Março de leve alta, abril de muitas incógnitas

 Março de leve alta, abril de muitas incógnitas

Robispierre Giuliani/Revista Planeta Arroz

(Por Cleiton Evandro dos Santos, AgroDados/Planeta Arroz) O mês de março encerrou, na última quinta-feira (31/3), acumulando leve alta, de 3,83% nos preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul, segundo o Indicador Cepea/Irga-RS. O mês foi marcado por preços firmes, com a saca de 50 quilos, à vista, cotada em R$ 76,75 no último dia de março. Pelo câmbio do dia, o produto equivalia a US$ 16,12, retirando completamente a competitividade do setor no mercado externo. A valorização do real perante o dólar norte-americano e as cotações internas mais fortes, em especial no RS, além do desinteresse em ofertar de boa parte dos rizicultores, são fatores que contribuíram majoritariamente para este cenário. No primeiro dia de abril, sexta-feira, houve ligeira alta para R$ 76,77 em reais, mas em dólar a valorização foi mais expressiva, para US$ 16,44, uma vez que o câmbio valorizou bastante a moeda brasileira (R$ 4,66 x US$ 1,00).

Com isso, notou-se que apesar de preços firmes, na faixa de R$ 75,00 a R$ 76,00 de média nas principais praças, e R$ 77,00 a R$ 78,00 na Zona Sul, no início da semana, a demanda enfraqueceu à medida em que o mês terminava. Um dos fatores foi o recuo de empresas de fora do Estado, que começaram a encontrar arroz a preço final de R$ 70,00 a R$ 75,00 pelo esbramado colocado no Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O avanço em qualidade e produtividade do terço intermediário da colheita alterou um pouco o cenário da safra depois que a arrancada inicial se mostrou pouco produtiva e com muitos quebrados. Aparentemente, as primeiras áreas semeadas – e que ficaram prontas para colher – foram as mais afetadas pela estiagem e falta de água.

Cerca de 960 mil hectares foram semeados no Rio Grande do Sul, mas estima-se que entre 35 mil e 45 mil hectares tenham sido abandonados e pelo menos outros 50 mil tenham tido alguma restrição hídrica ao longo do ciclo. A estimativa é de que o Estado colha 1 milhão de toneladas de arroz a menos nesta temporada, depois de um recorde obtido no ano passado. De 8,43 milhões de toneladas, a expectativa é de que a produção fique em torno de 7,5 milhões de toneladas, o que é considerado um volume de safra normal. As maiores perdas foram registradas na Fronteira Oeste.

Em termos de mercado, preocupa a repetição de cenário de 2021, com o Brasil não exportando volumes expressivos no primeiro semestre e carregando os estoques para o segundo semestre, o que poderia gerar um fenômeno de reversão das tendências normais dos preços. Ou seja: preços menores no final do ano, no auge da entressafra e maiores durante e logo após a colheita. A diferença para 2022, é que desta vez a indústria tem ido buscar arroz no Mercosul porque, em dólar, o negócio compensa. Em 2021 essa diferença não era tão significativa.

Um trader projetou, esta semana, que a indústria brasileira, até agora, já adquiriu perto de 350 mil toneladas de arroz, em base casca, nos países vizinhos, que está entrando gradativamente no país. Uma delas teria adquirido mais de 60 mil toneladas de arroz branco de uma subsidiária no Mercosul.

Percebe-se a indústria e o varejo comprando da mão pra boca, apenas repondo estoques quando necessário. O Litoral Norte gaúcho e a Depressão Central e parte da Planície Costeira Interna tem movimentado bom volume de grão para empresas catarinenses por causa do menor impacto de impostos, custos de secagem e descontos por qualidade. Como é arroz para parboilização, o grão não sofre tantos descontos. Há produtores que esta semana recebiam livre, no RS, R$ 74,50 para remeter o arroz para Santa Catarina. Nas mesmas regiões, no RS, os descontos com CDO, transporte, Funrural e secagem podem superar 10%. Na Zona Sul, houve empresas oferecendo perto de R$ 80,00 para o produto a liquidar (dentro da indústria), mas descontando “tudo”.

Nesta segunda-feira o mercado praticamente não se moveu, com algumas especulações, mas baixo volume de negócios. As exportações, em especial de arroz em casca, estão suspensas por absoluta falta de competitividade. O arroz brasileiro chega a valer mais de US$ 100 a tonelada frente aos concorrentes, no caso do arroz branco.

A safra gaúcha alcançou 58,9% segundo o Irga, e a produtividade é expressiva, em 8.545 quilos por hectare. Apesar de áreas abandonadas e produtividade afetada em algumas regiões, a colheita do RS deve ficar dentro da média da última década, próxima de 7,5 milhões de toneladas, praticamente um milhão de toneladas abaixo da excepcional temporada passada, quando obteve um recorde de produtividade superior a 9 toneladas por hectare.

PREÇO AO CONSUMIDOR

Em termos de preços aos consumidores, a virada do mês trouxe poucas promoções e estabilidade nos preços. É quando o consumidor costuma fazer as compras do mês, e isso gera um recuo no valor das ofertas. Preço médio para o pacote de cinco quilos, nas capitais pesquisadas por Planeta Arroz, manteve-se na faixa de R$ 21,00.

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