O arroz longe de ser o vilão da inflação

Autoria: Tiago Sarmento Barata (diretor comercial do Irga), Álvaro Escher e Michel Kelbert (economistas/Irga).

Diversas matérias veiculadas na mídia nas últimas semanas têm atribuído ao arroz a condição de vilão da inflação. Por ser um alimento básico na alimentação da população brasileira, é natural que a valorização seja acompanhada com atenção pela sociedade. Porém, em respeito à importância deste produto como fonte de energia e saúde, é necessário que se faça uma análise justa, despida de preconceitos, dos índices de preços mensalmente divulgados pelos institutos de pesquisas econômicas.

Analisando os dados do DIEESE, constata-se que, de fato, o preço do arroz ao consumidor acumulou uma alta de 9,02% entre dezembro de 2013 a dezembro de 2014, considerando as 18 capitais brasileiras pesquisadas. É verdade também que este índice é superior ao índice de aumento médio da cesta básica, que ficou em 5,5%. Isto significa que, em um ano, o custo médio da cesta básica teve um aumento de R$ 16,07, sendo R$ 0,67 diretamente relacionado à valorização do item arroz.

Sob a ótica da proporcionalidade em relação ao total gasto com os 13 produtos que compõem a Cesta Básica de Alimentos o dispêndio com o arroz representou em dezembro de 2014 apenas 2,63%. Bem menos do que, por exemplo, a manteiga (4,92%), a batata (4,93%), o feijão (5,48%), o leite (6,03%), a banana (8,33%), o tomate (10,25%), o pão (16,13%) e a carne (34,02%). Aliás, o arroz representa mais – em termos percentuais – apenas do que a farinha (2,41%), o café (2,17%), o açúcar (1,74%) e o óleo (0,96%). 

Por esse prisma, o enquadramento do arroz como vilão da cesta básica e um dos protagonistas do aumento inflacionário torna-se inconsistente, ainda mais se recorrermos à análise de uma série histórica do percentual mensal gasto com o mesmo. Em Porto Alegre, por exemplo, em janeiro de 2000 o gasto com arroz representava 2,38% do total da cesta básica. Esse valor saltou para 3,53% em fevereiro de 2004 e hoje está em 2,01%. Portanto, ao longo de um período histórico representativo, o gasto com o arroz na capital gaúcha, em relação ao total de gastos com os produtos da cesta básica, na verdade vem se reduzindo, não obstante a sua crucial importância como produto primordial na alimentação dos brasileiros, inclusive como componente importante da segurança alimentar.

1 Comentário

  • Nunca fomos os vilões! Compomos mais da metade do prato do brasileiro, carregamos por séculos a nutrição em baixo custo e largo benefício. Somos ecléticos, versáteis, cabemos com quase tudo…

    Injustiça seja feita e nos deixem de lado numa alta de preços generalizada, vão aos fast foods, às polentas e massas, sei que voltarão…

    Nenhuma análise mais criteriosa nos deixaria de lado, não nós…

    Caso o caminho reverso a mim não venha, e realmente sejamos deixados de lado, sou orgulhoso e quem deixará vocês será eu, vou pra soja, vou pro exterior, pro milho ou até pra ponte que partiu, mas com vocês, ingratos que são assim, não ficarei por muito tempo…

    Fui

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