Tecnologia e gestão: a combinação que faz a diferença

Autoria: Adriano Machado, sócio da PwC Brasil, e Lara Moraes, Supervisora de Agribusiness da PwC Brasil.

Durante muitos anos, o arroz constituiu a base alimentar de diversos povos em todo o mundo. Atualmente, é considerado o alimento de maior importância em muitos países em desenvolvimento, principalmente, na Ásia. Na mesa do brasileiro, a situação não é diferente e o arroz está presente em praticamente todas as refeições. A parceria com o feijão, por exemplo, é clássica e gera uma refeição saborosa e rica em nutrientes.

Apesar de ser um alimento tradicional no Brasil, a cultura representa apenas cerca de 2% de todo o Valor Bruto de Produção (VBP) gerado pela agropecuária do nosso país e a área plantada com o cereal (2 milhões de hectares) é pouco expressiva, quando comparada com a área ocupada por culturas como soja (34 milhões de hectares), milho (18 milhões de hectares) e cana-de-açúcar (9 milhões de hectares).

Quando se fala de área plantada com arroz, um dado que chama a atenção é que a área com a cultura foi reduzida em torno de 33%, entre as safras 2006/07 e 2016/17, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O curioso é que, nesse mesmo período, observamos um aumento de quase 9% na produção de arroz do país que saiu de 11,3 para 12,3 milhões de toneladas. Essa evolução só foi possível devido ao surgimento de novas tecnologias de produção e ao seu uso mais intensivo por parte dos produtores brasileiros. Toda essa tecnologia, permitiu que a produtividade da cultura no país aumentasse 63% no período analisado, passando de 3,8 ton/ha para 6,2 ton/ha.

Na Região Sul do país é onde melhor podemos observar os efeitos da adoção intensiva de tecnologias no cultivo de arroz, principalmente, no Rio Grande do Sul, que responde por 70% da produção nacional do cereal. No estado, a produtividade das lavouras na safra 2016/17 atingiu 7,9 ton/ha, valor 27,4% superior à média nacional.

No estado, a produção é 100% de arroz irrigado, modelo de produção no qual as áreas são alagadas durante o cultivo do cereal. Entre as principais vantagens deste método estão o controle de plantas daninhas na lavoura, a maior disponibilidade de alguns nutrientes para as plantas nas primeiras semanas após a inundação e o controle da temperatura do solo, evitando temperaturas extremas para as plantas.

A implantação das lavouras, em sua maior parte, ocorre pelo sistema de cultivo mínimo com semeadura direta. Neste sistema, o preparo de solo é reduzido, visando corrigir pequenas imperfeições de relevo, formar uma cobertura vegetal no solo antes do plantio de arroz e formar as taipas (elevação no terreno, acompanhando o nível do mesmo, que funciona como uma barreira para segurar a água de irrigação). A semeadura é realizada diretamente sobre a cobertura vegetal previamente dessecada, sem o revolvimento do solo.

O pacote tecnológico utilizado pelos produtores gaúchos inclui o uso de modernas máquinas e implementos agrícolas para as operações de preparo do solo, plantio, tratos culturais e colheita, bem como de equipamentos de agricultura de precisão, cultivares geneticamente modificados e sementes certificadas no plantio, produtos fitossanitários recomendados especialmente para a cultura do arroz nos tratos culturais e adoção de práticas de manejo na entressafra, como rotação de cultura e integração lavoura pecuária, evitando deixar o solo desprotegido. Alguns produtores, inclusive, já utilizam drones para levantar imagens das lavouras e identificar possíveis problemas com a inundação das áreas.

De maneira geral, as tecnologias disponíveis para a produção de arroz parecem estar bem difundidas entre os produtores e foram fundamentais para incrementar a produtividade das lavouras de arroz, nos últimos anos. No entanto, apesar de ter evoluído bastante, o setor não está livre de um dos grandes desafios do agronegócio brasileiro, garantir rentabilidade na produção.

É fundamental utilizar as melhores e mais modernas tecnologias no campo para extrair o máximo rendimento das lavouras, mas é preciso pensar também em alternativas para que os a atividade traga resultados financeiros de forma efetiva.

Na atividade orizícola, assim como em outros setores do agronegócio, um aspecto que não pode ser esquecido pelo setor produtivo é a estrutura de gestão que vai garantir rentabilidade para o negócio. Nesse contexto, custos e fluxo de caixa são dois indicadores que devem chamar a atenção dos produtores. Rever – para baixo – os custos é uma tarefa fundamental. E, muitas vezes, para reduzir os custos é necessário ter fluxo de caixa para conseguir diminuir as despesas financeiras com empréstimos de custeio da lavoura e aproveitar as oportunidades de compras de insumos em momentos de baixa nos preços.

Adotar tecnologia no campo alinhada com uma estratégia de gestão é a receita para que a atividade agrícola no país cresça de forma sustentável, garantindo retorno para todos os envolvidos na cadeia de valor. Para o arroz, não é diferente. A combinação de tecnologia e gestão é o caminho para que a atividade continue desempenhando o seu importante papel econômico e social de abastecer diariamente a mesa dos brasileiros.

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