Um novo rural, novos negócios!
Autoria: José Nei Telesca Barbosa Engenheiro Agrônomo e Advogado.
A evolução do espaço rural da agricultura familiar da região sul do Brasil é inequívoca. Há a presença da energia elétrica em, praticamente, 100% dos estabelecimentos. O elevado índice de mecanização agrícola na condução dos cultivos reduziu a rudeza do trabalho e liberou parte da mão-de-obra e do seu tempo para o exercício de outras atividades.
Convive hoje, o agricultor familiar ainda com suas atividades relacionadas à terra, mas também com oficinas mecânicas, serrarias, pequenos matadouros, armazéns etc…
Esta nova conformação trouxe também a evolução da renda agropecuária e o ingresso de outras fontes de recursos, seja pelos ganhos de produtividade, pelo desenvolvimento de outras atividades, ou ainda, pelo acesso a aposentadoria rural e a outras políticas compensatórias.
Na pesquisa “Caracterização do Novo Rural” dos professores José Graziano da Silva e Rodolfo Hoffmann, do Núcleo de Estudos Agrícolas do Instituto de Economia da Universidade de Campinas, citada na Edição Impressa 52 – Abril de 2000, da FAPESP Pesquisa On Line, em artigo de Cláudia Izique, é enfatizada a necessidade do PRONAF- Programa Nacional de Fortalecimento Agricultura Familiar apoiar as famílias pluriativas, ou seja, que combinam atividades agrícolas e não agrícolas.
Não obstante o elevado valor da pesquisa mencionada, o tema já fazia parte em nossas prosas na roda do chimarrão ao redor do fogo com o nosso pai, que observava em suas tropeadas, o que já ocorria no interior do município de São Lourenço do Sul-RS. Ali havia oficinas de ferreiros, fábricas de cepas de tamancos, barbearias e que isto ainda não existia em nosso município de Canguçu-RS.
Hoje as possibilidades se descortinaram com a presença dos novos maquinários e equipamentos agrícolas, automóveis, motocicletas, eletrodomésticos, que permitem o estabelecimento da oferta de serviços para o conserto destes bens em tempo integral ou parcial. Também, se observa a presença de caixeiros-viajantes, oriundos da sede do município trazendo mantimentos, frutas, pães, bolos etc, indicando que há possibilidade dos moradores locais dedicarem-se a estas atividades comerciais e de serviços. A existência de festas de comunidades, casamentos e formaturas cada vez mais frequentes e requintadas, já possibilita a presença de institutos de beleza para que a mulher rural não necessite mais ir à cidade arrumar-se e depois retornar ao interior para atender o seu compromisso social.
Nos anos 80, já se observava no município de Nova Petrópolis-RS, na Rota das Hortências, a existência de produtores de leite, que manejavam seus animais e de quando em vez, ao parar um automóvel as margens da rodovia, largavam a sua atividade e corriam em sua malharia para vender um blusão, retornando à sua ocupação anterior logo em seguida.
A percepção destas possibilidades e as atitudes necessárias para a sua viabilização passam por mudanças de conceitos do agricultor familiar e da sociedade urbana que com ele interage. Ao agricultor ainda lhe é impingido que não pode comprar nada e que tenha que plantar e criar de tudo, porco, frango, horta etc. Ao morador da cidade tudo é permitido comprar, pois pode ir ao supermercado abastecer-se e sentar-se à frente da televisão para consumir o que bem lhe aprouver.
Esta combinação de atividades agrícolas e não agrícolas além de ampliar a renda familiar, irá absorver aqueles jovens que possuem outras vocações, que não somente a atividade agropecuária, além de propiciar a sua independência financeira.
Nos últimos planos de safra da agricultura familiar, ficou mais clara a possibilidade do financiamento destes investimentos (oficinas mecânicas, borracharia, serrarias, salão de beleza, padarias etc) através do PRONAF.
O agricultor familiar possuindo a sua carta de aptidão de enquadramento no PRONAF pode ele, ou ela, investir em atividades agropecuárias ou não-agropecuárias, para a implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas, de acordo com projetos específicos (MCR 10-5-4).
Esta oportunidade de negócios, que traz mais renda e progresso ao interior poderá ser financiada pelo PRONAF em dez anos de prazo com até cinco anos de carência.
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