entre exportadores e polo processador local, arrefeceram até R$ 87/88,00 e sem negócios. Como a fronteira já anda na faixa de 70% de suas lavouras colhidas e com ótima produtividade, aos agentes de mercado esperam uma leve retração nas referências de preços para efetivar a compra de lotes maiores.

EXPORTAÇÃO

O navio que vai inaugurar o Terminal Arrozeiro no Porto de Rio Grande, antiga área da CESA, está sendo carregado. Receberá 29,4 mil toneladas de grão em casca destinadas a atender mercados da Costa Rica (24,4 mil t) e Nicarágua (5 mil t). A previsão é de partida na segunda-feira em direção à América Central. Dois novos lotes de 24,4 mil devem ser carregadas em maio e junho, mas tendem a ser comprados em outros países, provavelmente o Paraguai.

Para viabilizar negócio pelo Brasil, o arroz em casca da safra nova teria que estar cotado a R$ 85,00, colocado em Rio Grande, condição competitiva que, no Conesul apenas o Paraguai teria. Como colheu menos até agora e alongou a safra (plantou até janeiro) o país vizinho também não faz muita força para vender no pico de colheita e busca melhores remunerações.

Ao natural, pelo estágio da colheita, não se duvida que abril tenda a ser um período de formação do piso de preços na região Sul do Brasil. Raros integrantes da cadeia produtiva, porém, acreditam atualmente num piso inferior a R$ 80,00, mas quando se trata do mercado de arroz, e suas muitas variáveis, ninguém pode bater o martelo sobre um número final.

Os olhos, agora, estão voltados para o que vai acontecer com relação às exportações. Cientes de que o Brasil não terá tanto produto disponível para buscar no Paraguai e precisará importar mais do Uruguai, Suriname e Guiana, e que a Argentina amplia seu consumo interno.

PREÇOS AO CONSUMIDOR

A indústria segue pressionando o varejo em busca do repasse dos custos do frete e da matéria-prima nas novas tabelas. No entanto, o varejo segue resistindo. A semana foi marcado por muita expectativa, mas fraca realização de vendas. O varejo ainda aguarda uma sinalização de retração nas cotações gaúchas para entrar com mais força nas compras e repor seus estoques, que são baixos.

Os preços médios ao consumidor, para o pacote de cinco quilos do arroz branco, Tipo 1, seguem em R$ 26,00, mas com um bom volume de ofertas entre R$ 20,00 e R$ 23,00 de marcas importantes, e de R$ 17,90 até R$ 19,99 de arroz de marcas secundárias ou marcas próprias do varejo. O quilo varia de R$ 5,00 a R$ 6,50, dependendo da marca.

A semana trará números importantes: previsão de safra e o quadro de oferta e demanda do Brasil e a estimativa de produção mundial do USDA, além do indicador da FAO. Aguarda-se cotações de estáveis e mais fracas no RS – e por consequência nos demais estados. A colheita avança para a etapa final e a falta de armazéns obriga à transferência mais imediata para o depósito das indústrias.

Os produtores de arroz que mantêm também o cultivo de soja, no RS, estão fazendo excelente colheita e, com preços também espetaculares, tendem a comercializar a oleaginosa em busca de capitalização e segurar lotes maiores do cereal para venda no segundo semestre. Este novo portfólio de produtos altera o perfil de comercialização do arroz e fragmenta um pouco mais os lotes e os volumes ofertados.

3 Comentários

  • Safra dos sonhos seria o dia que o preço do arroz e da soja se encontrassem! Os custos subiram muito então não dá prá comemorar muito esses 87 pilas! Soja 170. Arroz a 110 mudo de idéia!

  • O que vai determinar os preços em abril, maio, junho e julho é o volume exportado menos o valor importado. Aguardemos os relatórios da Siscomex de março/2021. A industria vai tentar comprar arroz barato prá exportar as pencas! Essa tática assusta os atacadistas do centro do país que estão especulando e forçando os preços do fardo para baixo!

  • Com esta apregoada virtuosa produtividade, tentar enxugar um pouco a oferta de arroz, agora nesses próximos quatro meses, maio, junho, julho e agosto (pois abril me parece com a liquidez garantida com o dinheiro liberado para 48 milhões de cidadãos) através de exportações, pode ser o movimento ideal para que o mercado no segundo semestre siga seu curso com naturalidade, sem maiores excessos e aquele salve-se quem puder a medida que vai se aproximando a nova safra.

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