Não precisava isso, senhor governador!!!
Autoria: Alex Soares – jornalista, produtor e apresentador do programa de rádio Conexão Rural/Rádio Acústica-Camaquã/RS .
Nem governador, nem o ministro da Agricultura prestigiaram a tradicional solenidade que simboliza o corte dos primeiros cachos de arroz da nova safra orizícola gaúcha e brasileira. Perderam. Lá veriam um manancial organizado, que funciona de forma permanente e altiva, tendo como principal fim abastecer a nacionalidade com um dos seus alimentos mais essenciais. Perderam de ver também uma multidão que vive a partir desta atividade, plantando ou não. São muitos CNPJs de indústrias, comércios e serviços envolvidos. São profissionais que garantem o sustento dos seus a partir da produção de arroz. Gente que não se beneficia de programas sociais dos seus governos. Bolsas? Somente as usadas para levar as ferramentas que ajustam os equipamentos da lavoura.
Sartori e Blairo perderam de ver o brilho nos olhos dos lavoureiros que ali foram, de conhecer mais eles e suas expectativas que se renovam à cada ano, às vésperas de serem remunerados pelos seus plantios. Era para ser diferente, mas nem o atual ministro, nem o governador, tampouco os seus antecessores criaram algo que garanta ao agricultor brasileiro um fechamento de contas que ao menos faça com que ele não fique no vermelho.
A ausência do ministro Blairo Maggi até se entende, afinal ele tem um país para atender, mas um governador não ir ao principal evento de uma atividade que gera R$ 300 milhões de impostos anuais ao seu estado, é no mínimo faltar com uma obrigação. Nos bastidores, era nítido o constrangimento dos homens do governo que trabalham com o agro. Sem sucesso, tentavam justificar a troca do compromisso de Cachoeirinha por um em Flores da Cunha, na Serra. A opção pelo "Mostra Flores", um evento municipal, foi entendida como um recado, uma represália aos que vêm lhe criticando pela falta de uma atitude positiva em relação ao Instituto Riograndense do Arroz, que vêm se definhando tecnicamente em razão da defasagem salarial dos seus profissionais. Insatisfeitos, migram para iniciativa privada, que paga melhor. Em 2016, o Irga perdeu cinco agrônomos pesquisadores, 30 técnicos e dezenas de extensionistas.
Perdeu o governador, no sábado, uma preciosa oportunidade de passar bons momentos em meio a protagonistas do “Rio Grande que dá certo”, como ele gosta de dizer.
Como se diz no interior, Sartori (e faça-se justiça: seus últimos antecessores também o fizeram) dá uma de leitão para mamar deitado com o Irga. Acontece que os salários do Irga, assim como sua manutenção, são pagos pelos próprios arrozeiros, através do recolhimento da CDO – Contribuição de Defesa da Orizicultura -, taxa criada por força de lei em 1968 para fomentar a pesquisa. Para cada de saco de 50 quilos colhido, o Irga recebe 18,83 Ufirs, o equivalente hoje a R$ 0,60. Até ai funciona bem. O problema é que dos R$ 100 milhões produzidos pela CDO – escoados para o caixa único do Estado – retornam para o Irga apenas R$ 60 milhões. A isso costuma-se dar o nome de desvio – no mínimo de finalidade de recursos. Ou tem outro nome que tipifique a prática?
Teria José Ivo Sartori receio de ser cobrado de forma mais contundente em Cachoeirinha? Talvez fosse, mas achincalhado, como o é por outros grupos, jamais. O povo arrozeiro é de paz e consome mesmo suas energias fazendo força nas granjas. Nenhuma manifestação estava armada e não se viu nenhuma faixa de protesto na Estação Experimental. Perdeu o governador, no sábado, uma preciosa oportunidade de passar bons momentos em meio a protagonistas do “Rio Grande que dá certo”, como ele gosta de dizer. Verdade que no seu discurso, ele também poderia pedir desculpas pelo que não está fazendo pelo setor. E mais: agradecer por tudo que a engrenagem arrozeira significa. Mas não, o 38º governador gaúcho do período republicano preteriu o arroz, optando pelas flores na manhã de sábado. Talvez, pelo menos aos finais de semana, Sartori queira fantasiar um Estado surfando num mar de rosas. Vai saber!
Mas pensando bem, Vossa Excelência deve ou não ir onde bem entender. Mas façamos assim: apenas promova a devolução dos valores que são do Irga de direito e cada um segue o seu destino.