Arroz com arsênico no Brasil: É preciso ficar superpreocupado?
Autoria: Alice Branco Weffort – GreenMe.com.br.
O alerta sobre a grande quantidade de arsênico inorgânico nos grãos de arroz cultivado por irrigação está em todos os “mídia”, seja aqui, seja no mundo global em que vivemos. Assusta saber que todo arroz de irrigação pode conter arsênico inorgânico em seus grãos e que este pode causar sérios problemas de saúde. Mas, será certo que o arroz brasileiro é tão perigoso assim?
Alguns dizem que sim, outros dizem que não porém, o certo é que todo arroz cultivado em sistema de irrigação, o sistema mais usado no Brasil (3° produtor mundial deste grão) contêm arsênico em seus grãos – mas, o que interessa é se esse arsênico está na forma orgânica ou na inorgânica quando for chegar à sua boca, não é?
Um artigo publicado na revista Química Nova, muito bem feito, por sinal (recomendo a leitura integral apesar de ser artigo técnico e denso) afirma, com justa razão que:
“Técnicas de cultivo diferenciadas utilizando a interação com outros elementos (como silício (Si), fósforo (P), ferro (Fe) e enxofre (S)) e práticas agrícolas como irrigação intermitente, uso de microrganismos da microbiota natural que adsorvem, acumulem e/ou metabolizem o Arsênico (As) presente no solo, controle da expressão genética para metilar, conter o As-i absorvido ou aumentar a resistência da planta, polimento do grão e preparo para o consumo parecem ser as estratégias mais viáveis do ponto de vista prático para a redução da concentração de As pelos grãos e transferência deste para o consumidor final”.
Portanto, o mundo científico conhece meios de reduzir o potencial toxicológico do nosso arroz de cada dia e você, pelo sim, pelo não, já deve saber que é preciso mudar a receita (a proporção de água no arroz deverá ser de, no mínimo, 5 canecas de água para 1 de grão) mas, se não sabe, leia o artigo indicado lá no final deste.
Mas, e o arroz brasileiro ou o brasileiro que come arroz todo dia?
Porém, o professor de química, Bruno Lemos Batista, da Universidade Federal do ABC, um pesquisador do tema, afirma, em controvérsia, que “o arroz consumido no Brasil tem arsênio em quantidade baixas, insuficientes para causar preocupação com problemas de saúde” (leia aqui a matéria no UOL). Segundo este professor, e é certo o que diz, "A preocupação maior com o arsênio acontece ao longo da vida, [quando consumido em grandes quantidades] pode eventualmente aumentar a probabilidade de causar doenças" e isso, só quando a ingestão é aumentada pois, a exposição prolongada a este elemento químico pode causar câncer, lesões de pele e doenças no coração.
Quanto arroz brasileiro come, afinal?
No Brasil consumimos em média 50 kg ao ano, por pessoa. A quantidade diária deste consumo não ultrapassa os 100g de grãos ao dia e, esta média é considerada segura ou, só preocupante a longo prazo. Mas, será mesmo?
Quando falamos de média estamos diluindo a questão, me parece: uma pessoa de 70 kg, que coma as tais 100 g de arroz ao dia é muito diferente de uma criança ou bebê, que coma 50 g ao dia. É preciso lembrar que o arroz está em tudo que é papinha infantil, nos bolos e pães e, especialmente, na dieta daqueles que são alérgicos ao glúten. Então, a média fica descompensada.
Porém, a dúvida é de que sabemos que as crianças são muito susceptíveis de problemas graves em decorrência do arsênico que se acumula em seus organismos.
E os danos que o arsênico pode causar?
Diversas doenças, claro, por acumulação e também, veja só, danos genéticos – segundo este estudo: “Elevado teor de arsênico no arroz está associado a altos efeitos genotóxicos em seres humanos”.
O limites permitidos de arsênico, quais são?
Diz-se que, no Brasil, os limites de arsênico nos grãos de arroz não foram extrapolados. Enfim, isso depende do limite estabelecido e, segundo a Anvisa, este é de 0,35 mg/kg de arsênio (o nome técnico do elemento As) no arroz (veja aqui). E, segundo o professor Bruno Batista, para uma média de consumo de 86,5 g de arroz ao dia (cada estudioso tem seu número, você já se deu conta) a ingestão do As (arsênico total) é um pouco maior do que se você tomasse 2 litros de água (também com arsênico residual).
Enfim, o risco assumido depende dos limites estabelecidos e também do que diz a FDA americana, a gente sabe. E a FDA – Food and Drug Administration diz que não há risco, porém a FSB – Food Safety Brazil diz que há, sim!
O que fazer? Mudar a receita tradicional?
A orientação do professor Batista é também a de se mudar a receita tradicional para cozimento do arroz. Enfim, mesmo que para o Brasil o arsênico no arroz não seja, ainda, um problema tão grave como o é nos países asiáticos, o melhor é prevenir a sua acumulação no nosso corpo e, uma das maneiras é você lavar e lavar e lavar, os grãos que vai usar, cozinhar em uma grande quantidade de água, escorrer, e comer sem sustos. Vamos nessa? Será preciso mudar algo nas receitas mas, com jeitinho vai dar tudo certo, exceto a contaminação de solo e água (mas, este é um outro assunto, certo?)
1 Comentário
Temos então, alguns desafios:
Provar que o nível do Arsênio inorgânico, no arroz brasileiro não excede os 0,35mg/kg.
Averiguar qual é o consumo seguro do arroz- nos níveis de Arsênio do arroz brasileiro-, por G/dia/idade.
Aumentar a fiscalização na entrada de arroz no país, via importações. Estabelece níveis de Arsênio e QQ outro(s) elemento(s) que trazem danos a saúde.
Procurar através das empresas e laboratórios do setor de inovação tecnologica agrícola, produzir sementes mais impermeáveis ao Arsênio ou criar outras formas de cultivo que diminuam o valor do elemento no grão. Quando frequentei a faculdade de Oceanografia, entrei em contato com um experimento que inseria camarões no cultivo de arroz. Há pouco tempo uma reportagem, não me lembro onde, que dizia que o Arsênio contido nos camarões é na forma orgânica e não inorgânica, não tenho elementos agora para provar tal informação, mas seria interessante que os órgãos do setor procurem saber se o cultivo de arroz junto aoproducao de arroz, não diminuiria os níveis de Arsênio na composição aquosa.
Apenas devaneios que possam auxiliar essa questão importante que o setor terá que desenrolar…