O Analista de Mercadinho em “Tiro dado…”

Autoria: Nelson Mucenic – Eng. Agronomo..

Sexta-feira, o dia dos três xis – xináps, xinaredo e xogatina, como dizia aquela xente de pescoço vermeio da colônha xaponesa, à tardinha a lavorerada se reunia no buteco do Xildo prá colocar a conversa em dia. Ainda que a tecnologia de comunicação permita o contato a todo momento, “pom mesmo é quando tá todo mundo xunto” como sempre repetia o dono do buteco, ao mesmo tempo que ia empurrando trago naquela xente de cabelo amarelo, digo, de pele amarela.

Mas nesses últimos tempos, o Xildo tava com uma mania de, conversa daqui e conversa de lá, botar uma pulga atrás da orelha da “xentarada”. Principalmente porque, safra vinha e safra ia, alguém negava a conta do caderno.

– Mas, xê Xúlio, aquela tua “lafoura” no fundo da “fárzea”, que tu diz que é muito boa, tá meiomali, não é meso?

– Como é que tu sabe, Xildo. Tá enxergando por detrás do “moro”?

– Aquilo tá virado num matagali, Xúlio.

– Pois é, tem “algum”, disse o Xúlio, resignado.

A situação tava começando a enfurecer “ossalemón”, digo “osxapones”, tudo. Que já nem conversavam mais sobre a lavoura. Só xôgo, xináps e xinaredo. Mas o Xildo sempre tinha uma:

– E a tua, Xovêncio, precisando de água?

– Que nada, Xildo, tá “xeinha xeinha”…

– Claro, depois desse “xuvaron”. Porque antes não tapava nem o xinelo…

– Esse Xildo é um “xuainarai” – disse o Xovêncio bem baixinho, porque o Xildo virava um xavali vermeio quando era xingado.

E o que mais intrigava é que o Xildo não saía do buteco. Como é que ele sabia das lavouras? Como é que ele sabia de detalhes?

– Aquela tua “laforinha” atrás das casa não tem um furinho e “fai” dá muito aroz, Xair!

– Será? Ano passado “tafa poa tampéim” mas deu pouco. Mas era “lafora” do tarde.

– Olha, aposto que o meu drone pousa na tua lavoura e não cai… no “chon”…

Xildo pigarreou, tentou despistar mas não adiantava mais. Era isso. O Xildo tinha um drone.

Aquela “xente” que tava no “xogo” se olhou e pela cara sentenciaram o drone do Xildo com um “X”.

“X” de xacú. De tiro dado, “xacú” deitado.

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Fosse a previsão de clima uma decorrência automática e determinante como o ditado acima – tiro dado, jacú deitado – talvez nada mais surpreendesse o produtor. Embora seja essa a única ferramenta que se dispõe para antecipar planos e procedimentos para contornar os eventuais obstáculos que a atividade possa enfrentar, nem sempre isso se confirma e alternativas precisam ser reservadas para uma eventual mudança de rumo. A safra ainda em curso é a mais recente e perfeita prova de que as previsões são acompanhadas de probalidades e que, portanto, podem não acontecer. Aliás, o aviso de ocorrência de “la niña”, mesmo ajustado para uma previsão de grau moderado, se mostrou bastante impreciso. E aqui mais algumas, digamos, surpresas: nascimento perfeito e, embora a frequência e a intensidade das chuvas, a quase ausência de inóculos e a ocorrência de doenças fúngicas. Tudo isso conspirando para que se configure uma safra de bom resultado, tanto em quantidade como em qualidade.

Temos ainda pela frente um período de 30 dias para confirmar a expectativa de produtividade e produção. Ainda que estes números atinjam os patamares esperados, uma vez com o produto já armazenado, vamos à lógica do jogo de mercado que guarda também sua imprevisibilidade. Houve safras cheias em que o preço foi bastante compensador. Significa dizer que isso também não segue a mesma lógica vaticinada pela Vó Frida quando dizia pro Xoaquim:

– “Fai” lá na padaria e se o “pom” tá “pom”, traz “pom”. Se o “pom” não tiver “pom”, não trás “pom”.*

Muita calma nessa hora!

*Tradução: Se o pão tá bom, traz pão. Se o pão não tiver bom, não traz pão.

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