Reunião tensa, protesto e renúncia no Irga
(Por Patrícia Loss, Planeta Arroz) Uma reunião autoconvocada pelo Conselho Deliberativo do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) na última sexta-feira teve debates duros, mobilização salarial e por melhores condições de trabalho dos servidores e a presença do secretário de Planejamento, Governança e Gestão Cláudio Gastal, mas nenhuma solução prática para as questões mais urgentes. Os conselheiros se reuniram provocados por Henrique Osório Dornelles, engenheiro mecânico e produtor que representa Alegrete no Conselho, e também ex-presidente da Federarroz.
A pauta foi basicamente a crise gerada pela apropriação dos recursos da taxa CDO, que deveria servir para cobrir as despesas do Irga, mas fica no Caixa Único do Estado. Dos 120 milhões estimados de arrecadação, apenas R$ 65 milhões têm sido repassados à Autarquia pela Fazenda Estadual. Estima-se que a dívida do Estado com o Irga já acumule perto de R$ 300 milhões, ou seja, quase três anos de orçamento. Os arrozeiros descontam 70 centavos por cada 50 quilos de arroz comercializado para o organismo estadual a título de taxa, e o entendimento do setor é de que taxa tem fim específico, portanto, não poderia ser apropriada pelo Estado.
A reunião foi tensa, com alguns conselheiros enfatizando a falta de ações efetivas dos governos Tarso Genro, José Ivo Sartori e Eduardo Leite em resolver a crise e as permanentes interferências políticas em nomeações. Ao final da reunião, Henrique Dornelles pediu exoneração do Conselho, e Alegrete passará a ser representado por um suplente.
“Não é algo contra a atual diretoria, não é algo contra o conselho é que sou pragmático e não consigo trabalhar e defender algo em que não acredito. E depois de ouvir novas postergações do governo, previsão para um estudo que levará pelo menos 180 dias, joguei a toalha. Não acredito neste modelo nem pretendo me desgastar por soluções que a gente sabe que não vão acontecer enquanto o Irga sofrer este tipo de ingerência”, afirmou Dornelles, que chegou a pedir desculpas pelo tom das discussões com diretores e representantes do governo. “Me irritei e acabei exagerando um pouco no tom, mas não em desrespeito a alguém, pela situação mesmo”, enfatizou.
João Batista Camargo Gomes, diretor comercial do Irga, que estava na reunião, explicou que entende a posição pessoal de Dornelles em deixar o conselho, mas pregou a união e a aproximação entre conselho e diretoria em busca de soluções. “Com a criação de um grupo de trabalho, elencamos quase 30 pontos que estão sendo tratados para reestruturar o Irga, buscar a canalização integral dos recursos e executar um plano de negócios que tem algumas bases sólidas, mas também colocamos para o secretário Gastal que algumas ações são urgentes e precisam ser solucionadas, pois deveriam ter sido resolvidas há muito tempo”, destacou.
Durante a reunião do conselho, cerca de uma centena de funcionários do Instituto se reuniu na garagem, por onde entraram boa parte dos conselheiros e o secretário de Planejamento, Governança e Gestão, e vestia camisetas pretas e bonés ou chapéus com a logomarca do Irga. O presidente do SindisIrga, Michel Kelbert, foi convidado para apresentar, no final da reunião, um relato sobre a situação dos servidores e acabou aplaudido pelos conselheiros.
Entre outras coisas, argumentou a perda de funcionários qualificados, o impacto da falta de investimentos nas pesquisas e que enquanto os trabalhadores estão há quase oito anos sem reajuste sequer da inflação, que chega a 50% no período, o custo da cesta básica subiu 85% e a arrecadação com CDO cresceu de R$ 65 milhões para R$ 120 milhões. Afirmou que a equipe já chegou ao seu limite e precisa de soluções urgentes. Kelbert foi aplaudido pelos conselheiros.