Plantar ou não plantar, eis a questão!?

Autoria: Benvindo Gaspar Ferreira Neto (eng. eletrônico, bacharel em Ciências Contábeis e rizicultor).

Como orizizultor, coisa que repito há mais de 25 anos, me preparo para decidir o que plantar. Com as previsões de custo de produção por ha rondando de R$ 7.000,00 a R$ 7.300,00, preciso decidir o quanto plantar. Abaixo fiz uma previsão de custo de produção baseado nas diversas produtividades possíveis.

A produtividade de 257,36 scs por quadra limpo e seco é a produtividade média das três safras anteriores a 1915, é aproximadamente a média do estado e deve ser encarado como o mais próximo do real, é a média, significa entretanto que tem muita gente que está ainda abaixo disso, quem colhe abaixo já deveria ter parado de plantar há muito tempo pois como na velha expressão há muito tempo “está comendo o rabo”, vem amargando prejuízo há muito tempo, nestas alturas já deve estar quase quebrado, se já não o estiver.

Quem está na média, com o custo calculado do Irga, da safra passada R$ 38,69 também amargou prejuízo até o momento. Quem colheu 300 por quadra e vendeu por R$ 33,00 empatou.
Duas simulações e seus custos e preço ideal de venda com 20 e 30% de margem.

1 quadra = 1,74 ha

Quem conseguir produzir 320 sc/q com o primeiro custo poderá ter uma remuneração próximo a 20%, se a escassez de arroz levar as indústrias a comprar a R$ 48,00 no ano que vem, esse é o preço próximo aos U$ 12,00 a saca do Mercosul. Se a indústria pagar R$ 42,00, pouco provável somente empata ou ganha alguma coisa quem produzir mais de 290scs. A coisa tá feia, muito desparelha. Se os custos chegarem aos R$ 7.300,00, quem produzir 320sc estará simplesmente empatando se a indústria pagar R$ 39,69 líquido.

Que alternativa temos, se produzirmos muito menos, na medida que falte arroz, levaremos o preço para o preço do Mercosul, US 12,00 algo como R$ 48,00, mas que graça tem trocar um tostão por um tostão, com o enorme risco de quebra de safra e do cartel tabelar, como sempre, o preço abaixo do custo.

Na minha situação fiz a seguinte análise, sou médio produtor, 105ha, 60q, ou seja dois cortes de 105 totalizando 210.

Se produzir 300sc/q, produzirei 18000sc com um custo próximo de R$ 735.000,00, custo próximo de R$ 40,83, se vender por menos na safra vou perder dinheiro.

Ganharei meu arrendamento, vou pagar um arrendamento para mim mesmo, R$ 9.6000,00, cada real que recebo a menos é prejuízo de R$ 18.000,00. A previsão é que talvez empate.

Minha área é baixa, metade banhado, metade terra baixa, após a safra fica encharcada e é quase que impossível usar a área para plantar azevém, pouca utilidade tem para produzir carne, um corte fica parado o outro deve estar preparado, entaipado para o atual plantio. Pouco uso se pode fazer para a pecuária.

Tudo isso, 210ha para tentar ganhar o arrendamento próprio de 80 a 90 mil. Entretanto se não plantar e usar a área toda para gado, vacas de cria, investindo com adubação pesada e boas forrageiras, inverno e verão em 105ha com um investimento próximo a R$ 200.000,00, no capricho, posso manter durante o ano uma lotação de 3 cb/ha, isto daria 630 vacas que com uma taxa de natalidade de 70% dariam 441 terneiros, 220 terneiros machos para vender e 220 vacas de invernar ou engorde, uma vez que ficam 220 novilhas na fila para vaca.

Com o terneiro R$ 6,00 e a vaca a R$ 4,25 daria uma renda de R$ 220.000,00 a R$ 264.000,00 proveniente de terneiros e R$ 350.000,00 a R$ 400.000 correspondente às vacas, se engordar as vacas o resultado pode ser maior ainda. Renda bruta de R$ 570.000,00 a R$ 615.000,00 com investimento de semente, preparo e adubo de R$ 200.000,00.

A renda líquida deveria ficar próximo a quatro vezes o que ganharia com o arroz, no caso meu arrendamento. Com isso poderia a partir daí usar o campo somente para pecuária sem os atrapalhos da lavoura de arroz.

A área de banhado, preparo de solo e deixar a grama boiadeira vir, irrigando a boiadeira, tem a água da barragem, a boiadeira aguenta a geada e dá gado gordo o ano todo, o restante da água pode ser usada para pivots na coxilha. O gado, no meu caso, já tenho as vacas.

Se não tem as vacas, diminua a lavoura uns 20, 30% e financie do mesmo modo a aquisição de matrizes ou boi. Segundo alguns criadores aqui da região seria possível se conseguir 1000kg/boi hectare/ano nas áreas de arroz, no meu caso 210 000kg a R$ 5,00, R$ 1.050.000,00 bruto, muitíssimo superior ao que consigo com o arroz bruto.

Não sei se seria certo afirmar, ”Criar gado com lucro certo ou plantar arroz com prejuízo quase certo”.
Por favor, meus colegas, olhos grandes, não venham me fazer propostas para arrendar, vou considerá-los como maus colegas, pois esses que pensam em aumentar as áreas quando deveríamos diminuir, são em parte também os responsáveis por nossa situação.

A única situação para não deixar de plantar seria se pudéssemos vender o arroz ao preço do mercado internacional ou seja, R$ 48,00 a saca, mesmo assim com o atual custo ainda na maioria das produtividades estaríamos empatando.

O sonho seria se para qualquer importação fosse incluída uma TEC de 35%, voltaríamos a ganhar o que no passado ganhávamos, algo em torno de 30%, o que mais do que justo, acho que temos o direito de ganharmos alguma coisa, pois o investimento tem riscos associados.

Noutro artigo, posso fazer um calculo estimativo do quanto a indústria ganha e o quanto o cartel prejudicou o nosso estado contribuindo com a disseminação de miséria, desemprego, uma vez que nesta safra passada, a maior parte do arroz foi vendida a R$ 33,00 com custo de R$ 38,69, se colocarmos uma margem de 30% (dividindo por 0,7), margem se calcula por dentro o preço estaria em R$ 55,00, isso é o ganhávamos e o que a indústria nos tirou, R$ 19,00 por saca, com um volume de 170 milhões de sacas, 19 reais por saca são R$ 3.230.000.000,00 que os produtores deixaram de ganhar, com um fator de multiplicação desse dinheiro que deixou de circular na economia de nosso estado que no nosso caso é 5, seriam R$ 16.150 bilhões de reais, resultando uma perda de renda per capita no estado de R$ 1.468,18, considerando 11 milhões de habitantes. Se calcularmos somente para a metade sul, produtora de arroz, o estrago é evidente e imenso.

O estado não estaria nessa penúria que está, mas isso pode ser assunto de outro artigo, o impacto na economia gaúcha da perda de renda do orizicultor provocada pelo cartel da indústria.

O fator de multiplicação, coisa que qualquer um que tenha estudado Economia sabe, no caso de uma economia primária, baseada na agricultura e pecuária é 5 (cinco).

Segundo cálculos que fiz a indústria teria condições de pagar R$ 55,00 e ainda ganhar muito dinheiro.
Concluindo, no meu caso estou muito inclinado a não plantar e lotar a lavoura de gado, se você tem situação parecida com a minha, ajude os orizicultores e pense em fazer o mesmo, é provável que não se arrependa.