Preço mínimo: reconhecimento inoportuno

Autoria: Henrique Osório Dornelles, produtor rural e presidente da Federarroz .

Juntamente com todos os setores produtivos brasileiros, o arroz vem sofrendo duramente os constantes aumentos dos custos de produção. Entretanto, pelo menos aos arrozeiros, há a sensação que a situação é muito mais grave.

A maioria da rubricas que compõem a planilha de desembolso tiveram aumento igual ou acima da inflação. Na gondola, o preço não sofre reajuste significativo há muito tempo.

A Conab, órgão oficial responsável pela análise dos custos de produção e indicação do preço mínimo, vem desconsiderando a atual conjuntura juntamente com o Ministério da Fazenda.

Mesmo com a mudança da balança comercial brasileira, sendo o Brasil um importador histórico de arroz, esse passou a ser um exportador líquido, ou seja, há três anos que as exportações apresentam-se acima das importações.

Mercado menos volátil foi o principal fruto, com menos oscilações de preços e em patamares razoáveis. Na contra mão, os custos de produção vem provocando uma espécie de desafio constante aos produtores, que mesmo com uma das maiores produtividades mundiais, a competitividade é questionada.

Este ano o vilão isolado é a energia elétrica, que mesmo as concessionarias não entregando um produto com qualidade, motivo de várias audiências públicas e até mesmo uma segunda CPI do assunto, houve o aumento de aproximadamente 30% nas tarifas.

Para o arroz irrigado do Rio Grande do Sul, dependente desse insumo que pode representar quase 7% dos custos variáveis, é uma notícia muito preocupante. Para agravar, defensivos, mão de obra e peças de reposição/manutenção também tiveram reajustes.

Atualmente o preço do arroz encontra-se estagnado ao produtor. O maior motivo é que as indústrias não conseguem transferir ao varejo a necessidade de reajuste que o casca requer para garantir a renda no campo do arrozeiro.

A concentração do varejo e o grande número de empresas beneficiadoras faz com que a relação comercial não tenha equilíbrio. Para agravar, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Maranhão possuem postura tributária nociva ao produto nacional, privilegiando o importado, chamada guerra fiscal. Quem paga é o produtor, e isso tem desencadeado à um movimento de busca por escala na produção primária, agricultores absorvendo a área do vizinho.

Mas o que mais surpreende ao setor produtivo é a postura da CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento, geralmente combativa e de pouca transparência nas tomadas de decisão.

Com todos os aumentos de custos, muitos deles de domínio da máquina pública, como combustíveis e energia elétrica, o setor arrozeiro ainda precisa conviver com a desconfiança que a produção de arroz irrigado do sul do Brasil não foi atingida ou não sofre desse mal.

Assim, produtores gaúchos e de Santa Catarina talvez estejam convivendo com uma expectativa de não ser reconhecida a inflação por custos de produção através da não elevação do preço mínimo de forma coerente.

Mas não é somente a questão do preço mínimo que transmite a CONAB uma impressão negativa. Recentemente, incorrendo em um erro na formatação de questionário para apuração dos estoques privados, que resultou agora em uma expressiva variação no quadro de oferta e demanda, não ouviu o setor e não corrigiu o problema no momento oportuno.

Além da Companhia Nacional de abastecimento, há ainda o Ministério da Fazenda, que dá o último e definitivo parecer para a divulgação do preço mínimo.

Acuado pela situação econômica do país, poderá romper a razão e promover uma avaliação não real com o objetivo de mascarar a inflação por custos nos produtos da cesta básica dos brasileiros.

Certamente seria inoportuno para o governo oficializar essa pressão. O desafio dos arrozeiros gaúchos realmente é muito grande. Guerra fiscal, custos de produção em alta, varejo comprometido exclusivamente com sua lucratividade e órgão público pouco transparente são alguns deles.

Depois de tudo isto, ainda deve conviver com a tradicional postura dos principais países participantes no mercado internacional de arroz, como Tailândia e Vietnã, que comercializam a produção dos produtores de forma populista para após livrarem-se do produto a preços aviltantes.

3 Comentários

  • Presado Henrique:
    Que grande oportunidade de chutar o balde! PGPM nunca favoreceu os produtores neste país. Preço mínimo sempre nos prejudicou. Nos anos de difícil comercialização, foi o preço máximo. Hoje, é usado para dizer que estamos ficando ricos: 36,00 para 25,80. NÃO QUERO PREÇO MÍNIMO, QUERO PREÇO DE MERCADO! NÃO QUERO ABRIR MEUS NÚMEROS! NENHUM SETOR DA ECONOMIA FAZ ISTO. FOMOS TREINADOS PARA SER TROUXAS EM REVELAR NOSSOS NÚMEROS. HOJE TEMOS ALTERNATIVAS PARA SUBSTITUIR AS LAVOURAS CARAS POR SOJA. SE ESTABELECERMOS UM TETO DE 1.000.000 DE HECTARES, VAMOS EXPERIMENTAR GANHAR DINHEIRO!
    Abraço.

  • Parabéns Henrique, muito bom comentário. Bom artigo!
    Abraço.

  • Como qualquer seguimento ,o preço mínimo deve ser acompanhado de uma planilha de custos ,completa com depreciações , todo o seguimento que possui estoques deve trabalhar com a fórmula de capitalização ;

    Preço de Venda =[preço de recompra da mat.prima +10% de imp.ind. +25%lucro.
    precompra mat prima=[m.obra+insumos+peças etc..] Esta é a fórmula de capitalização de qualquer setor. CHEMALE

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