Sistema de produção de arroz em vazante Pindaré Mirim, Monção
Autoria: Renata da Silva B. G. Bomfim e João Flávio B. Gomes – pesquisadores Embrapa Cocais – Maranhão.
A Microrregião da Baixada Maranhense é composta por 21 municípios. É uma região de grande importância social e ecológica no estado. Situa-se na porção centro-norte da área de transição entre a Amazônia e o Nordeste Brasileiro (Silva e Moura, 2004) e grande parte de seu território está inclusa na Amazônia Legal (Ferraz Júnior et al., 2007).
O rio Pindaré, principal afluente do rio Mearim, nasce nas elevações que formam o divisor de águas entre as bacias hidrográficas dos rios Mearim e Tocantins, nas proximidades da cidade de Amarante, com cotas altimétricas da ordem de 300 m (BRASIL, 2006, citado por Farias Filho, 2006).
De acordo com o IBGE (1997, citado por Farias Filho, 2006), o rio Pindaré coleta as águas de afluentes provindos das serras do Gurupi e Tiracambu. Nasce a leste do município de Montes Altos e tem como principais afluentes os rios Buriticupu, Negro, Paragoaminas, Zutiua, Timbira, Água Preta e Santa Rita. Suas descargas sofrem pronunciadas variações entre o período chuvoso e o de estiagem, decaindo para 30,2 m3/s no trimestre setembro/outubro/novembro e atingindo a vazão máxima de 493,7 m3/s no trimestre março/abril/maio.
Assim, a dinâmica dos agricultores se dá em função dos regimes fluvial e pluvial da região e da fertilização periódica dos solos com matérias orgânica e outros sedimentos, caracterizando o cultivo em várzeas úmidas não-sistematizadas, comum nas várzeas do nordeste brasileiro (Vargas, 1999; Santos et al., 1999, citados por Ferraz Júnior et al. 2007).
Dessa forma, o sistema é realizado de maio/junho a setembro/outubro, durante o período de estiagem, já que chuvas intensas associadas a um sistema de drenagem lento deixam os solos completamente imersos por um longo período (Silva et al., 2006). São plantados anualmente cerca de 30 hectares de arroz de várzea, envolvendo aproximadamente 300 produtores rurais. A técnica é passada de pai para filho e é realizada há décadas.
A cultivar mais utilizada é a Diamante, desenvolvida pela Embrapa a partir de um programa de melhoramento de arroz irrigado para microrregiões agroecológicas do Piauí, em 1994 (Pereira, 1994). Essas regiões possuem características edafoclimáticas semelhantes às da Baixada Maranhense.
As áreas cultivadas são áreas devolutas e, por isso, são cercadas todos os anos. Nos meses de maio a junho, dependendo do regime de chuvas do ano, quando as várzeas começam a secar, as sementes são postas para germinar em tabuleiros naturais localizados nas bordas, que são denominados de “canteiros” que variam entre 5 a 10 metros de comprimento, podendo estar com pequena lâmina d’água (até 10 cm) ou na lama. Utiliza-se de ¼ a ½ saco de sementes de arroz por canteiro. As sementes são pisoteadas ou é passado um gadanho para enterrá-las. O produtor afirma que aproximadamente 50% das sementes são germinam.
Assim, após 15 a 20 dias, mudas de 12 a 15 cm de altura são retiradas manualmente e, com o auxílio de um chucho, são feitas pequenas covas de 5 cm de profundidade, espaçadas em 15 cm x 15 cm em tabuleiros definitivos alagados, localizados na parte mais interna do lago.
São feitos dois a três transplantes em áreas diferentes, de forma que há canteiros com estádios de desenvolvimento diferentes, o que facilita a colheita.
Não é aplicado nenhum insumo. Os produtores afirmam não ter problemas com pragas e doenças, além de plantas espontâneas, visto que o espaçamento utilizado fecha a parte aérea das plantas de arroz, impedindo a emergência das espécies espontâneas. Visitam as áreas de 15 em 15 dias. As áreas alagadas possuem peixes como piau, traíra, macará, tapiaca, entre outros.
A colheita manual é realizada nos meses de setembro e agosto, já que nessa época, a parte interior do lago já está seca. Assim, forram o solo com mato seco, cortam a planta na altura do colo e depositam esse material fazendo montes de 5 m de altura, utilizando uma técnica que, se chover, a água não penetra no interior do mesmo
Em três dias, sete homens colhem um hectare de arroz. Afirmam que colhem de 25 a 40 sacos por linha, perfazendo um total de 3.000 a 3.500 sacos, apenas em Pindaré Mirim, MA.
O material vegetal é transportado de carroça do campo até suas casas. O arroz é utilizado para subsistência e para venda. Um comerciante da região, chamado Altair, compra toda a produção, beneficia o arroz e revende para os moradores dos municípios locais.
Todos os produtores possuem outra atividade como pedreiro, pescador, empregado de campo etc.
Entrevistados:
José dos Santos Benício – Assistente Embrapa Cocais/ Lotado em Arari e Técnico Agropecuário
Manoel Socorro Goes – Produtor
Marcos – Presidente da Cooperativa Agropecuária Lago do Pindaré
Referências Bibliográficas
BRASIL/ MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES. Relatório estatístico hidroviário 1998-2000. Disponível em: < http://www.transportes.gov.br/Modal/Hidroviario >. Acesso em: 06/03/2006.
FARIAS FILHO, M.F. Caracterização e avaliação do cultivo do arroz em sistema de vazante na Baixada Maranhense. Dissertação – Mestrado em Agroecologia, UEMA. São Luís, MA. 2006. 128p.
FERRAZ JÚNIOR, A.S.L. et al. Cultivo de arroz de vazante na Baixada Maranhense. p.301-346. In Silva e Fortes (org.). Diversidade biológica, uso e conservação de recursos naturais do Maranhão. São Luís: UEMA, 2007.
IBGE. Zoneamento Geoambiental do Estado do Maranhão. Manuel Lamartin Montes (supervisor de projeto). Divisão de Geociências. Salvador, 1997.
PEREIRA, J.A. et al. Diamante: cultivar de arroz irrigado para o Piauí. Teresina: EMBRAPA-CPAMN, 1994. 3p.
SANTOS, A.B. et. al. Manejo de água e de fertilizante potássico na cultura do arroz irrigado. Pesquisada Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n. 4, p. 565-573, 1999.
SILVA, A.C.; MOURA, E.G. Atributos e especificidades de solos de baixada no Trópico Úmido. In MOURA, E. G. (org.). Agroambientes de Transição entre o trópico úmido e o semi-árido do Brasil. São Luís: UEMA, 2004.
SILVA, T.M.D. et al. Ocorrência e distribuição de esporos de Clostridium botulinum tipo C D em áreas de criação de búfalos na baixada Maranhense. Pesquisa Veterinária Braileira, v. 18, n.3-4, p. 127-131.
VARGAS, M.A.M. Desenvolvimento regional em questão: o baixo São Francisco Revisitado. São Cristóvão, SE: UFS, NPGEO, 1999.